Estamos juntos nesta - Prédica sobre 2 Coríntios 5.17-21

Prédica proferida 20/05/2012 na Capela de Cristo por ocasão da Festa Anual e instalação do novo Pastor.

20/05/2012

2ª Coríntios 5,17-21
17 Quem está unido com Cristo é uma nova pessoa; acabou-se o que era velho, e já chegou o que é novo.
18 Tudo isso é feito por Deus, o qual, por meio de Cristo, nos transforma de inimigos em amigos dele. E Deus nos deu a tarefa de fazer com que os outros também sejam amigos dele.
19 A nossa mensagem é esta: Deus não leva em conta os pecados dos seres humanos e, por meio de Cristo, ele está fazendo com que eles sejam seus amigos. E Deus nos mandou entregar a mensagem que fala da maneira como ele faz com que eles se tornem seus amigos.
20 Portanto, estamos aqui falando em nome de Cristo, como se o próprio Deus estivesse pedindo por meio de nós. Em nome de Cristo nós pedimos a vocês que deixem que Deus os transforme de inimigos em amigos dele.
21 Em Cristo não havia pecado. Mas Deus colocou sobre Cristo a culpa dos nossos pecados para que nós, em união com ele, vivamos de acordo com a vontade de Deus.


Estimadas irmãs, estimados irmãos!

I. Preciosidades:
O apóstolo Paulo costuma ir logo na essência, naquilo que importa na vida. Renovação, tornar-se uma nova pessoa; não ficar mais grudado no que foi, mas contar somente com amor de Deus por nos. Pois, quanto mais tempo já estamos nesta vida, tanto mais a vida torna-se uma limitação em tudo. Tornamo-nos céticos profissionais.

Quem já passou por um amor fracassado diz que “homem/mulher em minha vida – nunca mais”. Quem sofre com filhos aborrecentes diz “como foi me meter nesta encrenca? Tomara que saiam logo de casa!” Quem sofre com os pais chatos diz: “Não vejo a hora de sair daqui!” Quem já se engajou em prol de uma causa justa e não teve sucesso, talvez diz “o que adianta, vamos fazer como todos fazem”. Quem já lutou para uma comunidade como esta aqui, e ficou frustrado com a falta de compromisso e motivação de muitos, talvez diz: “Não vale a pena, é fadado”.
E por fim: Quem estava a pleno vapor na vida e sofre um revez sério como uma doença ou uma morte por perto, talvez comece a desconfiar que Deus está contra ele e que não haveria amor nos fundamentos da vida, e que o cinismo seria a postura correta de vida.
Se você não se identificou com nenhum destes casos – ótimo para você! Mas suspeito que isto não é assim para quase ninguém. Somos sujeitos a dúvida no amor de Deus. Sofremos deste mal.

E aí vem a grande mensagem do apóstolo: Em Cristo Deus chega até nos de tal forma que esta dúvida se desfaz: Contemplando a vida, a cruz e a ressurreição de Cristo baixa em nos a consciência que Deus nos ama sem limites. Cai a ficha apesar de todos os contratempos. E este saber se instala no coração e vai pautando a vida de forma marcante porque acredita e vive o amor no meio do desamor. A pessoa muda de cética distante de Deus para amiga íntima dele. Esta é a preciosidade que Paulo tem para o mundo.
 

II. O ministério de Paulo:
Não é automática a forma como a grande mensagem chega às pessoas. Alguém tem que falar. Alguém precisa ser encarregado. O apóstolo tem a profunda convicção que, entre outros, é ele que foi encarregado por Deus com o anúncio da boa nova. Ele que perseguia os cristãos foi transformado a tal ponto por este ministério que isto mudou completamente a sua vida. Ele foi ao mundo com a mensagem da gratuidade do evangelho. A pessoa aceita Cristo em sua vida e todo o resto ele resolve.

