Existirá Natal para o Zé?

Meditação

05/12/2005


Zé um dia ouviu falar no Natal... Não entendeu muito bem o que era... Seu magro corpo, marcado pela fome, não ajudava a cabeça a pensar. Morando num barraco, onde a chuva peneirada pelo telhado ensopava o resto de colchão que era sua cama e dos três outros irmãos. Zé não poderia mesmo saber o que era o Natal. Além de tudo era analfabeto.

Zé saiu da favela e foi para o meio das pessoas, descobrir o que era o Natal...

Entrou na rua das lojas, onde o alto-falante de um carro de som repetia: os melhores presentes de Natal, só nos irmãos Dorival. Os olhos do Zé brilharam com as vitrinas das lojas: bonecas, carrinhos vermelhos e... aquela bola de futebol com o nome de Pelé.

Natal deve ser PRESENTE, pensou ele.

– Se não sair o abono de Natal não sei como eu vou fazer, exclamava uma pessoa gesticulando na rua. – Mas tem que sair. Sem abono neca de Natal lá em casa, dizia o outro.

Zé não sabia bem o que aquilo, mas a estampa dos doutores o convenceu. Natal deve ser ABONO, pensou.
Zé espiou pela porta do mercado bem sortido.

As mulheres discutiam: – Nossa, como estão caros os perus este ano. E eu a precisar de tantos para este Natal. – E as passas e as nozes, então? Chegam a arrancar os olhos da cara da gente. – Antigamente é que se comia bem no Natal...
E o Zé pensou: Natal deve ser COMIDA...

Num outro canto do mercado Zé viu um monte de árvores cortadas e o vendedor apregoando: – Compre aqui o seu pinheirinho de Natal.

Duas crianças de mãos dadas com o pai, choramingavam: – Pai compra este para a gente? – Compra aquele que é mais grande, pai.

E o pai carrancudo disse: – É muito caro. Depois abrindo a carteira disse: – Não importa. Natal sem pinheirinho não é Natal.

A confusão do Zé aumentou: – Será que errei? Parece que Natal é PINHEIRINHO... Pobre do Zé...
Ainda não conseguiu descobrir o que é Natal...

Ele que não recebe presentes, não entende o que é abono, não come todos os dias e jamais verá um pinheirinho em seu barraco... Se o Natal for só isto... pobre do Zé. Será que o Natal é outra coisa?

Existirá Natal para o Zé?


(Elenice leite)

Esta é uma história que mostra um pouco daquilo que muita gente vive ou já viveu, na figura do Zé.

A Paróquia Centro de São Paulo, vive estas histórias todas as sextas-feiras, quando vem a nossa igreja centenas de Zé(s)** para meditar e para compartilhar seus sonhos, suas histórias tristes e suas preocupações.

Agora é Natal. Existirá Natal para eles?

Os sentimentos expressados pelo Zé, são os sentimentos de muita gente sofrida que tem fome e sede e que no dia de Natal tentará encontrar o seu caminho.

Existirá Natal para eles? A pergunta continua, ficará no ar sem resposta?

Graças a Deus, há iniciativas que mostram que ainda pode existir Natal.

Algum tempo atrás conhecemos uma senhora alemã que, de visita ao Brasil, teve a oportunidade de conhecer o nosso trabalho com o povo da rua. Ficou surpresa a maravilhada e ao mesmo tempo compadecida com algumas histórias. Na Alemanha, ela trabalha voluntariamente na Instituição Cruz Azul, com alcoólatras. A maioria dos nossos Zé(s) têm problemas com o alcoolismo e tentam sair para não se afundar ainda mais.

Ela interessou-se por um Zé, ajudou-o financeiramente, enviando alguns euros, acompanhados de uma pequena carta estimulando-o para que não volte a beber. Isto está ajudando-o a se fortalecer e não voltar ao vício da bebida. Ele mesmo diz: – alguém de tão longe se lembra de mim.

Na instituição Cruz Azul, na Alemanha, ouviram falar desta história e do trabalho de nossa paróquia. Aqueles alcoólatras solidarizaram-se com os problemas da nossa gente e resolveram fazer uma coleta e enviar para nós, com a seguinte recomendação. Dê para alguém que está tentando sair desta como nós aqui na Alemanha. E o dinheiro chegou. Conforme a recomendação, escolhemos dois Zé(s) que já a algum tempo estão levando a sério uma mudança de vida. Chamamos os dois e contamos o fato e o porquê da escolha. Os olhos brilharam, lágrimas correram e histórias rolaram, porque existiu Natal para eles.

Disse Jesus: Sempre que o fizestes a um destes meus
pequeninos irmãos, a mim o fizestes. (Mateus 25.40)
 


Autor(a): Frederico C. Ludwig
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo do Natal
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 7361
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