O início de um novo ano tem sido época preferencial de transferência de obreiros. O compromisso inerente no termo de atividade ministerial prevê boas obras. Os obreiros também se apresentam cheios de gás e inspirados para um trabalho produtivo.
Face ao desafio de edificar comunidade, é preciso vontade, competência e empenho. Existem expectativas fundamentais para pessoas que desejam corresponder à beleza da vocação e à seriedade da ordenação à vida ministerial.
Há, no entanto, sombras impedindo uma visão mais clara da motivação ao desempenho do ministério.
Em data recente, me deparei com um artigo, cujo título dizia: O anseio por Deus é sinal maior para a plenitude da vida humana. O artigo faz menção ao grande teólogo e filósofo dinamarquês Sören Kierkegaard. Motivado pelo Cântico do Amor, conforme 1 Coríntios 13, o teólogo dinamarquês parte de um princípio básico e afirma que só é possível edificar uma casa se tiver alicerce firme, em chão confiável. Tratando-se de edificação de comunidade, Kiergegaard identifica este chão firme com o Amor-Agape. A prática do amor, fruto da fé, faz surgir o perfil de um novo espírito de comunidade. O amor é essencial à edificação da comunidade, não se submete, porém, às leis do sucesso. Ele se alimenta da esperança que seja correspondido no corpo da comunidade. Uma regra pedagógica de outrora determinava que o pressuposto para o bom professor consistia em ressaltar a ausência de saberes do aluno. O mestre em sala de aula sentia satisfação quando a aprendizagem do aluno era bem sucedida. Quem vive o amor, espera que a outra pessoa possa corresponder ao dom de amar. Obreiros e lideranças não são produtores de amor, mas pressupõem o amor como dádiva oferecida por Deus a outros!
Edificar comunidade é, antes de tudo, um exercício de amor e não fruto de estatística ou de produtividade. O amor-ação não resulta em domínio, sua força e autoridade estão no serviço! O que justifica a beleza do ministério com ordenação e o que dá sustentação ao sacerdócio de todas as pessoas batizadas é o Amor-Agape!
Em tempos de instalações de obreiros e de mudanças de diretorias e lideranças, o recado de João Batista é atual e nos coloca com os pés no chão: É preciso que eu diminua para que Ele cresça.
Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville - SC
O Caminho - 03/2006
