História de um Amigo

19/07/2010

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Hoje, ao atender o telefone, o meu mundo desabou. Entre soluços e lamentos, a voz do outro lado da linha me informava que o meu melhor amigo, meu companheiro de jornada, meu ombro camarada, havia sofrido um grave acidente, vindo a falecer quase que instantaneamente.

Lembro de ter desligado o telefone, e caminhado a passos lentos para o meu quarto. As imagens de minha juventude vieram quase que instantaneamente à mente. A faculdade, as conversas em volta do fogo até altas horas da noite, as confidências ao pé do ouvido, as colas, a cumplicidade, os sorrisos... Como eram fáceis de surgir naquela época. Lembrei da formatura, de um novo horizonte surgindo... das lágrimas e despedidas, e principalmente, das promessas de novos encontros. Lembro perfeitamente de cada feição do melhor amigo que já tive em toda a vida: em seus olhos a promessa de que eu nunca seria esquecido. E realmente, nunca fui. Perdi a conta das vezes em que ele carinhosamente me ligava quando eu estava no fundo do poço, ou das mensagens – que nunca respondi – que ele constantemente me enviava, enchendo minha caixa postal de esperanças e promessas de um futuro melhor.

Lembro que foi o seu rosto que vi quando acordei de uma cirurgia. Lembro que foi em seu ombro que chorei a perda do meu pai. Foi em seu ouvido que derramei as lamentações do namoro desfeito. Apesar do esforço para vasculhar minha mente, não consegui me lembrar de uma só vez em que tenha pego o telefone para ligar e dizer a ele o quanto era importante para mim contar com sua amizade.

Afinal, eu era uma pessoa muito ocupada. Eu não tinha tempo. Não me lembro de uma só vez em que me preocupei de procurar um texto edificante e enviar para ele, ou qualquer outro amigo, com o intuito de tornar o seu dia melhor. Eu não tinha tempo. Não me lembro de ter feito qualquer tipo de surpresa, a mais simples possível, como aparecer de repente com um coração aberto disposto a ouvir. Eu não tinha tempo. Não lembro de qualquer dia em que eu estivesse disposto a ouvir os seus problemas. Eu não tinha tempo. Acho que eu nunca sequer imaginei que ele tinha problemas. Só agora vejo com clareza o meu egoísmo.

TALVEZ – e este talvez vai me acompanhar eternamente – se eu tivesse saído de meu pedestal egocêntrico e prestado um pouco mais de atenção e despendido um pouco mais do meu sagrado tempo, meu grande amigo não teria bebido até não agüentar mais e não teria jogado sua vida fora ao perder controle de um carro que com certeza, não tinha a mínima condição de dirigir .

TALVEZ, ele, que sempre inundou o meu mundo com sua iluminada presença, estivesse se sentindo sozinho. Até mesmo as mensagens engraçadas que ele constantemente deixava em minha secretária eletrônica, poderiam ser seu jeito de pedir ajuda. Aquelas mesmas mensagens que simplesmente apaguei, jamais se apagarão da minha consciência. Estas indagações agora inundam meu ser. A minha falta de tempo me impediu de respondê-las.

Agora, lentamente escolho uma roupa preta – digno do meu estado de espírito – e pego o telefone. Aviso o meu chefe de que não irei trabalhar hoje – e quem sabe nem amanhã, nem depois... pois irei tirar o dia para homenagear com meu pranto a uma das pessoas que mais amei nesta vida. Ao desligar o telefone, com surpresa eu vejo, entre lágrimas e remorsos, de que para isto, para acompanhar durante um dia inteiro o seu corpo sem vida, eu TIVE TEMPO!

Queridos/as amigos/as que lêem esta reflexão, creio que tudo isto já aconteceu e acontece diariamente conosco. Os agitos, o trabalho, a família, o corre-corre de cada dia tiram de nós o que temos de mais precioso: o tempo. E muitas vezes, os atingidos por isto são nossos amigos e amizades.

Que a partir desta história, bastante triste por sinal, possamos tirar tempo para escrever cartões de aniversário lembrando às pessoas de como elas são importantes. Abrace seus amigos, sua família, as pessoas importantes de sua vida, traga palavras de conforto para as pessoas que precisam delas, faça uma oração, distribua sorrisos e abraços. Que o bondoso Deus lhe abençoe nestes gestos. E lembre-se: Para saber a quantidade de amigos que você tem, faça uma festa. Para saber a qualidade deles, fique doente (Autor desconhecido).

 

 

P. Charles Werlich – Pastor da IECLB na Área Missionária Leste de MG
– Extremo Sul da Bahia.


Autor(a): Charles Werlich
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 7570
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