Ernesto Theophilo Schlieper - Dados Biográficos

30/05/1974

DADOS BIOGRÁFICOS

Quando o jovem pastor Ernesto Th. Schlieper em 1936 iniciou seu trabalho pastoral no Brasil, os quatro Sínodos de origem alemã (Sínodo Rio-grandense, Igreja Luterana no Brasil, Sínodo Evangélico de Santa Catarina e Paraná, Sínodo Evangélico do Brasil Central) iriam enfrentar um período dificílimo de sua história. Estava por terminar a época em que eles, entendendo-se a si mesmos como Igrejas de imigrantes alemães, viam sua tarefa tanto na proclamação do Evangelho como no zelo pelo que é alemão (deutsches Volkstum). A política de nacionalização do Governo Brasileiro, a subseqüente proibição do uso da língua alemã e o corte total das relações com a Igreja Evangélica na Alemanha durante a II Guerra Mundial levaram-nos a reconsiderar suas bases teológicas. As Igrejas de imigrantes começaram a tornar-se Igrejas que conscientemente queriam ser Igrejas no Brasil, corresponsáveis pela formação da vida política, cultural e econômica do povo brasileiro. Ao mesmo tempo aprofundava-se gradativamente a comunhão entre os quatro Sínodos que se uniram, em 1949, na Federação Sinodal, alcançando sua estrutura atual como Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) em 1968. E. Th. Schlieper participou ativamente das fases decisivas dessas transformações. Sobretudo estava empenhado em fundamentar e orientar teologicamente os passos de sua Igreja nesse seu caminho de transição. A raiz de todo o pensamento teológico e de todo o falar e agir eclesiásticos era para ele a pregação da palavra de Deus. É desses três elementos básicos na teologia e na atividade eclesiástica de E. Th. Schlieper — missão, Igreja e pregação — que dão testemunho as palestras e prédicas publicadas neste volume.

Ernesto Th. Schlieper nasceu a 30 de maio de 1909 em Taquara (ES), sendo o mais novo de sete irmãos e irmãs. Seu pai, Ernst Schlieper, exerceu o pastorado em Dois Irmãos e Taquara de 1892 até a sua morte em 1919. Sua mãe, Helene Falk Schlieper, foi a filha de Eduard Falk, pastor em várias comunidades do Sínodo Rio-grandense de 1870 a 1920. E. Th. Schlieper frequentou por pouco tempo uma escola alemã em Taquara, passando em 1916 para o Colégio Elementar na mesma cidade. Depois de sua confirmação (1923) quis tornar-se bancário para poder sustentar a mãe após a morte prematura do pai. A mãe, porém, concordando com o conselho insistente do pastor Hermann Dohms, mandou-o estudar no recém-fundado Instituto Pré-Teológico, cuja finalidade era a de preparar jovens teuto-brasileiros para uma formação teológica na Alemanha. Nesse Instituto E. Th. Schlieper defrontou-se pela primeira vez com a questão do caráter alemão (deutsches Volkstum), chegando à conclusão de que o zelo pelo que é alemão poderia ser a tarefa principal em sua vida. Resolveu estudar teologia, porque pensava que como pastor poderia melhor servir ao que é alemão. 

Por volta da Páscoa de 1927 chegou à Alemanha, concluindo dois anos mais tarde o Curso Secundário no Gymnasium (colégio humanístico) em Gütersloh, na Vestfália. De 1929 a 1933 estudou teologia nas Universidades de Marburgo, Bonn, Tubinga e, de novo, Bonn. O acontecimento decisivo desses anos foi o encontro pessoal com Karl Barth em Bonn, o qual se tornou, de uma vez por todas, o seu guia teológico. Descobriu a causa verdadeira e essencial da teologia, ou seja, a palavra de Deus, fato esse que para sempre formou o seu pensamento teológico e determinou sua atitude eclesiástica. Decidiu-se definitivamente pelo pastorado por causa da própria teologia, renunciando ao motivo da conservação do caráter alemão (Deutschtum). 

