Eleições 2008

Carta Pastoral da Presidência

18/07/2008

Uma palavra da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil

As eleições municipais se aproximam. Informações e propaganda chegam de todo lado. Os candidatos nos apresentam propostas e promessas. Às vezes é difícil distinguir uma promessa da outra, principalmente quando elas são apenas velhos chavões e não muito concretas. Diante disso, temos como nos orientar?

A essa pergunta respondemos com um decidido sim, fundamentados na Escritura. “Que cada qual use o seu próprio dom para o bem das demais pessoas.” Essa palavra apostólica (1 Pedro 4.10) vale também para quem está na política. Trata-se de um importante espaço para servir. Mas, bem sabemos, a política também pode ser desvirtuada em espaços nos quais as pessoas buscam vantagens próprias, esquecendo-se do bem do povo.

Em verdade, há entre o povo muita decepção com políticos. Não são poucas as pessoas que falam até em deixar de votar ou em votar em branco, pois, assim se diz, “do mesmo vai ficar tudo igual”. De fato, quanto mais tomamos conhecimento de casos de corrupção, tanto mais aumenta o desânimo. No entanto, não votar ou votar em branco é favorecer justamente aqueles candidatos que não deveriam ser eleitos e o gesto acaba sendo um voto de apoio ao que se quer evitar. Por isso, votar é preciso! Além disso, como o voto é obrigatório, muitas dessas pessoas acabam votando, sim, e como não se informaram antes, votam muito possivelmente em candidatos que não merecem sua confiança, mas atraíram sua atenção.

Felizmente, nem todas as pessoas que atuam na política são iguais. E a política é também o caminho para obtermos melhores serviços públicos, mais atenção à saúde, à educação, à segurança. Através do nosso voto assumimos a co-responsabilidade política e exercemos cidadania. O voto, além de ser o meio de escolher nossos governantes, é também uma espécie de passaporte para fiscalizar nossos administradores. Atualmente existem sempre mais maneiras de exercer esse cuidado, porque as informações circulam mais e estão mais disponíveis. Verdade que temos um grande desafio: distinguir informações falsas e até calúnias de informações verdadeiras. Por trás das informações há interesses que precisamos descobrir.

Como seja, o voto é um instrumento fundamental da democracia. Se todos levarmos a sério a importância do voto consciente, os males e as desigualdades serão diminuídos e teremos mais paz e justiça em nossa sociedade.

Quais são os critérios que devemos observar na escolha de nossos governantes? Antes de mais nada, é preciso conhecer os candidatos. Procure conhecê-los pessoalmente. Busque, também por outros meios, todas as informações possíveis. Quem são? Em que ocupação ou cargo já atuaram? Como se saíram? Como lidam com as pessoas e com qualquer patrimônio que lhes é confiado? As promessas que fazem, são realizáveis? Irão beneficiar a quem? Que visão os candidatos têm do seu município? Suas propostas levam em conta a diversidade característica do seu lugar? Os projetos que apresentam favorecem à população como um todo ou apenas a alguns grupos? O que pensam acerca de segurança pública, saneamento e moradia? Que projetos têm para melhorar as áreas mais pobres do município?

Quanto aos candidatos que buscam reeleição, eles já têm uma grande vantagem sobre os demais por serem geralmente mais conhecidos. Nesse caso é muito importante olhar para como foi a sua administração tanto nas chamadas áreas nobres da cidade como na periferia e no interior. Que cuidados tiveram com as vias públicas e áreas de lazer, com a distribuição de água, com o transporte público, que projetos sociais concretizaram em seu governo? Como estão o hospital e os postos de saúde? E as escolas e creches do município? Apoiaram as associações de moradores e os movimentos sociais existentes?

Em se tratando da Câmara de Vereadores, é preciso perguntar qual o tipo de legislação que os candidatos e as candidatas pretendem defender e quem será beneficiado por ela. Tratando-se de candidatos à reeleição, é bom descobrir se foram assíduos ou gazeteiros, se usaram dinheiro público para finalidades próprias, se beneficiaram parentes e amigos distribuindo cargos, ou se seu mandato não serviu apenas para propor uma infinidade de honrarias e sessões solenes. De outra parte, bons candidatos, quando eleitos, são representantes diretos do povo, podem defender seus legítimos anseios e gestionar seu atendimento por parte da Prefeitura. Se isso ocorreu, deve ser valorizado.

Em relação a qualquer candidato é preciso fazer a pergunta por demandas na justiça. Se há processos contra eles, de que natureza são? Qual a sua origem? Nossa legislação infelizmente ainda permite que pessoas condenadas em primeira e segunda instância se candidatem, mas elas não deveriam receber nosso voto, a não ser que haja firme e fundamentada convicção do eleitor de que tenha havido injustiça na condenação.

Há ainda a questão do patrimônio pessoal de quem se candidata. Em caso de candidatura à reeleição: durante o mandato anterior, qual foi a alteração em seu patrimônio? Em caso de candidatura a primeiro mandato: que caminhos tem usado até agora para constituir e aumentar o seu patrimônio?
Também existe um critério para que o próprio eleitor possa se auto-avaliar: dando o meu voto, o que quero? Estou buscando algum favorecimento pessoal? Estou pensando no todo da sociedade? Já me satisfaço se a minha rua e o meu bairro forem atendidos? “Vendo” o meu voto a determinado candidato ou candidata em troca de uma promessa que me beneficiará? Sabemos que infelizmente há candidatos e há eleitores que fazem esse jogo. Mas esse jogo não condiz com a mensagem cristã de amar ao próximo.

Votar é preciso para o bem do meu município e da minha sociedade, pois é o jeito de ajudar na administração do mundo criado por Deus e confiado aos seres humanos. É vontade do criador que todas as pessoas, criadas à imagem de Deus, possam viver com dignidade. É neste horizonte que devemos votar, pois injustiça, miséria, mentira, egoísmo são afrontas a Deus e à vida humana.

Votar com consciência é dever cristão. A política não é pecado, como muitas pessoas pensam, mas infelizmente ela é usada muitas vezes a serviço do pecado humano. Já uma política exercida com capacidade, em responsabilidade, honestidade e retidão, é um nobre e elevado exercício do dom de servir ao próximo e à sociedade.

Examinem, informem-se, reflitam, dialoguem, decidam-se e votem. Boas e abençoadas eleições!

Walter Altmann
Pastor Presidente
 


Autor(a): Walter Altmann
Âmbito: IECLB
Área: Missão / Nível: Missão - Sociedade / Instância Nacional: Presidência
Natureza do Texto: Manifestação
Perfil do Texto: Manifestação oficial
ID: 12581
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