“O Senhor disse a Paulo: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza”
(2 coríntios 12.9).
Antes de suas descobertas, que culminaram na Reforma, Martim Lutero via a Bíblia como um livro de exigências e a entendia num tom acusatório. Ao ler que “o justo viverá por fé” (Romanos 1.17), Lutero percebeu a possibilidade de poder confiar em Deus, que nos acolhe e nos ampara muito antes do cumprimento de qualquer exigência de nossa parte. Somos filhos do Deus da compaixão. O que Deus exige de nós somente é possível a partir daquilo que ele nos concede por meio de sua maravilhosa graça. Isto foi libertador para Lutero e continua sendo libertador para nós. Deus não exige de nós o que ele antes não tenha oferecido em abundância: O seu infinito amor, revelado e vivenciado por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.
Livres dessa angustiosa busca de “justificação pelo nosso próprio esforço ou merecimento”, tornamo-nos verdadeiramente disponíveis para aquilo que Deus nos chamou e enviou: Anunciar ao mundo que ele nos ama. Neste contexto, podemos compreender o sentido das palavras bíblicas: “Nós amamos, porque Deus nos amou primeiro” (1 João 4.19); “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22.37-39).
Em 1520, Lutero publicou o livro “Das Boas Obras” (hoje conhecido como “Ética Cristã”). Nele, o Reformador aponta para as Sagradas Escrituras, nas quais o cristão encontra as orientações e os exemplos de Cristo. Com eles aprende a agir. O “carro-chefe” das boas obras cristãs é o amor, pois parte da graciosa libertação oferecida por Deus e visa ao bem do próximo (Graça e Ética). Na interpretação dos dez mandamentos, Lutero aborda temas bem concretos: Realidade do matrimônio e da família, a lida do marido ou da esposa com cônjuge enfermo ou incapaz, prática da cobrança de juros, obediência ou desobediência civil, envio das crianças à escola e a necessidade da manutenção desta pelos governos, uso de armas no serviço militar, entre outros. Percebe-se uma profunda preocupação do Reformador pela integridade do ser humano e pela boa e justa convivência social a partir do amor divino.
Por isso, Lutero escreveu no livro citado que as obras humanas somente serão boas quando estiverem fundamentadas sobre dois princípios: A fé e o amor. Pela fé, o cristão serve a Deus alegre e espontaneamente, age na confiança na graça de Deus. Em resposta à graça de Deus, o cristão pratica as boas obras de amor. Em Mateus 19.16ss. alguém perguntou a Jesus o que deveria fazer para conseguir a vida eterna. Jesus respondeu: “Você conhece os dez mandamentos? Pratique-os fundamentado na fé (confiança na maravilhosa graça de Deus) e no amor (querer o bem do próximo)!”
“As obras boas e piedosas jamais tornam a pessoa boa e justa, mas a pessoa boa e justa realiza obras boas e piedosas. Uma árvore que produz bons frutos é saudável, não por causa dos frutos, mas os frutos é que são bons por causa da árvore.” (Lutero)