História de vida de Helga Milina Ghrös

20/09/2019

 

Nome: Helga Milina Ghrös

Participação na IECLB: Desde o Batismo

Comunidade: Água Boa/MT

Sínodo: Mato Grosso

 

“No fim, não importa quantas vezes você caiu, mas sim, quantas vezes se colocou de pé depois da queda”.

Esta é a minha caminhada na OASE e Comunidade Luterana desde o Rio Grande do Sul até os tempos atuais em Mato Grosso.

Eu iniciei minha caminhada na OASE numa pequena comunidade chamada Esquina Gaúcha, que pertencia para Tenente Portela, na época em que Norberto Schwantes era Pastor na Paróquia. Uma vez por mês, ele e a Gertrudes, sua esposa, vinham para realizar os encontros da OASE. Fui convidada a participar dos encontros por uma amiga mais idosa, ela passava em frente de casa e me chamava para ir junto. Dizia para me aprontar que me esperaria. E assim, fui junto com ela muitas vezes. Nos dias em que o pastor não vinha para o encontro, senhoras eram responsáveis por fazer o encontro. Davam orientações sobre a vida em comunidade, liam e interpretavam passagens bíblicas e mensagens. Lembro que ficava muito emocionada, pois não tinha nenhuma experiência. Assim, com alegria e fé fui dando os primeiros passos nessa caminhada.

Com o surgimento da Coopercol- Cooperativa de Colonização – no Mato Grosso, muitas famílias se transferiram para Canarana. Meu marido era associado da Cooperativa, mas decidimos não ir, pois tínhamos medo e os recursos eram poucos. Vendemos, então, nossas terras e nos mudamos para São Pedro, outra comunidade do município de Tenente Portela. Fomos cultivar as terras do meu pai. Em São Pedro, comecei a participar mais ativamente dos encontros da OASE, com o pastor Osvaldo Jähn. E assim, fui ganhando experiência no grupo e vivência na fé.

Um dia, fomos convidadas para assistir uma palestra da Dorothéa Seydel, em Tenente Portela Ela ministrou toda a palestra em língua alemã. Ela era coordenadora da OASE, chamavam-na de “Frau Seydel”. Eu fiquei muito impressionada com o seu conhecimento bíblico o qual ia mesclando com assuntos por ela trabalhados. A palestra serviu-me de inspiração e estímulo, deixando-me cada vez mais entusiasmada com a minha caminhada na OASE.

Em 31 de Julho de 1975 nos mudamos para Água Boa I, no Mato Grosso, nas mesmas condições do Projeto Canarana. Nosso sonho ainda continuava. A sociedade com minha irmã e cunhado possibilitou a compra de 400 ha de terra. Éramos agora, 09 famílias acampadas em Água Boa. Acampamos por meses nos arredores de onde estavam sendo traçadas as ruas e avenidas da cidade. Eu e as crianças ficávamos na vila e os homens iam derrubar cerrado, preparando a terra para o plantio, pois o financiamento e a compra de maquinários já estavam tudo encaminhado. Nesse ano, as crianças ficaram sem aulas. Os cultos eram com o P. Hildor Reinke. Em seu primeiro culto, no mês de agosto, nos reunimos na casa do Sr. Arnildo Lorenz. Ele iniciou o culto falando: “Onde dois ou três estiverem reunidos, ali estarei.” Foi emocionante porque, mesmo não tendo igreja (templo), a palavra foi pregada e nos sentíamos alegres por estar novamente reunidos como comunidade luterana.

O Pastor Hildor Reinke, o qual atendia as famílias migrantes na grande região de Barra do Garças, em suas andanças, sempre chegava lá em casa. Em setembro, tivemos a visita do missionário Alcides Jucksch. Trouxe slides mostrando o trabalho das abelhas para refletir com nós que, enquanto comunidade, também deveríamos nos unir em nossas necessidades, alegrias e trabalho. 

