O 498º aniversário da Reforma protestante se completou dia 31 de outubro. Entrementes o dia de Finados também já passou. Aliás, estas duas datas têm algo em comum? Uma fala de vida e o outra de morte? Afinal há alguma ligação entre ambas?
Pensando bem, todas as datas importantes da Igreja Cristã estão interligadas. Não podemos valorizar demasiadamente o Natal, esquecendo a Páscoa, a Ascensão ou Pentecostes. Cada uma tem seu valor próprio dentro da fé cristã, mas não de forma isolada.
Martim Lutero, com sua descoberta evangélica de que o Justo Viverá por fé (Rm 1.17), queria conduzir a Igreja de volta para Cristo. A luta toda foi para colocar Cristo, Escrituras, Graça no centro de uma vida de fé marcada pela ignorância evangélica do povo daquela época. Com essa ação, Lutero denunciou a manipulação das consciências do povo simples por parte do clero. Poderíamos dizer que Lutero quis trazer vida a uma igreja que se desviava do seu centro: Jesus Cristo.
No dia de Finados lembramos de pessoas queridas que nos antecederam na morte e que estão bem guardadas nas mãos de Deus. Mas a pergunta continua: é dia de falar de morte ou de vida? Estamos indo a mais um enterro no dia de Finados?
O Apóstolo Paulo escreve em 1Co 15.19: Se a nossa esperança em Cristo se limita a esta vida, somos os mais infelizes de todos os seres humanos. No dia de Finados, portanto, não vamos a mais um enterro, mas lembrados e confrontados com a finitude de nossa vida. É dia para sermos confrontados com o inevitável fim da vida de todas as pessoas indistintamente. Falar de morte ou levar em consideração a possibilidade do fim da vida humana é algo fora de moda e assunto inoportuno para muitas pessoas. Quanto mais pudermos poupar os filhos e as filhas do contato com a morte melhor, alguns pais ensinam e defendem. Nada mais enganador, queridos e queridas leitoras, do que esta atitude. O fato é muito simples: todos nós vamos morrer. Logo, é assunto que sempre deve estar na pauta de nossas conversas com filhos e filhas e entre adultos.
Tenho uma suspeita. A grande quantidade de acidentes, exageros na ingestão de bebida alcoólica, falta de limites, conduta irresponsável no trânsito, tem suas raízes, em boa medida, na falta de confronto do ser humano com a fragilidade e a finitude da vida. Precisamos aprender e ensinar que a vida tem limites e é frágil, está em vasos de barro.
Finados é dia de lembrar de quem já partiu deste mundo, sim. Esta data requer uma reflexão profunda sobre o sentido da vida neste mundo. Perguntar seriamente sobre o sentido de uma vida explorada e o juízo de Deus sobre os opressores. É dia de lutar para superar os sinais de morte presentes em nosso mundo e sociedade. Foi para que tivéssemos vida em abundância que Cristo morreu. A enganação, a mentira, as injustiças, as falcatruas de políticos e pais de famílias e demais atitudes que fazem outros sofrer não têm sentido depois da morte de Cristo. Tudo isso foi superado com a morte vicária do Filho de Deus. Assim sendo, finados é dia de superamos os sinais de morte que nós, com nossos egoísmos e individualismos, impomos a nós mesmos e aos outros, trazendo sofrimento e mortes prematuras.
Nada de cruzar os braços diante de doenças, sofrimentos e morte. É momento de colocarmos sinais de vida por meio de hábitos saudáveis, alimentação livre de agrotóxicos e mais naturais, consumo consciente de alimentos industrializados quando não podemos fugir deles totalmente, cuidados com a natureza e relacionamentos sadios na família e sociedade. Tudo isso é tema para finados. A morte nos pergunta sobre a vida e nos desafia para cuidarmos dela.
Reforma Protestante e Finados têm em comum a busca por vida em abundância. Aproximar-se de um Deus santificador e justificador por graça também na morte, nos consola profundamente, ao mesmo tempo que nos compromete com vida digna já aqui e agora. Choremos saudosos de pessoas que faleceram, mas na certeza de que estão bem vivas na memória de Deus, sabedores de que em Deus a morte já foi vencida. Desta forma, espera-se de pessoas cristãs, luta incessante pela vida digna para todos em todos os âmbitos. Jesus diz em Mt 5.6: Felizes as pessoas que têm fome e sede de fazer a vontade de Deus, pois ele as deixará completamente satisfeitas. Amém.