História de vida de Gertha Hilda Bühler

Em comunhão com as viDas das mulheres

13/10/2014

 

Nome: Gertha Hilda Bühler

Tempo de participação na IECLB: Desde o Batismo

Comunidade: Trindade de Ivoti/RS

Paróquia: Trindade de Ivoti/RS

Sínodo: Sínodo Nordeste Gaúcho

 

“Enquanto eu posso, participo!” Esta expressão é de Gertha Hilda Bühler, membro da Comunidade Evangélica Trindade (IECLB) de Ivoti/RS. Com olhar atento, atravessa a rua indo em direção à igreja ou em direção ao epartamento de Diaconia de sua comunidade. Seus passos são ligeiros, considerando seus 88 anos de vida. No domingo de manhã, ela participa do culto. Não de todos, mas de quase todos. Alegra-se em dizer que gosta muito de cumprimentar as pessoas, tanto na hora que em chega, quanto na hora em que o culto termina. Numa certa oportunidade, alguém questionou sua atitude de fazer questão de cumprimentar as pessoas. Ela não se importou com o questionamento, pois pensa que só se é comunidade quando se cultiva a amizade.

Gertha, filha de Frida Fick Kern e de Albino Guilheme Kern, nasceu em Nova Vila (Ivoti) no dia 28 de fevereiro de 1926. Na época, a localidade pertencia ao município de São Leopoldo. Sua família era membro da Comunidade Evangélica de Picada 48 Baixa (hoje município de Lindolfo Collor), na qual foi batizada. O culto, na época, era celebrado de três em três semanas, talvez menos. Sua família costumava participar sempre dos cultos. Lembra que nesta época, durante o culto, os homens sentavam de um lado da igreja e as mulheres, do outro. Por isso, sempre que ia ao culto, sentava perto de sua mãe e de sua avó paterna, Carolina Koch Kern. Sua irmã Vilma também sentava ao lado delas. Seu avô, seu pai e seu irmão Anibaldo sentavam do outro lado. Conta que sua avó foi muito importante na sua formação religiosa. Com ela aprendeu que cada época litúrgica deve ser celebrada tanto em casa como na igreja. No tempo de Natal, por exemplo, além de ir à igreja, é necessário organizar a casa para lembrar o nascimento do menino Jesus, o Filho de Deus. Em certa ocasião, a mãe comprou um presépio. Ela explicou em língua alemã: “Este aqui é Jesus, deitado na manjedoura”. O pequeno presépio era colocado todos os anos debaixo do pinheirinho de Natal. No tempo de Páscoa e de Natal, toda a família sentia alegria em se deliciar com as bolachas feitas, em formato de coração, pela mãe, pela avó, por Gertha e sua irmã. Como parte da vivência religiosa, destaca também que na casa de seu pai e sua mãe havia um quarto de hóspedes. Nele, muitas vezes, pastores da comunidade, sempre que precisavam, ficavam hospedados. Essa situação também ocorreu depois que Gertha casou e foi morar em Ivoti. Em sua casa também acolhia os pastores, sempre que vinham para dar ensino confirmatório ou celebrar cultos.

Quando chegou a época de Gertha ir para a escola, foi morar em Ivoti com a sua avó materna, Luíza Fick (nascida Holler). Próximo da casa de sua família, em Nova Vila, havia uma escola católica, dirigida por freiras. Como havia uma compreensão de que crianças católicas deviam estudar em escolas católicas e crianças evangélicas, em escolas evangélicas, sua família não hesitou em encaminhá-la para ir morar na casa da avó materna, em Ivoti. Em Ivoti, havia uma escola mantida pela Comunidade Evangélica. Esta escola estava situada em frente ao local em que hoje está situado o Pavilhão Sião (antigo templo), a Secretaria e o Departamento de Diaconia da Comunidade Evangélica Trindade de Ivoti.

Enquanto estudava em Ivoti, famílias evangélicas, entre elas a sua, fundaram uma escola próximo de sua residência em Nova Vila. Quando a escola ficou pronta, voltou para casa. Gertha estudou três anos em Ivoti, dois anos em Nova Vila e um ano na Fundação Evangélica em Novo Hamburgo. Ao voltar para casa, ajudava sua mãe nos trabalhos domésticos e no trabalho na roça. Conta que em Novo Hamburgo, além de estudar matemática, geografia e português, cursou “Economia Doméstica”. Com a Schwester Lieselotte, responsável por esta disciplina, aprimorou a arte de cozinhar (até matavam porcos para isso). Havia também uma professora de costura e outra de bordados e outros trabalhos manuais. Tudo isso já tinha aprendido com sua mãe e com suas avós. Ressalta que anos mais tarde, quando foi levar sua filha para estudar na Fundação, Schwester Lieselotte se alegrou por reencontrá-la e por ela estar levando a filha para também estudar lá. Gertha se alegra porque tanto suas filhas quanto seu filho puderam estudaram e se formar.

