O professor da verdadeira felicidade | Mateus 5.1-12

4º Domingo após Epifania | Série de Pregações: Epifania: quem é o menino que nasceu em Belém? | 4ª Pregação

13/12/2022

 

Amados irmãos, amadas irmãs,

o menino que nasceu em Belém tem nos ensinado coisas maravilhosas nessa série de pregações. Primeiro, nos lembrou que viver o batismo significa também passar pelas tentações; depois, como Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, nos convidou ao seu seguimento; então, mostrou que a Igreja deve colocá-lo sempre no centro para que seja unida e evite divisões.

Hoje nós teremos a última pregação da primeira fase da série que é a fase online. Isso não significa que a série terminou. Nós a continuaremos ainda por três Domingos nos cultos presenciais da Paróquia Ferrabraz nas Comunidades Vida Nova e Bom Pastor. Então, continue nessa maravilhosa jornada com a gente pela revelação de Deus em Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador.

Queridos e queridas, certamente que todas as pessoas estão em busca da felicidade. Quem não quer ser feliz? Quem, em um momento de tristeza, angústia ou até depressão, não ansiou por um sentido que trouxesse maior felicidade para a sua vida? Onde está a felicidade?

O Natal já passou. Entretanto, mesmo estando nós já no final de Janeiro, vem à minha mente a letra de uma música natalina bastante conhecida e que diz assim:

Eu pensei que todo mundo
fosse filho de Papai Noel.
Bem assim felicidade eu pensei
que fosse uma brincadeira de papel.
Já faz tempo que eu pedi,
mas o meu Papai Noel não vem.
Com certeza já morreu
ou então felicidade é brinquedo que não tem.

Preste atenção nessa última frase: “ou então felicidade é brinquedo que não tem”. Essa canção foi escrita por Assis Valente que, não encontrando a felicidade, tirou a própria vida em 06 de Março de 1958 aos seus 46 anos de idade. Partiu nos deixando essa profunda pergunta: onde está a felicidade?

Mateus 5.1-12 é um dos textos mais essenciais do Novo Testamento. Assim como os 10 Mandamentos em Êxodo 20 são o que há de mais fundamental no Antigo Testamento, o Sermão da Montanha é o que há de mais fundamental no Novo Testamento. Há teólogos que dizem – até de maneira exagerada, claro – que mesmo que perdêssemos todo o Novo Testamento, menos o Sermão da Montanha, não teríamos perdido praticamente nada! Se quisermos saber quais são os valores do Reino de Deus, então precisamos ler, reler e ler novamente o maravilhoso Sermão da Montanha. Está praticamente tudo bem resumido nestas poucas palavras ensinadas por Jesus.

O ser humano busca a felicidade de variadas formas. Alguns acreditam que a felicidade está em comprar, ter e consumir coisas, o que é um engano, pois quando se tem o que se queria, a felicidade vai embora e passa-se a se desejar outra coisa; outros acreditam que a felicidade está no prazer, seja sexual, das drogas, dos alimentos, das bebidas, das festas, embora também toda essa “alegria” dure apenas momentaneamente; há quem deposite que a felicidade está no conhecimento ou na liberdade, embora não saibamos de todas as coisas e facilmente nos escravizemos em nossa vida.

Sigmund Freud, o pai da psicanálise, escreveu em 1917 um texto curto e muito profundo chamado “Uma dificuldade da psicanálise”. Nesse texto, Freud aponta três feridas do ser humano após as novas descobertas dos últimos quinhentos anos de história. A primeira ferida é cosmológica, pois Copérnico descobriu que a terra não está no centro do universo. Portanto, o ser humano não está mais no centro de tudo. O ser humano foi escanteado para a margem; a segunda ferida, conforme Freud, é a biológica, pois se antes se acreditava em uma criação especial do ser humano, agora a ciência de Charles Darwin afirma que o ser humano é um animal como os outros animais; a terceira ferida, segundo ele, é a psicológica onde o ser humano é determinado pelo seu inconsciente e não é dono nem mesmo de sua mente ou de seus pensamentos e ações.1

Não quero aqui entrar no mérito se as três descobertas são verdadeiras ou falsas. A questão é que me parece que essas feridas são bem reais. O ser humano deixou de ter seu lugar especial no mundo, na história e em sua própria vida. Tudo perdeu o sentido. A harmonia de todas as coisas foi dilacerada. O ser humano foi colocado à margem. Ele não é especial, mas apenas um grão de areia em qualquer lugar de um universo quase infinito.

Talvez isso justifique o motivo da busca individual pela felicidade e pelo prazer em nossos dias. Cada pessoa precisa dar uma razão, um sentido e até uma legitimidade internas para a sua própria existência, pois a razão, o sentido e a legitimidade externas foram minadas pelas descobertas dos últimos quinhentos anos. Já que o mundo é um caos e que não há lugar especial para minha vida no cosmos, eu mesmo é que preciso dar conta de me tornar feliz. E os caminhos tomados para chegar a esse objetivo são diversos: compras, drogas, sexo, aventuras, estudos, viagens etc. Tudo, porém, satisfaz momentaneamente.

