Semanalmente dou aulas de Ensino Religioso, e na turma da 7ª série estamos relembrando alguns textos bíblicos. E para mim foi marcante uma experiência quando um grupo teve por incumbência dramatizar o texto bíblico da ressurreição de Lázaro (João 11). Neste texto bíblico lemos que Lázaro, irmão de Marta e Maria, adoeceu gravemente e que Jesus, seu amigo, foi avisado. Mas, quando Jesus chega, encontra-se apenas com as irmãs e com elas tem uma conversa significativa sobre o crer na ressurreição. Lázaro, porém, havia falecido e já fora sepultado. E ali, diante da perda do amigo, Jesus chora. “Jesus chorou” (v.35). Embora eu tivesse me preparado para conversar com os jovens sobre ressurreição, este versículo bíblico, considerado o menor que temos na Bíblia, foi o centro de uma boa conversa, pois estes não tinham, até então, esta imagem de nosso Deus. Por mais que já haviam ouvido do amor de Deus, eles compreendiam, imaginavam um Deus que está longe, distante dos sentimentos de seus filhos e filhas, e que por ser Deus não poderia chorar, demonstrar sentimento.
Penso que dá para perfeitamente entender os jovens, pois na atualidade valorizamos por demais a razão científica e assim ainda achamos que sentimentos não têm lugar. E quando valorizamos por demais a razão, nosso Deus passa a ter seu lugar só no “céu” longe de nós. Também os gregos, a quem este evangelho foi primeiramente escrito, eram pessoas que não valorizavam os sentimentos. Para eles o importante era a razão, não o sentimento. Os deuses gregos não eram influenciados pela vida dos seres humanos, muito menos por suas emoções. E no Evangelho de João, Jesus Cristo, Deus feito ser humano, é testemunhado, entre outros “eu sou...” como: Eu, Jesus, sou o amigo que chora.
E olhando para este Jesus Cristo que chorou, vemos algo importante, que para os gregos era e para outros ainda o é hoje inconcebível. Ao chorar, Jesus mostrou empatia. Empatia é uma palavra que vem da psicologia e tem por significado conseguir sentir o que a outra pessoa está sentindo. Isto significa que o nosso Deus não é um Deus frio, um Deus alheio, um Deus distante. Muito pelo contrário, Deus, ao se fazer ser humano sentiu o que nós, seus filhos e suas filhas sentimos. O nosso Deus é um Deus empático. É um Deus que sabe e que se importa com o que sentimos. O nosso Deus, se preciso for, é um amigo que chora conosco.
E esta mensagem do Deus que é em Jesus Cristo o amigo que chora, diante da morte, diante do que vai contra a vida, é algo que, como diz o lema bíblico deste ano, também “não podemos deixar de falar” (Atos 4.20) Pois, cada vez mais o ser competitivo é característica essencial para quem quiser, como se diz, ter um lugar ao sol. E onde o competitivo, o competir é a visão que rege as pessoas, os relacionamentos e sentimentos de jovens e adultos são afetados negativamente, pois nos conduzem ao individualismo exagerado. Um individualismo que faz com que mais facilmente sejamos como um daqueles que passa ao largo de quem precisa de ajuda (Leia Lucas 10.25-37). Ficamos frios, indiferentes, e também colocamos Deus como alguém indiferente, distante e longe das dores deste mundo e de seus filhos e filhas.
Sim! Mas nós vivemos neste mundo, nesta realidade de apatia e distância entre as pessoas. Então, o que fazer? Chorar!? Porque não? Pelo menos já testemunharíamos que não estamos indiferentes ao que acontece diante de nós. Mas isto basta? Não! O não se conformar é o primeiro passo, mas precisamos também nos transformar pela renovação de nossa mente (Rm 12.1-2). E é a isto que somos convidados: a não sermos indiferentes, mas sim empáticos com as pessoas em nossa volta, para que no, poder do Espírito, possamos ter renovação de nossa mente por causa da reconciliação que recebemos de nosso Deus de amor e de graça que se importa e sente como a gente. Amém.
Pastor Milton Jandrey
Guarapuava – PR
Representante Sinodal no Conselho de Igreja
Sínodo Paranapanema