História de vida de Gertraude Bull

14/06/2016

Nome: Gertraude Bull
Tempo de participação na IECLB: Desde o batismo
Comunidade: Martin Luther
Paróquia: Centro de São Paulo – SP
Sínodo: Sudeste

O que move muitas mulheres hoje é a ânsia por liberdade e independência. Buscam o potencial que sabem estar dentro de si. Querem descobrir suas aptidões a partir de suas próprias forças e capacidades. Quando reconhecem e são reconhecidas em seu valor feminino, isso lhes dá prazer e uma leveza por ser mulher. Em homenagem às mulheres batalhadoras, vamos contar a história de vida de Gertraude Bull.

Gertraude Bull é filha de Neuzina Stange e Günter Bull. Nasceu no dia 04 de fevereiro de 1969, em São Luís, Santa Leopoldina, hoje Santa Maria de Jetibá, Espírito Santo. Foi batizada no dia 09 de março de 1969, em Santa Maria de Jetibá, pelo pastor Hans Miertschink. A confirmação foi no dia 22 de março de 1983, na comunidade Martin Luther, Paróquia Centro de São Paulo. O pastor Murl Eugene Foehringer a celebrou. Segundo Neuzina, sua mãe, Gertraude foi uma criança tranquila e começou a trabalhar muito cedo, com a preocupação de que tinha que ajudar a família.

Por causa do emprego do pai, a família se mudou de Santa Maria de Jetibá para a Grande Vitória. Não ficaram muito tempo. Como havia oferta de emprego e casa para morar, a família se mudou para São Paulo. Ali moraram por dez anos, e novamente retornaram para a Grande Vitória. O pai passou a trabalhar por conta própria na região da Serra (ES) como motorista, fazendo fretes, mas infelizmente faleceu em um acidente atuando com o seu próprio veículo de trabalho. Passado algum tempo, Gertraude retornou para São Paulo. Pouco depois, sua irmã mais nova veio também. Era preciso trabalhar para sobreviver. Assim, Gertraude passou a morar na casa de seus tios e, em troca da estada e pouca remuneração, começou a cuidar de dois primos pequenos. Isso durante quatro anos. Mas não era o que ela queria. Foi trabalhar em uma rede de supermercados muito grande. Prestou serviços lá por 11 anos, iniciando como operadora de caixa, depois, fiscal de caixa e, em seguida, encarregada de frente de caixa. Seus chefes queriam que ela fizesse um estágio para gerente. Gertraude não aceitou. Houve uma reestruturação de cargos e salários, e, por isso, ela foi dispensada.

Enquanto trabalhava no supermercado, ela foi acalentando um sonho que tinha de ter um negócio próprio. Assim, foi se preparando e economizando para esse fim. Depois de dispensada, trabalhou como motorista particular para uma pessoa que tinha uma Van escolar. Enquanto recebia o seguro-desemprego e por ter guardado o Fundo de Garantia, economizou e aproveitou para comprar sua própria Van. Começou a trabalhar com transporte escolar, levando e buscando crianças e adolescentes.

Logo ela notou que esse tipo de trabalho não era fácil devido à grande concorrência. O retorno do capital investido seria muito demorado, e ela tinha pressa. Mesmo assim, tentou por três anos.

Um dia, dirigindo seu veículo, desmotivada, pensando na vida e observando os carros que passavam, aconteceu algo que fez seu coração bater mais forte. Ficou encantada! Viu uma mulher dirigindo um ônibus. Isso não era comum na época. Observou que atrás do ônibus havia o número 0800 (atendimento ao cliente). A partir daí, ligou, conseguiu o número da empresa, entrou em contato e ficou sabendo que estavam contratando motoristas. A telefonista pediu que fosse até a empresa e levasse consigo o seu currículo. Antes dessa empresa chamá-la, ligou para outras empresas, mas sem êxito.

Era um momento de mudança de vida: partir para algo novo e que era seu sonho profissional. Ela disse que conversava muito com Deus, pedindo ajuda. Tem certeza de que a mão de Deus sempre a conduziu.