No outono de 1933 E. Th. Schlieper prestou o 1o exame teológico diante do Consistório de Koblenz, uma repartição administrativa da Igreja da Prússia. Entrou como professor assistente no Seminário de Ilsenburg, no qual a Igreja da Prússia formava pastores para o estrangeiro e a diáspora. Mas após pouco tempo uma doença nos olhos o obrigou a licenciar-se e finalmente a demitir-se desse cargo. Não se vendo em condições, por questão de sua convicção teológica, de colaborar com as autoridades eclesiásticas oficiais na Alemanha, que seguiram a linha muito duvidosa dos Cristãos Alemães (Deutsche Christen), pôs-se à disposição da Igreja Contessante na Prússia. Atendendo à determinação do Supremo Conselho dessa Igreja na Vestfália, iniciou, na Páscoa de 1935, um estágio (Vikariat) em Hagen-Vorhalle. Um ano mais tarde prestou o 2o exame teológico perante o respectivo departamento da Igreja Confessante na Vestfália. Com isso alcançou a meta de seus estudos na Alemanha, ou seja, uma formação teológica e prática completa. Em virtude de sua filiação à Igreja Confessante surgiram ainda algumas dificuldades quanto a seu retorno ao Brasil. Mas em fins de 1936 finalmente pôde voltar ao lugar em que ele mesmo via a sua missão vivencial de ser uma testemunha do Evangelho: o Sínodo Rio-grandense. 

Iniciou seu trabalho pastoral nas paróquias de Montenegro e Candelária, e por algum tempo lecionou também no Instituto Pré-Teológico, que já em 1927 fora transferido de Cachoeira do Sul para São Leopoldo. Foi ordenado pastor, em dezembro de 1937, pelo então Presidente do Sínodo Riograndense, D. Hermann Dohms. No ano seguinte substituiu o pároco da Igreja Matriz da Comunidade Evangélica de Porto Alegre, o qual estava de licença. Em janeiro de 1939 assumiu o pastorado na paróquia da Igreja da Paz, no Bairro de Navegantes, em Porto Alegre, e a administração da Escola da Paz, que sob sua direção se transformou em Ginásio. Ainda em 1939 casou com Irene Schumann. 

Durante a II Guerra Mundial os Sínodos de origem alemã estavam confrontados com uma situação de emergência gravíssima devido às restrições impostas pelas autoridades ao trabalho dos pastores de nacionalidade alemã. E. Th. Schlieper pertencia ao pequeno número de pastores brasileiros, aos quais coube, naqueles anos, a tarefa de manter a maior parte do trabalho da Igreja. Prestou às comunidades e aos colegas alemães um serviço de grande valor, elaborando regularmente prédicas em português a serem lidas nos cultos por aqueles que não dominavam o vernáculo. 

Depois da guerra E. Th. Schlieper contribuiu com suas profundas reflexões teológicas a confortar e reorientar a Igreja abalada pelas experiências feitas nos anos anteriores. Reconhecendo seu empenho tanto na orientação teológica como na execução das tarefas práticas, a Igreja o convocou a cargos diretivos que por muito tempo exerceu ao lado do pastorado. Em 1946 foi eleito Vice-presidente do Sínodo Rio-grandense, cargo que ocupou até 1956. Em 1950 foi eleito, e em 1954 reeleito, Vice-presidente da Federação Sinodal. Lecionou ainda, de 1946 a 1956, Novo Testamento na Escola (hoje: Faculdade) de Teologia, fundada em 1946, no Morro do Espelho, em São Leopoldo. Apreciando sua atuação teológica em prol do cristianismo evangélico luterano no ambiente latino-americano, a Universidade de Heidelberg conferiu-lhe, em 19 de agosto de 1955, o grau de Doutor em Teologia honoris causa, distinção essa que lhe foi entregue em São Leopoldo pelo professor Dr. Wilhelm Hahn, na época Diretor da Faculdade de Teologia da mencionada Universidade. 