No natal, eu já estava morando na fazenda. Plantava horta, fazia pão no forno de cupim, tirava leite, criava galinhas, porcos. Demais alimentos comprávamos em Canarana e Barra do Garças.

Em 1º de Abril de 1976, a Igreja enviou um catequista para nós, o professor Lauro Feldmann. Ele atendia todas as atividades religiosas da comunidade e era também o professor. Sob sua orientação e apoio do Pastor Reinke fundamos a OASE em Água Boa.

No dia 29 de agosto de 1976, após o culto, foi combinado uma reunião para dar um início às atividades da OASE. A reunião aconteceu no dia 4 de setembro, às 15 horas, na Escola Municipal 1° de abril onde reunimos as senhoras evangélicas, dentre as quais, compareceram: Elly Haag Wagner, Ernilda Allebrandt Muller, Helga Milina Gröhs, Lori Ilka Baldos, Dolores Muller, Benildes Maria Simon Pommer, Noeli Müller e ainda as senhoritas Marli Grohs e Nilve Marli Muller. A meditação foi baseada em Lucas 10.38-42. sobre Marta e Maria.

As reuniões eram nas casas de famílias, ou aos sábados a tarde, na escola. Em reunião da OASE, no dia 7 de junho de 1977, na casa da senhora Irma Maria Uebel, elegemos a primeira Diretoria da OASE: Presidente: Irma Maria Uebel; vice-presidente: Maria Dulce Lorens ; secretária: Zenaide Lorens Klein, vice-secretária: Ernilda Allebrand Muller Tesoureira: Helga Milina Grohs, vice-tesoureira: Elzira Grelmann. D. Irma sempre abria sua casa para receber as reuniões. Nos encontros, aos sábados, líamos a bíblia, cantávamos muito, estudávamos, conversávamos sobre tudo o que acontecia no lugar. Nas quartas- feiras à noite, usávamos os livros de evangelização para ensaios de cantos.

Em janeiro de 1978 eu e meu marido fomos à Tenente Portela visitar parentes e amigos. Lá ainda, no dia 12 de fevereiro, recebemos a notícia da morte de minha filha Cledi, em Água Boa. No outro dia, um avião foi nos buscar. Ela tinha um problema de coração e teve um enfarte. Em quatro horas ela estava em Barra do Garças, ao dar entrada no hospital, faleceu. 

Cinco meses após, no dia 25 de junho de 1978 nós fomos em uma festa, na localidade de Serra Dourada, para a inauguração da escola e para assistir jogos de futebol entre Água Boa e Canarana.

À tarde, quando voltávamos, chegando em Água Boa, sofremos um acidente. No acidente faleceram meu marido, Antônio Gröhs e dois filhos, o Nilvo e o Elton. Eu estava gravemente ferida e fui internada no hospital Maria Auxiliadora em Barra do Garças, a 240km de Água Boa. Fiquei 13 dias internada. Ao receber alta, a Sra. Edite Schwantes levou-me para sua casa e lá eu fiquei até poder voltar novamente, aproveitando uma carona no avião da Conagro. Enquanto estava acamada sempre pedia a Deus para não morrer, porque não podia deixar o restante da família desamparada. Isso me deu forças para lutar e enfrentar o que eu ainda tinha pela frente.

Conosco, na época, morava o catequista Valdir Bruno Neuhaus, do qual recebi apoio. Foi um período de luta, sofrimento. O apoio de muitas pessoas amigas da família e da comunidade foi igualmente importante.

Foi preciso coragem e determinação para assumir as funções do meu falecido marido. Aprendi a lidar com o inventário, com os negócios no Banco, na administração da fazenda. A Coopercana sempre foi um apoio e me orientava nas questões financeiras.

Após cinco meses, quando o Pavilhão Comunitário – luteranos e católicos - ficou pronto, assumi atividades na Igreja. Lá tínhamos um espaço para guardar os pertences da OASE. Em 1982, o pastor Uwe Kliewer, que atendia Canarana, passou a nos assessorar duas vezes ao mês. Vinha na sexta- feira a tarde para reuniões da OASE, Ensino Confirmatório e no domingo para o Culto.

