Haruko nasceu em 1888, em Kobe, uma cidade japonesa a uns 500 km distante de Tokio. Ela passou sua infância numa casa bonita de praia. Aos quinze anos, sua vida mudou drasticamente. Seu pai, um comerciante, teve que vender a casa. Morando num apartamento, ela tinha que ajudar no sustento da família e conseguiu emprego numa editora cristã. Pelo seu trabalho bom e responsável, ela, aos vinte anos, já era supervisora de 20 funcionárias.
O dono da editora reunia seus empregados, de vez em quando, para um estudo bíblico ou para aprender hinos. Haruko gostava de cantar. O rapaz que cantava com os funcionários, chamava-se Kagawa. Quem era este Kagawa?
Toyohiko Kagawa tinha a mesma idade de Haruko. A infância não foi feliz, pois ele era um filho ilegítimo de uma família nobre, com cargos importantes na política. Aos 16 anos, ele decidiu trocar a fé dos pais pelo cristianismo. Isto o levou no colégio a alguns sofrimentos. Quando, aos 19 anos, passou por uma doença grave – os médicos não tinham mais esperança – , ele fez uma promessa a Deus: Servir aos pobres no bairro mais pobre de Kobe, chamado Shinkawa, onde viviam 11.000 pessoas nas piores condições. Quando Haruko o conheceu, ele estava vivendo numa maloca de quatro metros quadrados, normalmente dormindo junto com pessoas pobres ou criminosos. Para chamar a atenção dos políticos, ele, depois de um ano, escreveu um livro sobre o que vivenciou neste ano. O livro tinha o título “Do outro Lado da Morte”e tornou-se um dos mais vendidos na época. Graças ao dinheiro que entrou, ele tinha meios para ajudar os pobres.
Haruko, muitas vezes, após o horário de trabalho, lia nos livros da Editora. Quando encontrou um Novo Testamento, ela começou a ler, e o chamado de Deus a alcançou. Ela sentiu-se atraída pelo trabalho de Kagawa. Numa pregação que fez nas ruas, ela ficou sabendo que o chamavam de “Shinkawa San” (o Santo de Shinkawa). Durante alguns anos, ela, então, o ajudou até que resolveram casar, sabendo que iam viver na casa paroquial mais pobre do mundo, dividindo um pequeno espaço com muitas pessoas. Realmente, foi esta a vida que levaram durante vários anos.
Os dois notaram que lhes faltava instrução para empenhar-se melhor pela causa dos pobres. Por isso, Kagawa, de madrugada, antes das seis da manhã, dava aulas para Haruko. Quando ela, então, pôde inscrever-se na Escola Bíblica em Yokohama, ele aceitou um convite para estudar nos Estados Unidos. Ela, por falta de dinheiro, não pôde acompanhá-lo. Nos dois anos que seguiram, a comunidade de Shinkawa mostrou que já tinha capacidade de continuar sozinha no trabalho. Após a volta de Kagawa, ele e Haruko moraram e trabalharam mais dez anos em Shinkawa, até que Haruko ficou grávida. Nestes anos, Haruko, muitas vezes, ficava sozinha na maloca, na companhia de mães pobres com seus filhos e indivíduos duvidosos, porque Kagawa, cada vez mais, viajava para fazer campanhas em prol dos trabalhadores ou para trabalhar em cargos políticos o que, sempre, fazia sem remuneração. No final de sua estadia em Shinkawa, todos que moravam lá, conheciam o Evangelho e em muitas famílias a devoção diária era comum. Na capela da comunidade reuniam-se 70 a 80 pessoas nos cultos. Finalmente, o governo destinou dinheiro para o saneamento não só de Shinkawa, mas também de favelas em outras cinco cidades.
Para criar o filho num ambiente que não prejudicasse a sua saúde, os Kagawa mudaram-se para uma casa grande, num terreno com gramado e árvores. Para Haruko não faltava trabalho. Sempre tinha que cuidar não só do filho, - mais tarde de dois filhos homens e uma filha - , mas de uma “família” bem numerosa. Normalmente tinha dez a vinte pessoas na casa. Eram visitantes, estudantes, pessoas abandonadas ou em crise, que vinham morar com os Kagawa, às vezes só alguns dias, às vezes durante meses. Mas a casa sempre estava “lotada”. Às vezes, faltava o dinheiro necessário para a compra de alimentos. Kagawa ajudava sempre, onde via necessidade, às vezes gastando tudo que tinha. Haruko não reclamava, só confiava em Deus.
Em 1923, no ano em que o primeiro filho nasceu – Hakura considerou estes meses os meses mais felizes da sua vida – aconteceu o terrível terremoto que abalou Tokio de tal maneira que cem mil pessoas morreram e três quartos da cidade ficaram destruídos. Kobe não sofreu nada no terremoto. Chamaram Kagawa, para fazer parte da comissão de socorro. E Hakura, com o nenê nas costas, caminhava pelas ruas de Kobe, juntando alimentos e roupas para os flagelados de Tokio.
Quando os filhos já estavam maiores, em 1937, iniciou-se mais um período muito difícil para Hakura. O Japão mandou suas tropas para a China. Kagawa, que sempre foi pacifista, era contra a guerra. Isto não agradou às autoridades e, para não ser preso, tinha que esconder-se. Durante muito tempo, Hakura não sabia nada dele. Em 1941, quando as bombas atômicas destruíram Hiroshima e Nagasaki, a guerra chegou ao seu fim. Kagawa voltou, muito cansado, para casa, mas não podia descansar. Logo foi chamado pelas autoridades – japonesas e americanas – para ajudar na reconstrução do seu país.
Para o povo japonês, este final de guerra foi muito triste, não só pelas perdas de habitantes e de bens materiais. Não conseguiram entender que seus deuses deixaram acontecer isso. Kagawa, novamente, viajou muito para levar a boa nova de um Deus vivo, que veio em Jesus para os mais diversos lugares.
Haruko tinha orgulho dos seus filhos. O mais velho é músico de igreja, o segundo filho é colaborador do pai e a filha, médica para os pobres.
Haruko e Kagawa consideravam o seu matrimônio muito feliz. Ambos sentiram que era dos planos de Deus que podiam, juntos, trabalhar no seu Reino. Para Haruko, valia a palavra: “A esposa dum pregador é capaz de duplicar, ou dividir pelo meio o seu trabalho. Haruko, realmente, duplicava o seu trabalho.