Fazer de conta ou o que é ser cristão?

1º Coríntios 7.29-31

30/10/2012

29 Irmãos, o que eu quero dizer é isto: não nos resta muito tempo, e daqui em diante os casados devem viver como se não tivessem casado;
30 os que choram, como se não estivessem chorando; os que estão rindo, como se não estivessem rindo; os que compram, como se não fosse deles aquilo que compraram;
31 os que tratam das coisas deste mundo, como se não estivessem ocupados com elas. Pois este mundo, como está agora, não vai durar muito.

I. Fazer de conta ou o que é ser cristão:

Confesso que este texto me dá um calafrio. Este apóstolo Paulo parece que está doido. Os casados viverem como se não estivessem casados? Olhe, isto acontece já demais, não precisa da bíblia para fazer. Acontece e causa muito sofrimento, faz fracassar os relacionamentos e deixa sobretudo as crianças sozinhas. Será que é isto que Paulo quer? Fazer de conta? Viver de brincadeira sempre empurrando a vida com a barriga? Tratar as coisas com desdém, frio, cínico, distante?

É claro que olhando o resto da Bíblica e das cartas do Paulo fica claro que não deve ser isto. Mas só que é que Paulo quer dizer para a comunidade de Coríntios? Lá a mensagem do Cristo vivo, do Imanuel mexeu muito com as pessoas. Esta novidade exigiu um novo posicionamento diante da vida. Era muito forte a expectativa da volta de Cristo. Se Deus era o senhor do mundo para que ainda se ocupar com as coisas deste mundo? Não seria melhor deixar para lá, parar tudo e esperar a chegada do Senhor?

O que fazer com os afazeres deste mundo quando se acredita que Deus está no governo? Esta é uma pergunta muito pertinente. Chama atenção como em nossos dias parece que ela não tem muito efeito. As pessoas se dizem cristãos e continuam vivendo do jeito que sempre viveram. Que algo está errado dá para ver até pelo andar de certos problemas da sociedade. Quase todo mundo é cristão mas as ruas continuam inseguras. Como pode?

Um dia destes conversei com alguém que frequenta uma igreja pentecostal. Falamos sobre o que era ser cristão. Eu defendi que ser cristão seria principalmente acreditar e lutar por um mundo melhor, mais justo e de mais respeito pela vida. Ele dizia que isto seria inútil. O mundo iria acabar de qualquer jeito, estava perdido mesmo. Importava estar com os salvos na igreja certa e esperar o fim, para ser salvo e não gastar muita saliva com as coisas deste mundo.

II. A substância que faz a diferença:

Achei muito cômoda a posição dele. Mas não seria a conclusão do nosso texto da prédica? Olhando outra vez podemos duvidar disto. Paulo já enfrenta em Coríntios uma situação em que as pessoas querem entregar a vida, e ele justamente argumenta aqui para não fazerem isto. Sugere de permanecerem fiéis aos relacionamentos e às coisas, mas de não ficar presos a isto como se já fosse o fim em si. Viver e fazer tudo com carinho, mas sabendo que existe ainda algo mais que há de vir e que já está presente agora.

Creio que esta é a postura adequada do cristão para com a vida. Ela desenvolve muita força justamente na adversidade porque cristãos têm razão para esperança onde objetivamente não há. Cristãos têm uma substância especial de esperar algo de Deus e do seu futuro mesmo quando tudo vai mal. E esta substância faz com que eles não caiem na indiferença. Permite lhes de manter o amor e o carinho mesmo na adversidade.

Para mim como pastor isto sempre ficou verdadeiro e visível na forma como pessoas lidam com a morte de alguém querido. Fiz muitos inteiros de pessoas que tiveram pouca relação com fé e igreja, e alguns de pessoas onde a ligação era forte. Me permito a observação que há uma diferença no trato com a perda dolorosa. Havia tristeza sempre, mas os cristãos pareciam mais consolados e capacitados para seguir a vida. Entre os outros vi muito mais desespero absoluto, de não querer mais continuar com a vida etc..

Existe esta substância, sim, e ela faz toda diferença. Paulo quer nos incentivar de apostar nossa fichas nisso. E nos encontra numa situação onde muitos já deixaram de esperar algo de Deus. Ficaram dependentes totais, tanto do impacto do fracasso como do sucesso. Ficam desta forma obrigados a tratar a vida e os outros com certa dureza, porque não esperam nada além das coisas desta vida. Aí não sobra família, jardim, lugar bom, sobretudo nenhum para comunidade.

Paulo nos coloca o desafio de abraçar a esperança e olhar as coisas da vida com mais carinho e esperança. E está na comunidade o principal lugar onde podemos ensaiar este novo olhar e acumular a substância especial dos cristãos. Quem acha que pode fazer isto sozinho na sua casa está enganado. Quem topa a vivência comunitária há de descobrir o fundamento que isto representa.

Amém.
 


Autor(a): P.Guilherme Nordmann
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 17354
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