E tudo era muito bom

Artigo

25/08/2006


Registramos no período de 21 a 28 de agosto a Semana da Pessoa Portadora de Deficiência. O fato não se presta para mobilizar a sociedade ensaiando atos de comiseração coletiva diante de pessoas com algum tipo de deficiência. Somos instados a deixar que brilhe o sol da esperança, dando vazão à alegria de viver e de promover quem vive sob as sombras da exclusão e da marginalização. Desejo que a ternura da solidariedade e a leveza da graça de Deus seja um alento a quem vive esta realidade e a quem se empenha pelas pessoas com deficiência.

Que faz o ser humano ser de fato pessoa humana? A pergunta não é nova. A história da humanidade desenvolveu padrões fixos que se aplicam à existência humana. Estamos habituados a medir a qualidade da pessoa a partir dos méritos, frutos da aparência exterior e da produtividade. Vida de qualidade é considerada um prêmio a quem melhor se adapta a critérios habituais no mundo moderno.

Os olhos da fé cristã conhecem outra realidade. A novidade procede do mistério da criação de Deus. A teologia bíblica considera a vida um dom, um presente do Deus Criador, jamais produto humano nem mera soma de órgãos e de membros. O espírito de Deus permeia a criatura; em conseqüência, a graça divina torna-se um referencial e liberta a criação da busca por qualificação meritória. Embora a Revolução Francesa, no século 18, tenha codificado os direitos fundamentais do ser humano dando ênfase à liberdade, à igualdade e à fraternidade, parece que o direito à fraternidade deixou de receber na sociedade atenção relevante.

A teologia articulada pela Reforma luterana, no século 16, enfatiza e valoriza a vida de todas as criaturas. Deus criou a mim e a todas as criaturas, assim consta nas palavras de Lutero, no Catecismo Menor. O testemunho da fé desmascara a visão hierárquica por demais aplicada na humanidade, colocando o mais forte sobre o mais fraco, o mais saudável sobre o doente e os sem-deficiência sobre pessoas com deficiência.

Tamanha constatação traz alerta: é indevido ao ser humano manipular ou discriminar quem não se enquadra nos padrões sociais estabelecidos conforme a ideologia dominante. Em razão da ação criadora de Deus, a pessoa humana é chamada à liberdade para servir, é animada a viver de forma solidária e é desafiada a empenhar-se pela prática da integração. Destaca o teólogo luterano Gottfried Brakemeier: Toda pessoa tem valor por si, é valor derivado do próprio ato criador; vidas frágeis precisam do amparo respeitoso da sociedade. Enquanto sustentada, de graça, pela bondade de Deus, a vida humana independe de méritos ou de benesses humanas.

Que esta semana, especialmente dedicada às pessoas com deficiências, possa servir de estímulo a uma visão permeada de reconhecimento e de respeito, como experiências vivenciadas no cotidiano .

Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville - SC

Jornal A Notícia - 25/08/2006

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