História de vida de Anamaria Kovács

27/12/2017

 

Nome: Anamaria Kovács

Participação na IECLB: desde o Batismo

Comunidade: Blumenau Centro/SC.

Sínodo: Vale do Itajaí

 

Minha história com Deus começa muito antes da minha relação com a igreja. A responsável por esse início foi minha mãe, que me deu uma informação maravilhosa, quando eu estava com mais ou menos quatro anos de idade. Ela me contou que todos nós temos um Pai no Céu. Fiquei entusiasmada! Se o meu pai na Terra já era uma pessoa muito amada e admirada, como seria, então, esse outro Pai, infinitamente mais poderoso e amoroso?

Minha imaginação me “mostrou” esse Pai, um dia, quando eu me encontrava no pequeno gramado da casa onde morávamos, no Rio. Cheguei a “vê-lo”, e me lembro até hoje dessa visão: numa nuvem branca, pouco acima da minha cabeça, havia um trono dourado, e, sentado nele, um velhinho calvo (como meu pai), de olhos azuis, (como minha mãe), cabelos e longa barba bem branca, vestido com uma espécie de roupão branco de mangas largas e compridas, que sorria para mim e me estendia seus braços. Empolgada, fiquei na ponta dos pés e ergui os braços em sua direção. Senti uma alegria imensa, uma vontade de sair dançando mundo afora, enquanto meu coração se enchia de amor. Logo em seguida, tudo desapareceu, ficando apenas essas sensações, acrescidas de uma terceira, que eu não conseguia identificar.

Somente muitos anos depois, sempre intrigada com essa terceira sensação, que minha imaturidade não conseguia definir, acabei descobrindo o que era: paz. Essa experiência infantil, que só contei recentemente a um amigo que dividiu comigo algo semelhante, ocorrido com ele na idade adulta, acompanhou-me vida afora e foi determinante para muitas de minhas atitudes diante de desafios e problemas.

Minha família, isto é, meus pais e minha avó materna, que morava conosco, não frequentava a igreja. Havia dois motivos para isto: meu pai não era luterano, mas judeu, embora também não frequentasse a sinagoga. Quanto aos meus avós maternos, não havia condições para isso. Meu avô era mestre de obras, construía atracadouros para hidroaviões, fábricas, estradas, a maior parte disso fora do Rio de Janeiro. Minha avó ficava a maior parte sozinha em casa, criando os três meninos e duas meninas, sendo a mais nova delas a minha mãe. Moravam de aluguel, pois a família grande era difícil de sustentar, e minha avó não era uma pessoa religiosa. 

Todos os filhos foram batizados e confirmados, mas não se frequentava o culto. O pastor Hoeppfner (cujo primeiro nome não consegui descobrir) visitava a família de vez em quando – prática que hoje não existe mais, infelizmente – e conversava com minha avó enquanto tomava um café. 

No Natal e na Páscoa, nossa festa era feita em casa, com todas as tradições cristãs, menos a leitura da Bíblia, talvez em respeito à religião de meu pai. No entanto, ele participava ativamente, tocando os hinos de Natal ao piano, enquanto minha mãe, minha avó e eu cantávamos. Décadas depois, quando ele faleceu, em Blumenau, assumi o seu lugar ao piano, e minha mãe e eu fazíamos um “dueto”, já que também a voz de minha avó se calara.

Quando comecei a frequentar a escola, meus pais me matricularam no Colégio Cruzeiro, ligado à Fundação Humboldt e à Igreja Luterana. O colégio oferecia aulas extracurriculares de religião, luterana e católica, e fui matriculada nelas. Foi só então que tomei conhecimento das histórias bíblicas, contadas com maestria pelo diácono responsável pelas aulas. 

Aos treze anos, comecei, junto com meus colegas, a frequentar as aulas do ensino confirmatório. Elas eram ministradas por um pastor, nas dependências da igreja luterana do Centro do Rio de Janeiro. Naquela época, meados do século passado, havia, ao que eu saiba, apenas duas igrejas da nossa confissão na cidade, a do Centro e outra, onde nunca pisei, na Tijuca, bairro onde morávamos... 

Foi na primeira aula do ensino confirmatório que entrei pela primeira vez numa igreja luterana. Fiquei impressionada com a austeridade do ambiente e a beleza dos vitrais. O pastor Kräutlein nos comunicou que, a partir daquele dia, deveríamos frequentar o culto todos os domingos. Ninguém gostou: o que seria da praia? Então, combinamos que metade da turma iria ao culto num domingo, e a outra metade, no seguinte. Assim, unimos o útil e o agradável...

