ARMAS PARA A LUTA DO CRISTÃO
Efésios 6.10-20 (Leitura: Salmo 31.1-8;14-16;21-24)
«Soldado, você está desarmado!» — Com estas palavras, nosso sargento, no antigo «Tiro de Guerra», costumava assustar recrutas relaxados que mantinham seu fuzil limpo e reluzente por fora, mas que não lubrificavam o ferrolho, nem limpavam o cano da arma por dentro. Durante a manobra, no momento de dar o tiro, o mecanismo enferrujado emperrava, e o tiro não saía. O sargento tinha toda a razão. O soldado estava desarmado mesmo. Apesar de ter um fuzil nas mãos. O que é que adianta uma arma que nega fogo no exato momento em que precisamos dela!
«Cristão, você está desarmado!» O apóstolo Paulo não é sargento. Ele é soldado de Cristo, é pregador do evangelho de Jesus. Mas, por entre as linhas da passagem de sua epístola, sobre a qual queremos meditar hoje, é isto que ele está dizendo a nós: Um cristão que deixa enferrujar suas armas, um cristão relaxado, que não vive em estado de alerta e de prontidão, ele está realmente desarmado. Na hora «h», no dia mau, como diz Paulo, ele será incapaz de resistir e de lutar.
Qual é, então, o armamento do cristão? Qual é o seu arsenal de armas? Antes de tudo, vamos dizer bem claro uma coisa: O cristão não é nenhum gigante Golias, que se planta no campo de batalha, cheio de si, cheio de confiança em sua capacidade de lutar, em sua espada, em sua couraça protetora. A armadura do cristão não é sua força própria, sua inteligência, seu saber. Pensando bem, veremos que nem é sua teologia, nem seu conhecimento bíblico. O apóstolo Paulo diz com clareza, qual é a armadura do cristão, e por que esta armadura só lhe poderá valer no dia mau: «Sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo, porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim, contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes.»
Ser fortalecido no Senhor revestir-se da armadura de Deus: Este é o segredo do cristão realmente preparado para a luta. Porque «os principados e as potestades» que ele precisa enfrentar, não respeitam os estilingues e as fundas de nossa inteligência. Não tomam a sério as pedradas tão certeiras, arremessadas por nosso saber, mesmo por nosso saber religioso. A única armadura que eles respeitam, é a armadura de Deus. Que nós, os cristãos, leigos, pastores, missionários, teólogos, cristãos novos e cristãos experimentados, cristãos recrutas e cristãos veteranos — que não o esqueçamos: A única armadura que os poderes do mal respeitam, é a armadura de Deus. Se o cristão apenas tivesse de lutar contra poderes humanos, aí o seu poder próprio, seu «crânio», seus músculos, seu fôlego, seriam suficientes. O poder da vontade humana, o poder da inteligência, «o poder do pensamento positivo» do homem é uma coisa impressionante. Mas não serve para combater o diabo. Só serve para estas pequenas escaramuças, estas briguinhas, estas discussões às vezes até chamadas de teológicas — briguinhas que nada resolvem, Que deixam o poder cio mal instalado em seu trono. Que nada resolvem na luta contra a culpa, o medo, o desespero, o rancor — na luta contra o poder mau e destruidor que está por detrás de todos os distúrbios e de todos os problemas desta terra.
Você já pensou que o cristão é um soldado de Deus? Que, cada vez que ele vai à igreja, cada vez que ele ora, cada vez que ele lê a Bíblia, cada vez que ele toma uma decisão, ele se põe ao lado de Deus e toma posição contra o diabo — contra os poderes e as potestades das trevas? Seria uma temeridade, seria uma loucura, se alguém quisesse enfrentar tais poderes com suas armas particulares. Seria atacar uma divisão de tanques com paus e pedras. Pelo inferno ecoam, tantos gigantinhos convencidos que tentaram enfrentá-los com suas próprias armas — sem se revestir do poder e da armadura de Deus.
