Fé que Deus sustenta

04/10/2010

A fé do profeta parece estar ameaçada por causa do silêncio de Deus diante da violência, injustiça e opressão reinantes (Habacuque 1.1-4 e 2.1-4, texto bíblico para leitura e reflexão neste domingo). “Até quando?” “Por quê?” são palavras próprias de quem move os lábios para o lamento. Expressam inconformidade com a situação existente de desrespeito à lei, à vida e às normas de decência e justiça.

Nas palavras do profeta e, com ele grande parte do povo, experimenta o abandono de Deus, do Deus que não reage, nada faz, do Deus que se omite, deixando acontecer a opressão e do Deus impotente para mudar as coisas. Não só o profeta experimenta a ausência de Deus, mas o mesmo ocorre com as pessoas à sua volta. É muita violência, violência que fere o corpo e destrói a vida e que não raramente é acompanhada de derramamento de sangue. O que é direito e certo, a sentença justa, não mais se vê. O direito e a legalidade aparecem distorcidos, como fachada. Tudo isso o profeta traz diante de Deus.

E hoje, qual é a reação das pessoas, da comunidade e da sociedade em geral, que foram maltratadas, violentadas, impedidas de terem seus direitos reconhecidos, tratados ou julgados injustamente, esmagadas? Estarão estas pessoas participando das Eleições 2010, depositando nas urnas um voto que espera algo novo, será um voto de protesto ou um voto nulo, em branco, porque não esperam mais nada de instituições humanas?

Prevê-se que o Censo 2010 revele um número ainda maior de cidadãos que vão declarar que vivem ´sem religião´. Será que muitas destas pessoas que desistiram da vida religiosa, não o fizeram, por não encontrar ouvidos para seus conflitos pessoais? Os números do Censo de 2000 já demonstraram que a comunidade religiosa não é mais a opção para quem anda decepcionado com Deus. Lamentavelmente se evidencia que, em algumas comunidades religiosas somente há lugar para aqueles que se deram bem na vida ou então para quem aceita as condições impostas de uma fé, que num abrir e fechar de olhos, desiste do lamento e da dúvida e apenas tem lugar para o louvor e a exaltação a Deus.

Deus não impõe condições a quem quer que seja. Ele não é um Deus arrogante e descarta a idéia de que seus ´fiéis´ tivessem que viver como se fossem perfeitos. Deus espera que as pessoas se decidam livremente pelo seu projeto. E que projeto é esse? Não é um projeto que simplesmente vem para derrotar quem é contra Deus, quem ficou confuso com as contradições deste mundo. O que Deus espera é que pessoas perseverem fielmente na prática da justiça, não a justiça humana, mas a justiça que provém de Deus.

Deus deu a conhecer a sua justiça em seu Filho Jesus Cristo. Ele chamou discípulos e discípulas para anunciar e viver em comunhão, onde tem lugar para o lamento. É do lamento diante de Deus que nasce a fé e a confiança que caminha em direção de um novo amanhã, sem ilusões e sem necessitar ser ´super´ em tudo, mas sim, que aprende a cada novo dia mover lábios e corpo a favor da vida. Jesus Cristo chamou discípulos e discípulas, que acolham e que sustentem, quem temporariamente não consegue crer.

P. Sin. Dietmar Teske
(Publicado no Diário Popular - Pelotas - 03 de outubro de 2010)

 


Autor(a): Dietmar Teske
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sul-Rio-Grandense
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 7621
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