Água Boa se tornou paróquia em 1983. Nosso primeiro ministro foi o Pastor Roberto Jorge Schmidt. Sua esposa Rosane Doralice era professora. Nessa época, eu morava sozinha na fazenda e participava das reuniões da OASE. Rosane muito me incentivou para refazer a vida de forma que em 11 de novembro de 1984, casei-me com Hugo Guntzel. 

No dia 19 de Outubro de 1985 fizemos o Primeiro Encontro Setorial da OASE, entre as Paróquias de Água Boa e Canarana. Foi muito bonito nós, aqui em Mato Grosso, ter a oportunidade de nos reunirmos como OASE por setor.

No mês de novembro, Rosane convidou-me para participar, em Curitiba, num encontro da OASE Nacional. Começaram os preparativos. Viajei com a empresa Medianeira. Meus sobrinhos me esperaram na entrada de Francisco Beltrão/ PR. No sábado, levaram-me na rodoviária e fui a Curitiba. Fui acolhida pela família Schmidt que me encaminhou para o Lar Rogate. A noite, na apresentação, conheci outra representante das novas áreas de colonização, a Sra. Helga Klein, de Cuiabá. Nós duas falamos sobre o que estava acontecendo nos grupos de OASE nas Novas Áreas de Colonização. A Coordenadora Nacional era a Lilian Lengler. Tivemos palestras com Dorothea Wulfhorst e a Christa Berger debatendo sobre consumo e os valores morais da TV Globo e a novela Roque Santeiro. E nós, que nem repetidoras de sinal tínhamos! Pensei: TV só em Barra do Garças! “O que estou fazendo aqui?” Foi uma experiência maravilhosa poder participar desse encontro. Agradeci a Deus e a Rosane pela oportunidade.

Em janeiro recebi o Jornal Evangélico com fotos do encontro e uma foto pequena das duas representantes de Mato Grosso. Fui visitar os grupos de Serra Dourada e Canarana, com o pastor Kliewer e depois com o pastor Roberto, nas comunidades de Nova Xavantina e Barra do Garças.

Eu estava animada, mas não era fácil. Um dia encontrei o Pastor Hans Alfred Trein, na casa paroquial. Coloquei sobre as dificuldades e ele aconselhou-me a ir devagar, pois tínhamos muito para organizar. Botei os pés no chão. Mas não parei. Depois da transferência do Pastor Roberto Jorge Schmidt, de Água Boa, organizamos um encontro em Garapu - comunidade da paróquia de Canarana. Neste encontro as palestras foram conduzidas pela Hildi Grühn e por uma Psicóloga, tendo por base o Roteiro da OASE. Foi muito lindo o encontro. Choveu muito naquele dia. O grupo de Água Boa foi de carona na caçamba da camioneta do Sr. Kurt Schrader. Foram muitas mulheres e também crianças – uma aventura. O culto foi oficiado pela catequista Nilza Pommer. Tivemos muitos improvisos, mas onde a necessidade é grande Deus esta mais perto.

Para Água Boa nos foi enviado o Pastor Eterio Köhlert e sua esposa Diácona Telma Merinha Kramer. Época em que o setor Leste já contava com a nova paroquia de Vila Rica. Lá tivemos um encontro Setorial com a presença de mulheres do Projeto Querência – pertencente ao município de Canarana. Um Encontro setorial com boa participação, apesar das péssimas estradas. No ano seguinte, foi na comunidade de Querência.

Em 1992 ficamos sem ministro, mas todas as atividades continuavam. Com a vinda do Pastor André Müller e a esposa Katia, as atividades da comunidade e OASE tiveram novo ânimo. Todos os setores já tinham suas coordenadoras e atividades na Casa de Retiros, em Chapada dos Guimarães.