Paulo viaja e deixa um rastro de novas comunidades, especialmente entre os não-judeus. Agora ele é fortemente questionado em Coríntios por pessoas que divergem desta gratuidade do evangelho que ele anuncia. Querem que algo mais tem que ser feito. Paulo insiste que tirar dele o ministério teria consequências para toda a comunidade. Afetaria a mensagem porque ele não está anunciando algo pessoal mas a maior preciosidade de Deus. Colocando ele em questão ficaria prejudicada toda mensagem. Toda a 2ª carta aos Coríntios é uma luta apaixonada do Paulo por seu ministério de apóstolo.

III. Ministério compartilhado:
Passaram-se 2000 anos desde então. O mundo mudou muito mas certas coisas ficaram. Em primeiro lugar permaneceu a mensagem. Esta é universal e vale para todos os tempos. É ela que nos reuniu aqui hoje de manhã. Ficou também o ministério do anúncio da boa nova. Hoje instalou-se aqui o novo ministro deste ministério. Que posição ele tem? As igrejas elaboraram muito esta questão e divergem entre elas. A IECLB na tradição da reforma protestante resumiu esta questão em dois pontos: O ministério compartilhado e o sacerdócio geral de todos os crentes. Não sou jurista nem quero discursar aqui sobre os regulamentos da igreja. Mas dá para resumir assim:
Por um lado continua a convicção que precisa encarregar alguém de forma especial com o anúncio do evangelho. Não dá para só deixar na mão de todo mundo. O anúncio ficaria prejudicado. Este alguém é o pastor neste caso. Poderia ser outro tipo de ministro mas não é nosso caso.

Por outro lado estamos juntos nesta. A igreja – somos todos nos. Somos todos em conjunto responsáveis pelo anúncio da boa nova. A própria vivência e comunhão na comunidade anuncia mais que prédica de pastor. Somos obreiros corresponsáveis na obra do reino de Deus. É bonito perceber como vocês têm consciência desta dimensão e estão unidos em torno dela.
Se olharmos pela IECLB percebemos logo mais uma coisa que não mudou em 2000 anos: Os pastores são questionados como o apóstolo Paulo. Hoje não tanto pela mensagem em si, mas muito mais quando aparecem dificuldades no caminho das comunidades. A caminhada está difícil? A frequência nos cultos não está boa? As contribuições estão fracas? Vamos mudar de pastor! Parece até que é técnico de futebol.
A rotatividade de pastores na IECLB é muito grande. Agora fica óbvio que as dificuldades não se resolvem desta forma. É fácil falar que o pastor não serve quando as coisas estão difíceis, mas não vai resolver. O mesmo vale também para a pastorada. Quando o trabalho está difícil e o eco não vem conforme o esperado, é tentador pensar mal dos membros da comunidade que estariam descomprometidos e relaxados.

Neste ponto fica claro como a metáfora do técnico e futebol não se aplica em nosso caso: Pode-se até mudar de pastor, mas a comunidade permanece a mesma. O técnico pode trocar os jogadores, o pastor não pode trocar os membros, ele somente pode tentar conquistar novos.

Fica a mensagem: Estamos juntos nesta. Toda vez que se coloca em questão esta união põe-se em risco a própria mensagem. Quem veio para a chuva vai se molhar. As dificuldades na caminhada vamos enfrentar unidos. De fato o ministério é de toda a comunidade. É desta forma que ela concebe a sua vocação e dignidade. Ela é amiga de Deus e leva esta mensagem ao mundo.
Importante é que ela fica centrada na mensagem e não no tamanho do veículo de comunicação. As vezes somos muitos como hoje, as vezes somos poucos. A mensagem não pode ser prejudicada. Ela precisa ter seu espaço garantido. Somos amigos de Deus e não vamos admitir que nada confunde a nossa cabeça e o nosso coração. O resto Deus fará.
Amém.

 

Pastor Guilherme Nordmann - w.nordmann@gmail.com


Autor(a): P. Guilherme Nordmann
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Vila Campo Grande - São Paulo-SP
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: Coríntios II / Capitulo: 5 / Versículo Inicial: 17 / Versículo Final: 21
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 16413
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João 8.12
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