Aos 18 anos, Gertha casou-se com Armínio Bühler (03/11/1919 + 24/07/1999). Da união, nasceram as filhas Nair (1946) e Noeli (1949) e o filho Gastão (1951). Logo que casaram, continuaram a residir em Nova Vila. Seu marido aprendeu com seu pai e seus tios a trabalhar no curtume. Depois de um ano, seu marido e um outro sócio fundaram um curtume em Ivoti. Quando se mudou para Ivoti, sua mãe chorou, pois “Eu era o braço direito dela”, afirma a narradora. Conforme Gertha: “O trabalho no curtume era trabalho para homem. Eu continuei a trabalhar em casa, na roça e na costura (para a família)”. Atualmente sua filha Nair administra o curtume, do qual também é sócia. Uma de suas alegrias é saber que hoje a água usada no curtume volta para a natureza totalmente limpa.

Em Ivoti, continuou a participar da vida da igreja. Lembra que, desde o início, começou a participar das reuniões da OASE. Foi na OASE que Gertha aprendeu a ler a Bíblia. Nesta época, inclusive, o pastor incentivou que cada uma olhasse na certidão de confirmação e de casamento qual o era o versículo escolhido para orientar a sua vida de fé. Tanto o de confirmação quanto o de casamento, Gertha sabe hoje praticamente de cor. Seu versículo de confirmação é: “E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (João 17.3). Ressalta que, no tempo do Ensino Confirmatório, a ênfase era decorar os mandamentos, o Credo, alguns hinos, entre eles “So nimm denn meine Hände”. O Salmo 119.5, “Lâmpada para os meus pés é a tua palavra e luz para os meus caminhos”, é o versículo que consta na certidão de seu casamento. Estas palavras bíblicas lhe ajudaram a ser perseverante no trabalho comunitário e no testemunho de fé. A leitura bíblica e de outros materiais continua a fazer parte de sua vida de fé.

Uma das atividades que ela e seu marido ajudaram, por muitos anos, a realizar na Comunidade Evangélica de Ivoti foram as quermesses. No sábado, eram feitas as cucas e carneadas as galinhas (os homens as matavam e as mulheres faziam o resto). O churrasco era servido no domingo. Lembra que, em certa ocasião, vieram poucas pessoas ajudar. O presidente da comunidade ficou desanimado. Ela disse: “Não fique triste. Até o sol se pôr, tudo estará pronto”. E de fato estava. As quermesses eram realizadas principalmente para arrecadar recursos para manter a escola da comunidade. Posteriormente, no início da década de 60, não mediram esforços para viabilizar a vinda da Escola Normal Evangélica do município de São Leopoldo para Ivoti. Gertha e seu esposo, juntamente com outras lideranças da comunidade de Ivoti, contribuíram na reestruturação do local, chegando, inclusive, a construir um templo novo que pudesse acolher a comunidade escolar e a comunidade local. Entende que a parceria da comunidade local foi fundamental para que “esta escola da Igreja” (IECLB) pudesse se instalar em Ivoti. Quando perguntada sobre o que mais gosta na escola, diz, com brilho nos olhos: “O que eu mais gosto nesta escola é que é uma escola que sempre vai para a frente e que sempre se renova”. Sente alegria porque pessoas de sua família, pessoas da própria comunidade e de outros lugares têm a oportunidade de estudar nesta escola.

Com seus 88 anos, continua participando ativamente na vida da igreja. Seu ritmo de trabalho no Departamento de Diaconia e na OASE é intenso. Uma das coisas que gosta de fazer é preparar a linha (lã) para que as outras mulheres confeccionem blusões, meias, colchas, xales, enxoval de bebês, etc. Os fios, por ela agrupados, são distribuídos conforme as habilidades de suas parceiras. Umas sabem fazer melhor os blusões, outras meias, outras casaquinhos de bebês. Algumas ajudam a fazer “quadrados de crochê”, os quais serão por ela emendados, tornando-se lindas colchas ou mantas. Gertha sente-se feliz também em poder ensinar suas amigas a fazer tudo o que ela sabe. O empenho em fazer, a capacidade de ajudar a organizar o trabalho em grupo, seu compromisso em compartilhar seu conhecimento são contribuições, muitas vezes, invisíveis no trabalho da igreja. Mas quem recebe as doações ou quem compra para poder ajudar sabe o valor deste trabalho. Tudo o que é arrecadado é usado para manter o trabalho diaconal. Os enxovais de bebês e demais peças são doados a famílias que necessitam do auxílio e a instituições que desenvolvem trabalhos comunitários com crianças ou pessoas idosas.

A parceria e a amizade que une participantes da OASE e do Departamento de Diaconia, agregada a uma boa relação com demais os membros da comunidade, transforma tanto a vida de quem faz as peças artesanais quanto de quem as recebe. Lembra que um aspecto fundamental na vida comunitária é o respeito mútuo. Afirma: “Quando as pessoas se respeitam, os dons são valorizados e a comunidade cresce. Quando não há o respeito, muitas situações injustas podem acontecer. Quando posso, sempre procuro ajudar para que cada pessoa seja valorizada e, nos momentos em que há mal-entendidos, penso que tudo tem que ser resolvido com amor, com conversa franca e honesta”.

Para finalizar, pergunto: Está feliz em contar sua história? Gertha responde: “Eu estou feliz em poder contar a minha história. Me alegro com o que já fiz e o com que ainda posso fazer. Quero continuar contribuindo enquanto Deus me der força para continuar. Também me sinto muito feliz com a minha família. Cada um, cada uma, do seu jeito, cuida muito bem de mim. Se Deus me permitir, quero ter bastante tempo para abraçar minhas amigas, para testemunhar o amor com alegria e para seguir na vida de fé”.


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