Em Advento ainda esperamos, porque nem tudo está certo.

Lucas 3.1-18

13/12/2013

A primeira parte deste texto chama, pela mensagem de João Batista, a preparar o caminho do Senhor pela retidão do coração. Retidão que tem seu início no arrependimento, na mudança que leva a produzir bons frutos. Na segunda parte, o evangelista Lucas, assinala que a preparação do caminho do Senhor se concretiza por meio da atuação justa na sociedade. O evangelho, pela palavra de João Batista, convida a repartir o que há de sobra (v.11) para oportunizar uma vida digna as pessoas empobrecidas. E, também, a luta contra a cultura de corrupção presente nos diversos espaços da sociedade, quando se dirige aos cobradores de impostos e soldados.

O que surpreende no texto é que perante o apelo ao compromisso pela sociedade um grupo de pessoa apresente a defesa: “Abraão é nosso antepassado” (v. 8). Elas rejeitam o qualificativo de “raça de cobras venenosas”.

No fundo, diziam elas: “A ira e castigo de Deus, a rendição de contas, pela pessoas empobrecidas e a corrupção, não nos atingirá porque nós não fazemos parte das pessoas malvadas. Podemos estar tranquilos/as e viver em paz. As pessoas más que se virem! E, pelos males deste mundo que responda quem os fez. Nós nada temos a ver com isso, estamos limpos e salvos de toda responsabilidade. Por tudo isso, nós não fazemos parte dessa “raça de cobras venenosas”.

Porém, para o evangelho, exatamente essa atitude de distância e pretensão de superioridade moral é a que evidencia que essas pessoas são parte da “raça de cobras venenosas”. Elas utilizam a religiosidade para apagar sua indiferença perante a miséria humana. Elas colocam sua moralidade para ocultar sua participação na teia da corrupção. Não é por acaso que o apóstolo Paulo diga: “Não há ninguém justo, ninguém que tenha juízo”. (Rm 3.10).

O Tempo de Advento possui essa dimensão critica. Nele esperamos a vinda do nosso Senhor porque nem tudo está certo neste mundo. Procuramos manter a esperança porque há uma desesperança que nos consome.

Se olharmos para o nosso mundo não podemos ocultar que vivemos num tempo caracterizado por crises. Difícil é saber de onde vem à ameaça, a ordem e a justiça. Está complicado falar de uma moral e mais ainda de uma ética. Qual é a lei que exerce poder numa sociedade da violência? Quais medos são reais e quais fictícios em relação ao futuro? Está difícil administrar contrastes como a abundante riqueza de poucos e a pobreza das multidões. Sucumbimos perante a corrupção endêmica que suga os recursos e bens destinados para a promoção da vida. Toda essa instabilidade, de alguma forma, nos deixa agitados e desesperançados.

Em meio desta situação é que somos chamados a escutar as palavras de João Batista: “raça de cobras venenosas”. Com ela se está colocando uma solidariedade entre todas as pessoas. Ninguém fica de fora. A frase também se dirige a cada um de nós. Os males deste mundo não são exclusivamente fruto das pessoas malvadas. Eles se alimentam, também, da nossa indiferença, da nossa comodidade, de nosso egoísmo e arrogância.

Se alguém argumentar julgando as pessoas más e a maldade existente no mundo, devemos lembrar que: pessoas cristãs, fiéis, devotas e espirituais nunca sentarão junto com Deus para julgar o mundo, antes sempre todo o mundo será por ele julgado.

Volto a repetir. Não há em nós nada que possa eliminar o sermos parte desta “raça de cobras venenosas”. Somos parte deste mundo e corresponsáveis de não termos conseguido fazer germinar o bem em todo seu esplendor.

Entretanto, não estamos sós nesta luta. Este mundo ainda é de Deus. Por isso nos enviou seu filho, para iluminar as nossas trevas e transformar os nossos corações, para a transformação do mundo. Seu compromisso de amor pelo mundo lhe custou a sua vida. Essa entrega permanece como uma luz que assinala nosso caminhar. Sua ressurreição inspira e nutre a nossa esperança. Por isso, vivemos neste mundo, reconhecendo a maldade, mas sem deixar que ela tenha a última palavra. Vivemos neste mundo de olhos abertos, e com responsabilidade e criatividade lutamos em contra do mal.

Advento, tempo de espera. Tempo de renovação do nosso compromisso de amor por este mundo amado por Deus. Que Deus nos de a coragem para agir de forma transformadora e assim endireitar os caminhos como preparação para a vinda do nosso Senhor.

Amém.
 


Autor(a): P. Dr. Pedro Puentes Reyes
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo do Natal
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 3 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 18
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 26148
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