No dia da entrevista e teste, como candidata ao emprego, ela era a única mulher, concorrendo com oito homens. Não era comum uma mulher dirigir ônibus, isso era considerado coisa de homem. O nervosismo foi muito grande. Não tinha experiência comprovada em carteira, nem experiência prática com micro-ônibus e ônibus-padrão, veículos com os quais a empresa trabalha. Além disso, já tinha feito teste numa empresa de turismo e sido reprovada. Até a hora da entrevista foi tudo bem, mas o teste com ônibus foi apenas razoável, pois ela não mostrou muita habilidade. Destaque: quem avaliou a performance dos testes dos candidatos foi uma mulher, antiga funcionária da empresa, que de motorista passara a instrutora. Conforme Gertraude, a mão de Deus estava sobre ela. A instrutora sugeriu que Gertraude fizesse um treinamento com ela por três dias, pois achava que ela tinha potencial, apenas o nervosismo atrapalhara. Ela fez o treinamento. Em seguida, foi informada que deveria aguardar e que a empresa entraria em contato. Depois de alguns dias, recebeu uma ligação da empresa, comunicando que ela tinha sido aprovada e que seria contratada.

Gertraude providenciou os documentos e logo começou a dirigir ônibus municipal. Não foi nada fácil. Ficou um mês na reserva. Cada dia ia para uma linha diferente, com ruas que eram vielas estreitas e sinistras; parecia que o ônibus atropelaria as casas, de tão estreitas que eram as ruas. Para conhecer as diferentes linhas, ela contava com a ajuda dos passageiros. Chegou a pagar lanche para alguém ensinar determinadas linhas. Depois desse sufoco, ela conseguiu se fixar numa linha intermunicipal, o que trouxe mais tranquilidade. Ficou na empresa por quase dois anos. Por incentivo de colegas que a ajudaram muito, enviou currículo para uma nova empresa. Após o segundo currículo enviado, foi chamada.

teste, novas emoções, novos medos, novas inseguranças... Ela confessou que estava cheia de medo, pois a mulher teria que estar à altura do homem. Não havia privilégio por ser mulher. Não teve nada facilitado. Tinha que dar conta. E ela foi aprovada no teste e posteriormente contratada.

Hoje ela está há quase oito anos na empresa, fazendo aquilo que sonhou para si no dia em que viu uma mulher motorista de ônibus. Dirige um ônibus superarticulado, onde cabem 200 pessoas, com exigência de carteira de habilitação na categoria E. Seu trajeto é a Linha Terminal Jabaquara, em São Paulo, até o Terminal Ferrazópolis, em São Bernardo do Campo, SP. Atualmente, ela conhece todas as linhas da Grande São Paulo.

A ouvidora da empresa, Maria do Rosário, disse que só ouve e recebe elogios a respeito do trabalho de Gertraude. Não falta, não apresenta atestados médicos, é muito prudente e dirige defensivamente. É competente e comprometida.

Quanto ao serviço para a comunidade, ela disse que tem pouco tempo disponível. Mas, quando era possível, transportava crianças da comunidade para passeios – isso quando tinha a Van. Se tivesse disponibilidade para participar de atividades na Igreja, cantaria no coral.

É muito importante fazer aquilo de que gosta. Gertraude se sente bem e realizada em sua profissão de motorista de ônibus na maior metrópole do Brasil. Lutou para conseguir, não desanimou na primeira tentativa. Sabe que para a mulher não é fácil conquistar seu espaço. Outros testes para outras empresas talvez venham. O medo e a insegurança com certeza estarão presentes. Mas ela já aprendeu muito. Aprendeu a confiar em Deus e em si mesma. E todo o aprendizado a ajudará a enfrentar novos desafios.

Que todas as mulheres, a exemplo de Gertraude, sintam-se encorajadas a confiar na sua intuição feminina e a mostrar sua força. Que todas mostrem seu potencial para encher o mundo de valores. E que se tornem cada vez mais humanas e amorosas.


(História de vida coletada por Adelia Lemke Graf)


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