“Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro” (Mateus 6.24)
Nesta quarta feira tem início um tempo muito importante para os cristãos. Trata-se do tempo da quaresma. Nesse período refletimos sobre textos bíblicos, indicados para a época que nos falam da vida de Jesus. Uma vida de renúncia, uma vida de entrega. Jesus nos motiva com o seu jeito de ser a viver de agir da mesma forma. Ele nos chama para viver uma vida em comunidade onde um se preocupa com o outro.
Neste ano assim como já ocorreu em 2000 e 2005 nossa Igreja, integrante do CONIC, tem como tema na quaresma, o tema da Campanha da Fraternidade: “Economia e Vida”. E o lema “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro”. (Mateus 6.24)
Procurei no dicionário o significado do verbo servir. E o dicionário coloca como primeira opção que servir é o mesmo que viver ou trabalhar como servo. Se servir significa viver ou trabalhar como servo então poderíamos dizer que não podemos viver para Deus e viver para o dinheiro. Ou se vive para Deus ou se vive para o dinheiro.
O tema desta Campanha da Fraternidade nos dá uma oportunidade muito importante para refletir a respeito da nossa vida e da forma como nossa sociedade está constituída e organizada. E não é difícil de perceber de que as pessoas de forma geral estão vivendo muito mais voltadas para o dinheiro do que para Deus. Por exemplo, durante grande parte da minha vida eu ouvia pessoas dizerem: “o trabalho espera.” Esta era uma frase que se dizia quando se recebia uma visita. Ou quando alguém era convidado para uma tarefa. Atualmente quase não ouço mais esta frase. Ouço muito mais a frase: “Não vai dar. Eu não tenho tempo”. A frase tempo é dinheiro passou a ser uma frase muito usual.
Quer me parecer que as pessoas estão muito preocupadas com o amanhã, com o futuro. As pessoas vivem com medo. Eu entendo que em grande parte as pessoas vivem com medo porque a comunidade, concebida pelo apóstolo Paulo, está deixando de existir. Hoje se vive muito mais o ditado “cada um para si e Deus para todos.” As pessoas quase não se ajudam mais. Por isso cada um precisa garantir-se a si mesmo. E por isso não tem mais nada a partilhar.
Por outro lado a nossa sociedade de forma geral reconhece a pessoa e valoriza a pessoa muito mais pelo ter do que pelo ser. Olha-se muito mais pelo que a pessoa tem do que aquilo que a pessoa é. Além disso, valoriza-se muito mais a aparência do que aquilo que a pessoa tem no coração. As milhares de cirurgias plásticas que se faz no Brasil a cada ano apontam nesta direção.
Diante deste quadro, diante desta realidade pode-se afirmar que se vive muito mais uma vida que está a serviço da economia. E como se vive uma vida que está a serviço da economia, pode-se ver morte em todas partes do planeta.
Há pouco ouvia no jornal que vamos ter uma das maiores safras de grãos no Brasil e ainda assim milhares de pessoas morrem todos os dias de fome e desnutrição. Ou seja, não falta comida. O que falta é a comida chegar a mesa das pessoas.
Quarta-feira de cinzas nos convida para o arrependimento. Cada pessoa é chamada a fazer a sua parte. Se apenas uma gota de água cair na terra ela fará pouca diferença, mas se cair milhões e bilhões de gostas de água teremos uma chuva que trará uma nova vida, uma nova esperança. Nesse sentido queremos nos unir com todas as forças existentes. Vamos agir para que a economia esteja a serviço da vida. Porque esta é a vontade de Deus.
Concluo com uma história que tem como título Sementes Especiais:
“Um príncipe foi salvo da morte por dois camponeses de aldeias próximas. Agradecido deu a cada camponês um saco de sementes especiais. Muitos anos depois, já coroado rei, voltou para a aldeia para ver o resultado do seu presente. Ele encontrou o primeiro camponês que tinha ficado muito rico. Era dono de uma grande fazenda, mas vivia assustado, cercado de arame farpado e guardas, no meio da miséria dos vizinhos. A segunda aldeia ele quase não reconheceu. Tinha-se transformado numa comunidade maravilhosa, com boas escolas, estradas para escoar a produção. As pessoas viviam felizes. Nesta aldeia vivia o segundo camponês que em vez de ficar com as sementes que recebeu para si, distribuiu entre todos os moradores da aldeia.
Ervin Barg