Em outubro de 1956 E. Th. Schlieper transferiu-se para a Comunidade Evangélica do Rio de Janeiro, onde ficou até o início de 1960. Após a morte, em fins de 1956, do D. Hermann Dohms, Presidente da Federação Sinodal e do Sínodo Rio-grandense, assumiu a presidência da Federação. Em 1958 o Concílio Geral o elegeu Presidente. Foi reeleito em 1962 pelo mesmo Concílio, que decidiu adotar como designação oficial da Federação o nome de Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. Na presidência da Igreja, E. Th. Schlieper sobretudo promoveu o intercâmbio e a crescente comunhão entre os Sínodos, desenvolvimento esse que culminou na completa fusão e reestruturação dos mesmos, efetivadas em outubro de 1968 num Concílio Extraordinário em São Paulo. Apesar de não ter participado desse Concílio por causa de uma grave enfermidade, foi mais uma vez reeleito como Presidente da IECLB. 

E. Th. Schlieper teve a oportunidade singular de fomentar a formação teológica dos futuros pastores da IECLB, quando foi convocado, em 19 de fevereiro de 1960, ao cargo de Reitor da Faculdade de Teologia, em São Leopoldo, e catedrático de Teologia Prática. Exerceu esse cargo, ao lado da presidência da Igreja, até 28 de fevereiro de 1966, época em que se transferiu para a nova sede da IECLB em Porto Alegre, passando a presidência da Igreja a ser um cargo em regime de tempo integral. 

Ultrapassando os limites da IECLB, E. Th. Schlieper zelou pelo estreitamento das relações confessionais e ecumênicas da IECLB com outras entidades religiosas dentro e fora do País, em especial com a Confederação Evangélica do Brasil, a Igreja Evangélica na Alemanha, a Igreja Luterana Americana, a Federação Luterana Mundial e o Conselho Mundial de Igrejas. Desde 1957 era membro do Comitê Executivo da Federação Luterana Mundial, de 1956 a 1964 membro e depois Presidente do Comitê Latino-americano dessa Federação e de 1961 a 1968 membro do Comitê Central do Conselho Mundial de Igrejas.

E. Th. Schlieper faleceu, após demorada enfermidade, a 31 de outubro de 1969, no Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre. Tendo sido velado na Igreja da Paz, da qual fora pároco durante muitos anos, foi sepultado, no dia seguinte, no cemitério da Comunidade Evangélica da mesma cidade. 

A IECLB é uma Igreja minoritária num país considerado geralmente católico. Nesse ambiente ela tem a missão de testemunhar o Evangelho da graça e misericórdia de Deus, revelada em Jesus Cristo. Nisso ela se deixa orientar pela confissão da Reforma de Martim Lutero. Mas justamente baseando-se nessa confissão, ela estava e está disposta a manter relações ecumênicas com outras Igrejas cristãs, rejeitando o exclusivismo confessional, fato que é comprovado por sua própria história. Obediente ao Evangelho, ela promove o testemunho público do mesmo na situação concreta dos homens aos quais se dirige sua proclamação. Ela se sabe enviada àquele mundo em que ela vive, ou seja, a realidade brasileira, colocando-a sob a palavra de Deus. Essa proclamação é o coração de todo o seu trabalho. Nisso E. Th. Schlieper insistiu sempre de novo como ministro dedicado à causa do Evangelho e fiel ao Senhor da Igreja. Foi o objetivo de toda a sua atividade que a IECLB e cada um de seus membros respondessem com sua vida inteira, seu falar e seu agir, à palavra de Deus, revelada em Jesus Cristo.

Veja:

Testemunho Evangélico na América Latina

 Editora Sinodal

 São Leopoldo - RS
 


 


Âmbito: IECLB / Instância Nacional: Presidência
Natureza do Texto: Artigo
ID: 19744
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Porque nem eu nem tu jamais poderíamos saber algo a respeito de Cristo ou crer nele e conseguir que seja nosso Senhor, se o espírito não o oferecesse e presenteasse ao coração pela pregação do Evangelho.
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