Da história à meteorologia

Uma prédica para a Véspera de Ano Novo

31/12/2017

    E como foi o seu ano? Como você vai lembrar 2017?
    A internet e principalmente o Facebook estão cheios de retrospectivas. Mas, não é somente lá que podemos olhar para 2017 e vermos o que passou. Podemos ver e escutar na TV, na rádio, na conversa com os amigos. Acho tão interessante essa obrigatoriedade que nos faz rever a nossa vida e o mundo em retrospectiva. É um exercício sábio, dizem que devemos estudar história para não cometer os mesmos erros do passado, mas também dizem que o povo brasileiro tem memória curta. Então para que olhar para trás? O que traz para nós esse exercício?
   Sinceramente acredito que podemos e devemos olhar para trás para enxergar aquilo que aconteceu. Para meditar sobre a nossa existência e os fatos que se aconteceram, com ou sem a nossa intervenção, com ou sem a nossa vontade.
   E se olharmos com atenção para trás nestas últimas horas de 2017 poderemos enxergar algo diferente, que tal vez a gente não tinha visto na corrida louca dos ponteiros do relógio. Nós não estávamos sozinhos, sozinhas.
Você pode pensar: lógico! Nesta cidade com milhões de habitantes sempre tive alguém ao meu lado, ainda quando queria estar sozinho e em silêncio não podia porque a obra na casa do vizinho não deixava ou porque os berros pelos gols no meio da noite não me permitiam dormir. Nesta cidade que nunca dorme não tem jeito de sentir-se isolado. Sempre tem algum barulho, algum sinal que me lembra que não estou sozinho.
Mas, eu não estou falando disso, não olhamos com a devida atenção. Olhe com mais detalhe!
  Sabe, nesta cidade com mais de 6 milhões de habitantes, tem gente que se sente sozinho. Sente que está isolado em meio a tanta gente. Sente que não conta, que ninguém se importa consigo. Tem gente que vive no anonimato da multidão. Pessoas que acreditam que se sumir hoje, ninguém irá reparar. Gente que acha que se sumir da igreja ninguém vai perceber. Mas, essas pessoas também não enxergar com atenção. Por algum motivo, essas pessoas não enxergam direito.
   O texto do livro do Êxodo que foi lido a pouco, lembra a promessa de Deus antes do povo iniciar a travessia pelo deserto, antes sequer de atravessar o mar para entrar no deserto. A leitura de hoje está logo depois da última praga e da celebração da Páscoa. Hoje, somos lembrados pelo texto bíblico que devemos enxergar melhor. Que não estamos sozinhos em nossa travessia nesta vida. Talvez pela correria não consigamos enxergar, mas Deus está ali. A presença divina deixa sinais em nossa existência, deixa sinais ao nosso redor. Para os israelitas a presença de Deus era constante, mudando de acordo com a necessidade. Pois, não adiantava ter uma nuvem na noite, assim como também não ajudava muito ter uma coluna de fogo durante o dia no deserto abrasador. Deus se fez presente e guiava ao seu povo. Pelo milagroso do fato, ninguém duvidava que Deus estivesse junto com eles. Mas, mesmo assim, tempo depois, lá no deserto o povo reclamou e pediu para voltar e comer das panelas no Egito. Parece que as pessoas se acostumaram a presença de Deus, parece que as pessoas esqueceram que Deus estava junto com elas.
Por isso, volto a perguntar: E como foi o seu ano? Como você vai lembrar 2017?
   Será que você sentiu a presença de Deus, será que você conseguiu sentir Deus guiando a sua vida? Será que nós como Paróquia pudemos deixar-nos guiar por Deus?
   O historiador tem uma vantagem que o meteorologista não tem. A história já passou, falta conhecê-la em detalhe. A história precisa de um olhar aguçado, que enxerga as entrelinhas, que procura motivações, causas e efeitos na sociedade humana como um todo e nas pessoas de forma específica. A meteorologia também precisar ter um olhar aguçado, porém é diferente da história, até pode usar como fonte de conhecimento a história, se tais fatores se juntaram em tal contexto e deu este resultado então deveria de acontecer o mesmo novamente. Vocês devem saber mais do que eu que a previsão do clima nunca é uma certeza. Eu gosto da previsão do tempo do Centro de Operações do Rio de Janeiro, pois geralmente escrevem: Céus parcialmente nublados, com possibilidade de chuva isolada em diversas partes da cidade. Ou seja, pode chover e pode não chover. Assim é a meteorologia, pode ser que sim, pode ser que não. Pode ser que hoje o Réveillon em Copacabana seja com chuva ou não. A história diz que o Réveillon do ano passado não choveu, a meteorologia diz que no deste ano pode chover.
   Por que estou fazendo esta comparação entre história e meteorologia? Porque olhar para 2017 é mais fácil para nós do que olhar para 2018. Quanta coisa aconteceu em 2017 que ficarão marcadas em nossa memória. De 2017, nós temos certezas. Mas, de 2018 nós temos dúvidas.
   Como foi 2017? Você viu a mão de Deus agindo no ano que passou? Você sentiu que não estava sozinho nem sequer nos momentos mais difíceis de sua vida? Você sentiu que Deus estava com você? Talvez no meio da confusão você não enxergou a nuvem de Deus durante o dia ou nem conseguiu saber que a coluna de fogo à noite era Deus. Mas, você não estava abandonado. Assim como também, Deus não abandonou o povo brasileiro neste 2017 que teve tanta coisa acontecendo. 
  Olhar para trás é mais fácil e hoje neste último dia do ano, você pode aproveitar e olhar novamente, agora como um historiador. Olhe com atenção e verá que um fio vermelho aparece. Verá que Deus esteve junto com você e que enviou pessoas ao seu lado quando era necessário. Foi como aquele texto “Pegadas na areia” sobre uma pessoa que olha as pegadas na areia de sua vida e vê como Deus a acompanhou desde o início de sua vida, por isso existem dois pares de pegadas. Mas, dá-se conta que justamente nos problemas mais difíceis somente enxerga um par. Com dó no peito pergunta a Deus: Por que nesses momentos tão difíceis somente estão as marcas de um par de pegadas? Ao que Deus responde: nesses momentos eu te carregava!
Também hoje somos convidados a sermos meteorologistas de nossa vida. Não como qualquer meteorologista, pois somos convidados ter uma certeza: colocar o próximo ano nas mãos de Deus. Talvez as nossas previsões não consigam se cumprir. Talvez onde sonhamos e previmos um bonito dia de sol na praia termine sendo um dia de ressaca forte com ondas de vários metros. Talvez nossa vida não será aquilo que nós desejamos e sonhamos. Talvez, talvez, talvez as coisas andem pior do que melhor. Mesmo assim, vivamos que nem diz o Salmo 23, ainda que eu ande no vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo.
   Estamos cheios de boa vontade e de forças para lutar por um 2018 melhor que 2017. Não percamos a nossa esperança, Deus nos acompanha, assim como acompanhou o povo de Israel na sua caminhada pelo deserto. Olhemos com atenção, Deus estará conosco. Amém.


Autor(a): P. José Kowalska
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Rio de Janeiro - Bom Samaritano (Ipanema-RJ)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Antigo / Livro: Êxodo / Capitulo: 13 / Versículo Inicial: 20 / Versículo Final: 22
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 45568
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