Que foi o nazismo? Não foi também, ao menos na propaganda, uma tentativa de combater o mal? O desemprego, por exemplo, ou as condições injustas impostas a um país por outros? Foi tentativa distorcida, problemática, é verdade, mas tentativa? E em que resultou? Em trinta milhões de mortos, em campos de matança sistemática, em mares de sangue e de lágrimas. Que é o comunismo? Não é também uma tentativa de combater o mal? A injustiça social, a exploração do homem pelo homem! E em que resultou? Que sobrou do idealismo de seus fundadores? Grupos de poder que se odeiam e se combatem — medo, violência e opressão. Armas, que não são de Deus, são armas de Caixa. Não só na esfera da política e das grandes potências.
«Portanto, tomai a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis». O dia mau — que dia será este? Será o dia da morte? Poderá ser. Mas o cristão não deveria ver tudo da perspectiva da hora de sua morte. Isso não é bíblico. A vida é o tempo de luta. A morte é apenas o final desta luta. É o saldo de todas as lutas travadas. «Dia mau» poderá ser qualquer dia. Poderá ser uni dia de tentação, um dia de contrariedades. Poderá ser doença, poderá ser acidente. Poderá ser inimizade e ódio que precisamos enfrentar por causa da justiça por termos tomado posição ao lado de Jesus. Resistir no dia mau, ficar inabaláveis e firmes, Isto é que conseguiremos pelo poder de Deus. Não pelo nosso próprio poder.
E qual é essa armadura de Deus? — Paulo descreve o lutador cristão, comparando-o com um soldado antigo, daqueles que vestiam uma couraça protetora, feita de escamas ou de chapas de ferro. Menciona a primeira arma do cristão. Diz que ele se cinge com a verdade. A verdade integral, não a meia verdade (o que adiantaria a metade de uma arma?. . . ) Não só a verdade sobre os outros, mas também a verdade sobre ele mesmo. Verdade, que o faz confessar a sua culpa, admitir a sua fraqueza, admitir que preto é preto e que branco é branco. Verdade, que é inseparável daquele que disse: Eu sou a verdade.
E a segunda arma: a couraça da justiça. A couraça era uma armadura de proteção para o peito, para as costas e para o ventre. A justiça, então, envolve o cristão. Ele vive dentro da justiça. Não usa a justiça como máscara. Não se serve dela para despistar. Ele foi justificado por Cristo, pelo justo, não foi? Então ele poderá viver dentro desta couraça, sem se machucar, e sem machucar a consciência. Viver em Cristo pois ele é a nossa justiça.
A terceira arma:, Ter os pés calçados com a pregação do evangelho da paz. Que bom, ele dizer: Ter os pés calçados. O cristão não precisa temer os espíritos malignos, também não precisa pisar bem de leve, para o inimigo não ouvir. Ele pode pisar firme. Está preparado para servir de mensageiro. Sua mensagem é o evangelho da paz. Sim, caro irmão: Deus quer que você também lhe sirva com os pés: Que creia com os pés, por assim dizer. Só o coração não resolve. O evangelho da paz precisa de mensageiros que correm, que o levam para as ruas, os atalhos, os esconderijos deste mundo!
A quarta arma: o escudo da fé. O escudo era uma arma de defesa. Era feito de metal leve ou de couro reforçado, e servia para aparar as flechas e as lanças atiradas pelo inimigo. Ficamos admirados pelo fato do apóstolo comparar a fé com uma arma de defesa. Ela não será, antes, uma arma de ataque? Certamente o será, Mas será bom, pensarmos, desta vez, na fé como sendo arma que nos defende de tudo, também dos dardos inflamados do maligno. Fé é confiança em Deus, Esta confiança se interpõe entre nós e as armas abrasadas e envenenadas do maligno. Extingue o fogo, desfaz os efeitos do veneno. Quem crê, sabe que é assim mesmo. Sabe também que a fé não é algo fixo. É como o escudo: Quando o dardo ou a flecha do inimigo vierem voando, a fé nos move a atenção, o braço, o corpo — tudo, enfim. Fé não é um muro protetor, não é trincheira cavada. É algo vivo, móvel — e movente!
