(Todos/as, ao entrarem na igreja, receberam uma pequena pedra).
Amados irmãos, amadas irmãs,
Tenho uma pergunta simples a nos fazer. Peço que não respondamos verbalmente, mas que apenas pensemos a respeito do assunto: se hoje você pudesse jogar essa pedra em alguém, em quem você a jogaria? Reflita a respeito!
Todos nós sabemos que 2022 não foi um ano fácil. Se, de um lado, lentamente estamos voltando de uma terrível pandemia, de outro lado, neste ano experimentamos a divisão, a discórdia, a polarização, a violência, o desentendimento, a confusão... Quantas famílias brigaram por causa de política neste ano? Quantas famílias estão até agora divididas por causa das eleições?
Se hoje você pudesse jogar essa pedra em alguém, em quem você a jogaria? Seja sincero com você mesmo! Não banque o inocente!
O mesmo aconteceu em relação aos amigos, seja da infância, da escola/universidade, do trabalho. Quantos amigos ou vizinhos brigaram neste ano? Quantos amigos deixaram de conversar em 2022? Quanta gente que se conhece e conversa há anos deixou de conversar por causa de futebol, de política ou de outras coisas? Quantas pessoas não suportam mais ver outras só porque possuem um pensamento diferente? E quantas pessoas acham que só por uma pessoa ter um pensamento diferente, então aquela pessoa pode ser desrespeitada, humilhada, rebaixada, debochada, perseguida, violentada, morta? Repito: quantos amigos brigaram esse ano?
E se você pudesse hoje jogar essa pedra em alguém, em quem você a jogaria?
Da mesma forma nas igrejas. Quantas igrejas tem enfrentado problemas e divisões esse ano por causa de política? Quantos irmãos e irmãs não suportam mais uns aos outros por causa das ideias diferentes que possuem entre si? Quantos acreditam que a fé verdadeira de alguém depende do político em que votou – e não de Jesus Cristo que morreu na cruz para nos salvar? Quanta gente está cansada de tanta divisão, polarização e guerra? Você também se cansou? Ou, a quantas pessoas você cansou esse ano com suas palavras “mal-ditas”?
Se você pudesse hoje jogar essa pedra em alguém, em quem você a jogaria?
Amados e amadas, o Senhor nos convida a abandonar os ídolos; Jerusalém, porém, abandonou ao único Senhor. Adoravam aos falsos ídolos dos povos vizinhos. O povo escolhido por Deus se tornou um povo idólatra.
Mas, não pensemos que isso acontecia apenas naquela época. Hoje, a idolatria possui outras formas. No lugar de Deus colocamos o futebol, a política, as amizades... Você quer saber o que você está adorando em primeiro lugar na sua vida? Pense no que você tem gastado mais do seu tempo! Quer saber qual é a sua idolatria? Dê uma olhada no que você tem postado ou compartilhado no seu facebook, instagram, whatsapp nos últimos sete dias. Se Jerusalém adorava os deuses das nações vizinhas, hoje a idolatria se dá muito mais no “culto a personalidades” – sejam elas quais forem. E quando alguém vai contra o meu “ídolo”, me dá vontade de jogar uma pedra naquela pessoa. Como não posso “tacar” a pedra – porque sofrerei as consequências pela violência –, então entro nas redes sociais e mando indiretas, faço piadas e provocações ou, realmente, efetuo aquilo que hoje é chamado de “cancelamento”. Se a idolatria de Jerusalém era adorar aos deuses dos povos vizinhos, a “idolatria moderna” é criar deuses à nossa própria imagem e semelhança e apoiá-los incondicionalmente. Os “ídolos modernos” muitas vezes são mais intocáveis e inquestionáveis que o próprio Senhor Jesus. “Falem mal dos meus pais, da minha família, de Jesus..., Mas não falem mal do meu ídolo!”
Entretanto, estamos no Advento. Este é um tempo de preparação. A primeira vela acesa sinaliza que o tempo está passando. Logo, logo já é o natal. E como é que vamos chegar ao natal? Brigados? Com famílias rachadas? Com amigos com quem não conversamos mais? Com vontade de jogar pedras uns nos outros? Com o orgulho de querer estar certo a todo custo?
Repito: O acendimento das velas simboliza que o tempo está passando. Como estamos nos preparando para o natal? Haverá tempo e espaço para o perdão? Haverá tempo e espaço para o arrependimento? Haverá tempo e espaço para a reconciliação? Haverá tempo e espaço para o abandono dos falsos ídolos? Haverá tempo e espaço para a humildade que dá lugar à arrogância? Em meio a tantas compras, encerramentos, amigos secretos e compromissos, haverá tempo e espaço para lembrar do nascimento de Jesus? Onde estará Jesus no nosso Natal? Ainda aguardamos a sua volta dos céus? Como o receberíamos se ele voltasse hoje? O que você vai fazer com essas pedras que guardas não só nas mãos, mas também no coração? Tacá-las nas outras pessoas? Faça as contas: com quantas pessoas você brigou esse ano? Quantas pessoas brigaram com você? Quantas pessoas pararam de falar com você? Com quantas pessoas você parou de falar?