Quando dei a notícia em casa, minha mãe disse ao meu pai que ele não precisaria nos acompanhar – em respeito à sua religião. No entanto, ele disse: “por que não? Por que eu seria contra a religião da minha família? ” Assim, ele também passou a frequentar os cultos. Os caminhos de Deus são misteriosos... Começava ali a conversão de meu pai, que acabou pedindo para ser batizado muitos anos depois, aos 74 anos, nove meses antes de falecer.

Já na década de 1970, o Rio de Janeiro começava a tornar-se uma cidade perigosa. Meu pai, que lutava contra um câncer de bexiga (resultado de muitos anos de consumo de cigarros), decidiu que Blumenau seria um porto seguro para minha mãe e eu, quando ele deixasse este mundo. Muitos dos nossos parentes, do lado de minha mãe, moravam em Blumenau e imediações, e outros estavam espalhados pelo interior de Santa Catarina.

Demoramos um ano inteiro para tomar a decisão definitiva, vender o apartamento no Rio, onde moramos por vinte anos, e vir para Blumenau, onde uma prima de minha mãe descobrira a “casa ideal” para nós, no bairro da Velha, numa rua tranquila próxima à Igreja da Paz. Como resultado de um contato anterior com o diretor do então Curso de Letras da FURB, consegui começar, em março de 1977, a lecionar ali. 

Ao mesmo tempo, começamos a tomar parte nos cultos da Igreja da Paz, dirigida, na época, pelo pastor Alfred Creutzberg. Certo dia, meu pai perguntou à minha mãe: “se eu pedisse ao pastor para ele me batizar, você acha que ele faria ? ” Ela o encarou muito espantada, porque não se conversava sobre religião em nossa casa, mas atendeu ao seu pedido.

Assim começou uma grande amizade, dada a paixão de ambos, meu pai e o pastor Creutzberg, pela música. E durante essas visitas, depois de um ou dois prelúdios e fugas de Bach tocadas por meu pai, os dois se sentavam e conversavam sobre Deus. Meses depois, seguiu-se o batismo de meu pai, na sala de nossa casa, pois ele já estava bastante debilitado. Mesmo assim, foi-lhe concedido que participasse uma última vez de um culto em nossa igreja, como cristão batizado.

Algum tempo depois, o pastor Alfred foi substituído pelo pastor Nelso Weingärtner. E foi pouco antes disso que começou minha história pessoal com a Igreja Luterana. Fui convidada para trabalhar como correspondente do Jornal Evangélico, sediado em Porto Alegre, na antiga Região Eclesiástica II. Foi uma alegria muito grande para mim, poder finalmente servir ao Senhor através do talento que Ele me concedeu.

Durante cerca de dois anos, cobri eventos da nossa igreja em Santa Catarina, mas uma desavença entre a sede gaúcha e a Região Eclesiástica II levou ao meu pedido de demissão. Logo em seguida, os pastores Friedrich Gierus, Nelso Weingärtner , Meinrad Piske, Hugo Westphal e Bruno Gottwald me chamaram para participar da criação de um periódico da Região II – “O Caminho.” Como eles não tinham intimidade com a prática jornalística, pude passar-lhes a minha experiência e aprender com eles como funciona um jornal dirigido exclusivamente às comunidades luteranas. Durante três anos, guiei os primeiros passos desse periódico, e continuei sendo sua jornalista responsável por muitos anos mais.

Como também escrevo poemas e contos, acabei me tornando também colaboradora do Anuário Evangélico, atividade que ainda exerço, quando há espaço nesse periódico, que vem modernizando seu conteúdo a fim de atingir um público que lê cada vez menos. Colaborei também com o programa “Conversando com Você”, escrevendo, juntamente com outras senhoras, o texto que era lido diariamente na Rádio União. 

Tudo que apurei, redigi e editei nesses quase trinta anos me proporcionou um prazer enorme, um sentimento de gratidão a esse maravilhoso Pai Celestial, que me concedeu tão generosamente o dom com que pude servi-Lo e que, espero, ainda possa servir por muitos anos ainda.

Aspectos importantes na vida da comunidade: amor, solidariedade, respeito ao próximo, culto a Deus.

Coisas que poderiam ser diferentes: mais participação dos membros nas atividades da Igreja, mais contato entre as pessoas através de grupos de atividades. 

Anamaria Kovács; idade: 69 anos.
Profissão: Jornalista e professora aposentada; escritora.
Residência: Blumenau, Santa Catarina, Comunidade Blumenau Centro.
Dezembro/2017.


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