Encontro Nacional de Mulheres

24/08/2003

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Encontro Nacional de Mulheres
dias 22, 23 e 24 de agosto, Belo Horizonte

O Encontro Nacional de Mulheres, que iniciou cedo, na manhã de sexta-feira, 22/08/03, com a chegada de participantes vindas de várias partes do país, contou com a participação de 63 mulheres, provenientes do RS, SC, PR, SP, RO, MG e ES com idades entre 20 e oitenta anos, envolvidas em diversos tipos de atividades sociais e comunitárias.

No primeiro dia, pela manhã foi feita a acolhida e, através da biodança, com a assessoria da psicóloga Jozânia Miguel Chaves (Jô), as participantes foram convidadas a dançar e refletir sobre quem sou apresentando-se gradativamente às demais companheiras neste encontro.

Na parte da tarde, os trabalhos foram iniciados com palestra da Dra. Fátima Oliveira, que é médica e secretária executiva da Rede Nacional Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos, organização apoiadora do Encontro. Fátima trouxe uma série de dados sobre a violência em suas manifestações mais cruéis e fez questão de frisar duas coisas: que quando se trata da preocupação com a saúde da mulher e com a violência de gênero, não se pode esquecer de falar sobre a saúde da mulher negra e sobre a violência específica que visa às mulheres negras, que são pelo menos metade da população feminina em nosso país; outro ponto foi de que, uma vez que as mulheres em situação de violência tendem a buscar em primeiro lugar os serviços de saúde, os profissionais dessas áreas devem estar devidamente capacitados a diagnosticar quando as mulheres atendidas são vítimas de violência, para tratá-las como tal. Foi uma contribuição feita em quatro pontos, em que apresentou: 1. Uma radiografia da violência de gênero (doméstica, sexual, moral, racial e institucional) no mundo; 2. Breve histórico da luta feminista para visibilizar e coibir a violência contra a mulher; 3. Os equipamentos públicos de atenção à violência de gênero ,as áreas de segurança, social e jurídica e da saúde; e 4. Saúde da Mulher como um campo de assistência e pesquisa.

A palestrante foi muito feliz em seu modo de chamar atenção para o fato de que a violência de gênero se manifesta no mundo como um verdadeiro pandemônio, com raízes extremamente profundas, que precisa ser enfrentada através da criação de uma rede com o maior número de segmentos possíveis que operem em concomitância e sintonia, para a superação dessa epidemia que não atinge apenas outras mulheres, mas a cada uma de nós.

À noite a P.ª Dr.ª Ivoni Richter Reimer, especializada em Teologia Bíblica, fez às participantes uma apresentação em data show , tratando de Cura e Saúde numa perspectiva holística, tema este com o qual introduziu seus trabalhos para o segundo dia do Encontro. A pastora trouxe reflexões sobre o que é saúde, o que é cura e o que é vida e frisou que a dor ou a doença de uma pessoa, pensando em sentido holístico (considerando o todo), afeta não somente o corpo de quem sofre essa dor ou dessa doença, mas toda a criação.

Os trabalhos do segundo dia foram marcados por muitas vivências. Na parte da manhã, a P.ª Ivoni desafiou as mulheres a, através do estudo de três textos do Novo Testamento, que tratam da doença ou da dor de mulheres, refletir, em três cenas sobre as doenças (o que são e como se manifestam), sobre o processo terapêutico (quando e como ele acontece) e sobre cura. Os textos estudados mostram que há situações em que a cura acontece como conseqüência da insistência em lutar, em não desistir e em buscar uma libertação para a própria dor. Mostraram também que há situações em que a cura é conseqüência da solidariedade de alguém que intercede pedindo cura para quem padece. E há, ainda, outros casos em que a pessoa, para ser curada precisa ser vista e socorrida.

O estudo de todos os textos foi feito com vivências em que as participantes tinham que se colocar na pele da mulher vítima de dor/doença, que cada texto trazia. Essas vivências e reflexões foram enriquecidas e feitas com cada mulher considerando sua própria situação e partilhando suas sensações e experiências. 

À tarde, a doutoranda em Teologia Prática no Instituto Ecumênico de Pós-Graduação, em São Leopoldo-RS, Anete Roese, desenvolveu várias vivências e trabalhou dois textos do Antigo Testamento que trazem a experiência de mulheres violentadas com o objetivo de que cada uma pudesse perceber como a dor se manifesta em si mesma e nas outras mulheres. Muitas dinâmicas ligadas ao bibliodrama foram desenvolvidas e através destas mulheres puderam sentir como é querer se levantar e não poder, querer gritar e ter a boca tampada, querer dizer o que se sente e não ser compreendida e várias outras sensações.
Em azulejos e com a ajuda de espátulas (palitos de picolé) cada participante foi convidada a reproduzir com cores a dor. Refletiu-se muito encima disso. Os azulejos foram dispostos no chão formando um grande e belo mosaico que trazia histórias e sentimentos de mulheres vítimas de violência e dor. Ao final das atividades, depois de partilhar muitas sensações, as mulheres se sentiam com os corpos doendo de fato, como resultado de tudo a que foram submetidos, porém o sentimento era de mais alívio uma vez que as dores haviam sido compartilhadas. Foi com essa impressão que cada mulher foi convidada a novamente pintar, com as cores da libertação, conforme critérios de cada uma, uma nova figura por cima da pintura já existente. Notou-se ao final da tarefa, que o mosaico já havia ficado bem mais colorido e alegre. Ao final do Encontro cada participante poderá levar seu azulejo, como uma lembrança deste encontro e das experiências aqui vividas, como um marco na história de vida de cada uma.

A noite foi reservada para informações sobre a Pastoral Popular Luterana, mais especificamente sobre o Programa Mulheres e Relações de Gênero, que promove esses encontros. E, ainda, para alguns encaminhamentos relacionados ao trabalho com mulheres no âmbito da Igreja Evangélica de Confissão Luterana.

No último dia do Encontro, o período da manhã foi reservado para atividades de biodança com a Jô Miguel, para pensar sobre os quem na vida de cada uma. À tarde mais um tempo para avaliação e encaminhamentos relacionados ao próximo encontro, bem como para uma celebração final.

O programa do encontro foi extremamente apertado e o tempo curto para permitir que tantas mulheres falem em plenária tudo o que acontece de significativo ou doloroso em suas vidas. Essa partilha de experiências e estreitamento de laços e contatos, foi feita de uma ou outra forma nas discussões em grupos e nos intervalos.

Pª Aneli Schwarz
  

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