Em 10 de novembro de 1483 nascia Lutero. Enquanto Cabral chegava ao Brasil, Martinho estava na escola, preparando-se para ser advogado. Com certeza, escutou as boas novas da descoberta da América, as quais traziam esperança ao velho continente. A Europa sofria ainda as consequências da Peste Negra, onde à semelhança da Covid, mas com maior intensidade, morreu 1/3 da população. Para complicar ainda mais a situação, os turcos - que eram pagãos - estavam invadindo a Europa pelo lado oriental. A morte era um assunto frequente. As pessoas estavam sempre se preparando para o pior.
Martinho era um jovem como os demais. Estudava, cantava, tomava cerveja, curtia a família e os amigos. Mas, tinha muito medo da morte, o que o levou ao convento, onde teve a oportunidade de ouvir o Evangelho, primeiro ao conhecer o pensamento dos antigos teólogos da igreja e depois, por conta própria, ler as Sagradas Escrituras. Era uma época em que se estudavam clássicos. Mas, havia pouco acesso à Bíblia. Quando teve a oportunidade, Lutero passou a devorar as Escrituras. Com questionamentos pessoais, ele buscava respostas. Era uma pessoa de muita devoção, oração e leitura. Assim é que descobriu o verso: “O justo viverá por fé” (Romanos 1.17). Então, entendeu que o único mérito humano é a fé. Basta crer. Tudo o mais Deus faz e oferece.
Depois da Teologia, veio o tempo de ministério, onde serviu à igreja como padre. Neste período confrontou-se com a venda de indulgências. Na fome por dinheiro, alguns espertalhões - com a autorização superior - estavam vendendo assentos no céu. É possível comprar a salvação com dinheiro? É possível negociar com Deus? Lutero não tolerou tal prática. Por isso, escreveu as 95 teses, afixando-as no mural (porta) da igreja no dia 31/10/1517, que hoje é conhecido como o “Dia da Reforma”. Em resumo, ele afirmava que a Bíblia vale mais do que qualquer ensinamento ou costume da igreja. Toda prática da igreja precisa passar pelo crivo das Escrituras. Lutero começou a destacar - com constante firmeza - a questão da “graça”. De nada valem os méritos e as obras humanas. É Deus quem nos salva por intermédio de Jesus.
Comprou briga com a liderança e foi expulso da igreja. Todavia, encontrou apoiadores em todas os setores da sociedade. Havia muita gente inconformada com a religião oficial. Por fim, o Imperador não teve outra alternativa senão decretar a “liberdade de culto”. Oficialmente - dizia ele - somos católicos. Mas, se alguém quiser acompanhar os protestantes (assim foram inicialmente chamados) que fique à vontade. Aqui já observamos uma grande conquista da Reforma, que ainda hoje precisa ser lembrada e valorizada: Cada pessoa tem a liberdade de seguir sua religião e o seu jeito de cultuar a Deus.
Existe inúmeros avanços decorrentes do movimento da Reforma, onde cada qual mereceria uma reflexão própria. Todavia, destaco alguns bem presentes no culto e na sociedade. Como músico, Lutero insistiu para que o povo cantasse nos cultos. Aliás, o culto passou a ser feito na língua do povo. Antes, as missas eram em Latim. Todas as crianças, independente de classe social, precisam estudar. O governo é responsável pela escola. Aprendiam-se as letras para entender a Bíblia. Com a invenção da impressa, folhetos, livros e Bíblias chegavam às casas. Por fim, um destaque que impulsionou a Revolução Industrial. Assim como pessoas são chamadas ao ministério para servirem como pastores, outros também são chamados aos demais ofícios. Uma mulher serve a Deus como advogada, professora, dona de casa ou médica. Um homem pode servir como agricultor, construtor, sapateiro ou engenheiro. Naquilo que faço, preciso agradar a Deus, entendendo tal como a minha vocação.
Deus continua operando, construindo o seu Reino, chamando discípulos e discípulas e fortalecendo vocações. Tenha a coragem do Martinho, colocando-se à disposição do Senhor, sempre com alegria. Amém!
Em 1543, Martinho Lutero compôs e escreveu “Deus, o teu Verbo Guarda a Nós”...