Advento é tempo de preparação. Hoje nós temos culto com Santa Ceia onde somos convidados à mesa do perdão, da reconciliação e da paz e a rememoramos que Jesus – mesmo pregado na cruz – não fez o uso de armas e de violência para nos trazer a mensagem da salvação eterna. Sua Presença Real está entre nós na Eucaristia. Como Filho de Deus – Segunda Pessoa da Trindade – Jesus poderia ter feito rolar as maiores pedras e esmagado todos os seus malfeitores. Ao contrário, ele cumpre em si mesmo o que está escrito em Isaías 53.5: “Mas ele foi traspassado por causa das nossas transgressões e esmagado por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas feridas fomos sarados”. Ele sofreu a violência para que nós fôssemos poupados dela – não só de a sofrermos, mas também de a praticarmos; ele aceitou ser castigado para que nós pudéssemos deixar nossas armas (pedras) caírem no chão.
Essa é também a esperança de Isaías sobre o tempo do Messias: “Ele julgará entre as nações e corrigirá muitos povos. Estes transformarão as suas espadas em lâminas de arados e as suas lanças em foices. Nação não levantará a espada contra nação, nem mais aprenderão a guerra”. (Isaías 2.4). Ó, que esperança maravilhosa! Caiam as pedras; caiam os joelhos em arrependimento diante do Senhor; caia todo orgulho; caia toda arrogância; caia toda maldade; caia toda prepotência; caia todo egoísmo; e que ao caírem na terra, transformem-se em sementes de transformação, de humildade, de bondade, de diaconia/solidariedade!
Este é um convite também a nós. O que vamos fazer com essas pedras? Eu tenho uma ideia: e se transformarmos essas pedras em algo muito melhor? E se conseguirmos nos arrepender do mal de tal maneira ao ponto de podermos transformar as pedras de juízo em um sólido caminho para o perdão? E se ao invés de “tacarmos” a pedra em outra pessoa, deixarmos as pedras caírem para darem lugar ao abraço, à fraternidade? E se usarmos essas pedras para construirmos juntos os caminhos que levam ao encontro do outro em reconciliação?
A primeira vela de Advento está acesa. O tempo está passando! Faltam três e já é o natal. Até quando você vai manter esse ódio entalado dentro de você? Até quanto você vai ficar alimentando essa raiva contra outras pessoas? Até quando você vai continuar insistindo em se manter onde estás? Até quando vais segurar essa pedra na mão? Até quando estarás com vontade de “tacar” essa pedra em outras pessoas?
Amados e amadas, hoje é o grande dia do perdão, da reconciliação, do arrependimento. Nós vamos dar um novo sentido a essas pedras. Convido quem está disposto ao arrependimento e ao perdão a vir aqui à frente e a formarmos uma cruz com as pedras que recebemos na entrada do culto. Não há formato predefinido. Ficará de acordo com a criatividade da comunidade.
Venha! Vamos dar um novo significado para essas pedras. Assim como Pedro – a pedra – foi transformado pelo Evangelho e se tornou um pastor manso e calmo, da mesma forma as pedras que carregamos podem ser transformadas em sólido fundamento para a paz. Nós temos tempo. Ao trazer a sua pedra, faça uma oração pedindo perdão, por ajuda, por consolo, por força para seguir adiante. Faça uma oração de confissão em arrependimento. Reconheça diante de Deus os seus ídolos. Peça perdão pela idolatria. Peça para Jesus te auxiliar na reconciliação com as pessoas com quem você perdeu o contato. Se quiser chorar, chore; se quiser rir em gratidão, ria. Seja você! Seja ser-humano! Enquanto temos esse precioso tempo, ouçamos a música “é preciso saber viver”.
(Após a formação da cruz com as pedras, lê-se o poema de Carlos Drummond de Andrade. Se possível, projetar ou imprimir para leitura conjunta):
No meio do caminho tinha uma pedra,
tinha uma pedra no meio do caminho,
tinha uma pedra,
No meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento,
na vida de minhas retinas tão fatigadas;
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra,
tinha uma pedra no meio do caminho,
no meio do caminho tinha uma pedra.
1º DOMINGO DE ADVENTO | VIOLETA | CICLO DO NATAL | ANO A
27 de Novembro de 2022
P. William Felipe Zacarias