Água imprópria

Artigo

30/01/2004


Vivemos o verão de 2004. Em Joinville, se registram chuvas insistentes, provocando um calor úmido sob a influência dos raios do sol tropical. O céu claro e azul se perde na imensidão do horizonte e alterna-se com as nuvens cinzentas que se estendem sobre as encostas da serra do Mar..

Turistas, viajantes, indo e vindo, de longe e de perto, acalentando sonhos, aqueles que se tornam realidade em meio às expectativas que se esvaem como a água que tentamos segurar na palma da mão. Verão é tempo de fazer novas amizades, promover encontros de congraçamento, fortalecer laços entre familiares e parentes. É tempo de festa, de celebrar a alegria, viver o ócio, devolver harmonia ao corpo humano.

O mês de janeiro também tem oferecido a nós comunhão familiar, um excelente espaço ao descanso, oportunizando lazer, promovendo equilíbrio de relacionamentos, servindo também de fonte para reabastecimento de novas forças e inspiração ao trabalho.

À semelhança de anos anteriores, um de nossos destinos neste período privilegiado de férias tem sido a baía de Porto Belo. Lugar bonito, atração para milhares de pessoas. A cada ano, tenho observado mudanças naquele espaço do litoral catarinense. São muitas as mudanças: boas, interessantes, belíssimos visuais ao lado de outras para pior. Descubro a cada novo ano que a bela praia de Perequê não tem escapado da sujeira que se acumula nas ruas, do mau cheiro no ar e, sobretudo, não tem escapado da poluição de suas águas. Há despejos do esgoto que se infiltram clandestinamente nas areias e nas águas ou a céu aberto, através dos rios que emolduram a faixa de areia. Inevitável se torna a colocação das placas indicando a qualidade da água como imprópria ao banho.

Em meio a essa realidade, o Evangelho de Jesus Cristo, fonte inspiradora ao testemunho em palavras e ações da grande família cristã, nos faz sonhar um novo sonho. Um autor brasileiro define os sonhos identificando-os como as estrelas inatingíveis, mas sem elas os navegadores estariam perdidos. Afirma esse mesmo poeta que são as coisas invisíveis, fora do alcance e do mérito humanos e que aparentemente não existem, que dão coloração especial à vida humana.

Antes de qualquer profissão, fomos chamados por Deus, o Criador, a sermos jardineiros. O mundo é o grande jardim de Deus! Deus ama os jardins. Criou o mundo como se fosse um enorme jardim. Nele, plantou árvores, flores, colocou os bichos, os pássaros para voar, criou as fontes, fez as águas correrem. Foi nesse espaço que o Criador colocou o ser humano, homem e mulher, para que o guardassem e cultivassem com sabedoria. No fim da obra da criação, o Senhor Deus aprovou tudo o que tinha feito e viu que tudo era bom, muito bom.

O mundo foi criado para ser lugar bom e nobre, para todas as pessoas e demais criações. Por isso, a água imprópria de Perequê e de tantos outros lugares contradiz o mundo na qualidade de belo jardim de Deus. As águas impróprias de nossas praias, a sujeira nas ruas, o mau cheiro no ar, por um lado, motivam o protesto e a insatisfação. Por outro lado, motivam o empenho coletivo para preservar e, se necessário for, transformar o mundo, nossa casa universal, num grande jardim.

Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville - SC

Jornal ANotícia - 30/01/2004

 

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