Educar - para que?

Artigo

14/02/2003


Início de um novo semestre letivo, expectativas e esperanças lado a lado com a realidade da crise na educação. Há razões suficientes para ensaiar reflexões sobre a responsabilidade no contexto da formação, enquanto integrantes do corpo de Jesus Cristo e inseridos na paisagem da sociedade humana. O ensino faz parte da prática de Jesus Cristo. A educação é um dos instrumentos mais eficazes a serviço da vida. E Jesus Cristo veio para promover vida em abundância, uma máxima do Evangelho!.

Um dos maiores apóstolos da humanidade assegurou que a fé é fruto de um processo educativo. Ninguém nasce com fé. A fé vem pelo ouvir da Palavra, uma frase anunciada pelo apóstolo Paulo. A confiança em Deus não está atrelada à pessoa do pregador, assim como a qualidade do ensino não está atrelada à pessoa do educador. Aos olhos da fé vale: a confiança em Deus provém da capacidade de ouvir! Martin Luther, o reformador da Igreja cristã, no século 16, mantinha um distanciamento irônico em relação ao poder daquele que pregava. Não se preocupem com os frutos da pregação. Embora o mundo se mantenha crítico e distante de vocês, pregadores/as, sempre haverá pessoas que os/as ouvirão e que se orientarão pela palavra do Evangelho, dizia.

Quem desempenha o sacerdócio do ensino não sufoca a pessoa - o objeto da educação. O ser humano integrado e comprometido com o processo de formação não se arroga ao direito de formar pessoas submissas, criadas à semelhança do/a educador/a. O serviço da educação vocaciona seu sujeito ao caminho da liberdade, da criatividade e da verdade! Participa responsavelmente da missão educativa quem se dispuser, antes de ensinar, a aprender! Educadores/as assumem o papel de primeiros/as ouvintes. Quem for incapaz de silenciar, não é competente para falar, ensinar (Sören Kierkegaard).

Em busca da definição de sua identidade, todo o ser humano vive sob a influência de muitos fatores externos, onde a tentação de exercer domínio sobre o outro se faz bem presente. A pessoa humana para concretizar todo seu potencial de humanidade, sendo sal da terra ou luz do mundo, é aprendiz permanente, sempre será fruto constante de um processo contínuo de formação. A educação eficiente, comprometida com a qualidade de vida, é aquela que não se esgota na correção dos seus enunciados, independe das suas lições corretas. Educação responsável é aquela que desperta no educando interesse, que anima à criatividade e abre novas perspectivas à vida plena e capacita para o convívio fraterno.

A humildade é a maior virtude daqueles/as que exercitam a prática pedagógica. Por isso, é preciso encontrar a pessoa, em processo de educação, lá onde ela vive a sua realidade, em suas limitações e angústias, onde ela alimenta os sonhos e suas esperanças. Ninguém nasce para praticar a desumanidade e a opressão, marcas tão presentes em nossa realidade terrena. Mas podemos, isto sim, ser objetos manipulados e conduzidos a uma vida desumana, determinada pelo desamor, fruto da deseducação. Educar é um processo de capacitação constante à fé, ao amor, à verdade.

Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville - SC
Jornal ANotícia - 14/02/2003

 

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