A quinta arma: o capacete da salvação. O capacete serve para proteger a cabeça. Um tiro na cabeça mata, Portanto, o capacete é arma de salvação. Falando sem figura: O cristão poderá lutar com certeza de ser salvo. Ele sabe que Cristo já o salvou. Sabe que o resultado de sua luta não é coisa incerta ou dúbia. Sabe que a vitória de Cristo é a coisa mais certa que há, e que ela será a sua própria vitória. Há muito lutador, hoje, que acha não precisar de capacete de salvação para a cabeça. Que ninguém se engane. Sem o capacete da salvação — sem o que Cristo fez por nós — a nossa cabeça está exposta às armas poderosas do maligno.
A sexta arma: a espada do Espírito. Não do espírito humano. Gente espirituosa, sem mais outra arma, não tem vez na luta contra o maligno. A espada do Espírito é a palavra de Deus. É a mensagem da Bíblia, anunciada no poder do Espírito Santo. É arma de ataque, e é arma de defesa. E nem é arma que o cristão vá manejando: É, antes, o contrário o que acontece: O Espírito é que move o cristão, o Espírito é que luta por meio do cristão. O Espírito orienta, ensina a distinguir, dá os dons, dá a força dá tudo. Ele ensina até a orar «com gemidos inexprimíveis», como diz Paulo em Romanos 8, quando o cristão chega ao ponto de nem saber mais como orar, como falar com Deus.
É neste sentido que o apóstolo fala, ao fim de nossa passagem: Fazei tudo isso «com toda oração e súplica, orando em todo o tempo no Espírito». Paulo pede que os destinatários de sua carta vigiem, e que orem com toda a perseverança por todos os santos (isto é, por todos os cristãos). Pede que orem também por ele para que possa anunciar o evangelho com coragem e alegria. Eles sabem que o apóstolo está preso, está «em cadeias». Mas o que vale é que o evangelho não está preso. Paulo não deixou de ser embaixador de Cristo, Ele não se acomoda naquele cantinho escuro, na sua cadeia em Roma, esperando que o soltem, ou que, ao menos, o deixem em paz. Ele não é daqueles médicos que receitam remédios a outros, que eles mesmos rejeitam tomar. Paulo é um homem que dedicou a vida inteira à obediência, à luta pelo evangelho. Não é um cristão desarmado. Mesmo preso, ele não deixa de ser um soldado de Cristo. Fala, age, escreve, anuncia a boa mensagem, conforta, orienta, anima. E pede por mais armas. Pede que os irmãos de Éfeso intercedam por ele, para que se possa armar da armadura de Deus.
Nem todos podem ser soldados de Cristo da estatura e da bitola do apóstolo Paulo. Mas o Deus de Paulo é o nosso Deus. E a armadura de Cristo deve ser a nossa armadura. Porque o inimigo continua sendo o mesmo. Assim sejamos recrutas ou sejamos veteranos, sejamos servidores iniciantes ou sejamos servidores de mãos calejadas seguremos a mão de Deus para que sejamos fortalecidos no Senhor e na força de seu poder!
Oremos: Deus e Senhor. Rogamos-te que nos fortaleças com teu poder, para que possamos resistir no dia mau. Não queremos confiar em nossa habilidade e em nossa força. Mas também não queremos retirar-nos da luta, olhando para nossa fraqueza. Queremos seguir a Jesus e lutar com sua armadura. Senhor — reveste-nos tu mesmo com a armadura celestial: com a verdade, com a justiça, com a paz, com a fé, com a certeza da salvação. E dá-nos o teu Espírito Santo para que possamos ser teus servidores fiéis. Amém.
Veja:
Lindolfo Weingärtner
Lançarei as redes - Sermonário para o lar cristão
Editora Sinodal
São Leopoldo - RS