Onde está, então a felicidade? É possível encontrá-la? Ou é ela que nos encontrará? Jesus nos concede um caminho interessante, mas que geralmente só é aceito por muito poucos. Para Jesus, não há maior felicidade que fazer outros felizes. E se todos aceitassem esse convite, quem sabe todos, de fato, poderiam ser felizes. Para Jesus, o caminho da felicidade supera o próprio “eu” e vai em direção ao outro. O outro sempre é prioridade! É o amor a Deus que leva ao amor ao próximo. Romano Guardini, teólogo católico, diz: “O amor de que Cristo fala é, por assim dizer, um rio de vida que nasce em Deus, passa pelo homem e volta a desembocar em Deus; é uma forma sagrada de vida que vai de Deus ao homem, do homem a seu próximo e do fiel a Deus”2.

Amados irmãos, amadas irmãs,

neste tempo de Epifania – ou seja, de revelação sobre quem é Jesus e o que essa revelação muda em nossas vidas e em nossas relações – nós encontramos em Jesus um professor da verdadeira felicidade. Assim diz o v. 2: “Então ele passou a ensiná-los”. O Sermão da Montanha é um ensino de Jesus. E nós, enquanto seres humanos pecadores, temos hoje a oportunidade de nos colocarmos em sua “sala de aula” como seus alunos para que possamos aprender dele e com ele.

O caminho da felicidade apontado pelo professor Jesus é diferente da felicidade apontada pelo mundo. Para Jesus, felizes são as pessoas humildes, não as que ostentam seu poder de compra; felizes são os que choram, ou seja, as pessoas que continuam humanas e sensíveis, não as que se tornaram troncos que não sentem mais nada; felizes são os mansos, ou seja, quem consegue exercer o autocontrole, e não quem precisa provar a sua capacidade e força a qualquer custo; felizes são aqueles que tem fome e sede de justiça e se movem para isso ao invés de cruzarem seus braços esperando que algo aconteça; felizes são os que querem a misericórdia, a compaixão e não o cancelamento e a exclusão; felizes os que mantem uma pureza de coração e não se deixam contaminar por conjuntos de ideias humanas; felizes são os que fazem a paz e não quem alimenta a discórdia, a divisão e a polarização; enfim, por mais que seja surpreendente, felizes são os que são perseguidos por viverem essa “felicidade ao contrário”, pois a perseguição mostrará que estão no caminho certo.

O caminho da felicidade está aí! Não será um presente que será trazido pelo Papai Noel; não é algo que se consiga manter por muito tempo em compras, prazeres, viagens, aventuras, negócios, conhecimentos e assim por diante; não é algo que vem de dentro do ser humano em suas potencialidades e “paz interior”. Não! A felicidade verdadeira vem de fora: vem de Jesus. O professor da felicidade se tornou a verdadeira felicidade. A felicidade que ele traz é uma paz plena que não depende das circunstâncias. Trata-se de uma paz que até mesmo é capaz de suportar e manter-se na escuridão da cruz.

Eis o caminho da felicidade. Está tudo aí! Enquanto continuares procurando a felicidade fora de Jesus e fora de Mateus 5.1-12, certamente que não a encontrarás. Continuarás buscando da mesma forma como alguém procura ir atrás do arco-íris para encontrar o pote cheio de ouro; estarás atrás da felicidade assim como alguém corre em direção ao horizonte; tentarás pegar a felicidade como se tenta pegar a água e o vento. Procurarás, tentarás e nunca encontrarás!

Então, viva no seu dia a dia essas palavras de Mateus 5.1-12. Não é fácil. Somos pessoas pecadoras. Nosso coração é inclinado à cobiça. Contudo, vale a pena arriscar. Tire um tempo e procure reler Mateus 5.1-12 pelos próximos seis dias. Que Deus fale com você.

E não esqueça, na próxima semana a nossa série de pregações continua de maneira presencial. Espero você lá na Comunidade Vida Nova. Amém.



4º DOMINGO APÓS EPIFANIA | VERDE | TEMPO COMUM | ANO A

29 de Janeiro de 2023


P. William Felipe Zacarias


1 Cf. FREUD, Sigmund. “Uma dificuldade da psicanálise – 1917”. in: FREUD, Sigmund. História de uma neurose infantil (“o homem dos lobos”), além do princípio do prazer e outros textos: 1917-1920. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 240-251.

2 GUARDINI, Romano. O Senhor: reflexões sobre a pessoa e a vida de Jesus Cristo. São Paulo: Cultor de Livros, 2021. p. 105.


Autor(a): P. William Felipe Zacarias
Âmbito: IECLB / Sinodo: Rio dos Sinos / Paróquia: Sapiranga - Ferrabraz
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo do Natal
Natureza do Domingo: Epifania
Perfil do Domingo: 4º Domingo após Epifania
Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 5 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 12
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 69024
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Devemos orar com tanto vigor como se tudo dependesse de Deus e trabalhar com tanta dedicação como se tudo dependesse de nosso esforço.
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