Mato Grosso recebeu muitas visitas de Coordenadoras em nível Nacional. Em 1989, tivemos a visita das senhoras Brunilde Matzbach e Celia Weiend para um Seminário de Lideranças com a participação de mulheres de Canarana ,Serra Dourada e Garapu. Fizemos encontros setoriais em todas as comunidades. Também tivemos a visita da Presidente Nacional da OASE, Sra. Dagmar Triska. No encontro dos 100 anos da OASE em Rio Claro/SP conseguimos lotar dois ônibus. Todas de colete verde. Éramos as “periquitas” do Sínodo Mato Grosso. D. Gudrun Braun conseguiu alojamentos para nos acomodar em Ginásio de Esportes. Ela também veio até Vila Rica participar de um Encontro Setorial e conheceu nossa realidade. Também contamos com o palestrante Pastor Ingo Wulfhorst , trabalhando sobre o tema “ luto”.

Em 2000, tivemos novamente a transferência de ministro ficando conosco a Pastora Andrea Mühlhäusser. Nesse tempo, fui eleita coordenadora paroquial da OASE. 

Em agosto, nos dias 24 a 26/2001 aconteceu XVI Encontro do Setor leste juntamente com os 25 anos de fundação da OASE de Água Boa. Como nosso pavilhão estava sem condições de ser usado, fizemos nosso encontro na casa do Idoso e na creche municipal. As palestras foram proferidas por uma assistente social de Cuiabá e a Sra. Rosane Schmidt. O tema da palestra foi “Relações na família e com a família de fé”. Em fevereiro de 2003 iniciamos a Amiga Secreta da Oração, a ser revelada no último encontro do ano.

Nos dias 19 a 21 de outubro tivemos o 1º Encontro Sinodal da OASE, em Chapada dos Guimaraes. Nova transferência pastoral no final de março de 2003. Em julho recebemos o pastor Fernando Wöhl e a esposa Ingrid. Em dezembro de 2004 fui eleita presidente da OASE e assim fui seguindo a minha caminhada.

Nos dias 26 a 28 de Agosto/ 2005 tivemos o nosso 20º Encontro Setorial da OASE, em Agua Boa. O tema do encontro: Como vai a tua saúde física, mental e espiritual? Conosco, a Sra. Chirlei Weber, presidente da OASE Sinodal. Um encontro de muita confraternização, alegria e animação. Com a vinda da Pastora Fabiana Appelt, na Semana Nacional da OASE, começamos a visitar e receber visitas de grupos de paróquias vizinhas.
Em nossas atividades diaconais fazemos cucas para arrecadar fundos para apoiar o Hospital do Câncer, Capelania Hospitalar, Pestalozzi...

De 29 a 31 de agosto/2014, no 28º Encontro Setorial da OASE, em Água Boa, num encontro em que hospedamos 72 senhoras do setor leste, estiveram presentes as ministras Fabiane Appelt, a palestrante Pastora Eveline de Primavera do Leste, o Pastor Sinodal Nilo Christmann e o pastor Deolindo Feltz, da Capelania Hospitalar - Cuiabá, também o PPHM Valmiré Littig.

Em maio de 2015 faleceu a minha filha Marli Marmet. Tem horas que agente perde o chão, mas a vida continua. Em 22 de junho 2016 faleceu meu marido Hugo Guntzel. Foram muitas perdas familiares. Entretanto, a fé em Deus sempre foi o firme ancoradouro para o enfrentamento nas horas de dor e sofrimento. Aprendi que nós por nós mesmos não mudamos nada. O abraço de Deus que sempre me acalentou e me deu forças, foram os braços, mãos e pés das pessoas com as quais convivia. A elas toda minha gratidão!

Finalizo este relato agradecendo a Deus pela proteção e apoio nestes 43 anos de Água Boa e o cuidado nas horas difíceis.

Aos ministros/as e seus cônjuges que nos acompanharam em todos estes anos. Nossa eterna gratidão por cada momento de consolo, ânimo, esperança, cuidado, orações e alegrias.

Ao Sr. Lauro Feldmann, nosso amigo, professor e catequista desde o início de fundação de Água Boa, nosso eterno agradecimento.


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