Dons a serviço da vida

Exercício do ministério pastoral no COMIN – P. Sandro Luckmann

20/05/2021

O exercício do ministério pastoral no âmbito do Conselho de Missão entre Povos Indígenas (COMIN), evoca diversas reflexões, memórias de situações e diálogos acerca das motivações e vocação.

A ação da IECLB junto com povos indígenas é histórica, e ocorreu de forma ininterrupta desde 1961. Após duas décadas, em 1982, o Conselho da Igreja criou o COMIN. Entende-se que, desde o início da ação junto aos povos indígenas, a compreensão de dar continuidade do agir de Cristo no mundo, em diferentes lugares e culturas. No Livro de Batismo (IECLB) é afirmado que: “ao sermos inseridos no corpo de Cristo, pelo batismo, tornamo-nos comprometidos com a missão desse corpo que é a de dar continuidade ao ministério de Cristo no mundo. Isso significa estender a diaconia de Jesus a toda criatura e à sociedade: aliviar a dor e o sofrimento, trabalhar pela justiça e pela paz” (p. 33). Junto com os povos indígenas busca-se uma nova realidade de respeito, dignidade e vida, como nosso testemunho e serviço.

O despertar para a realidade e atuação ministerial junto aos povos indígenas, inicia no período dos estudos em teologia, na Faculdade de Teologia EST (São Leopoldo/RS). Desde o primeiro ano de estudo (1991) participei e integrei o Grupo de Interesse Marçal Tupã’y de Souza, que refletia e apoiava as ações do COMIN. A partir desde grupo, foi possível participar do curso de Formação Indigenista, ofertado em parceria pela Grupo de Trabalho Missionário Evangélico (GTME, constituído por pessoas do COMIN e outras pastorais protestantes indigenistas – metodista, anglicana e presbiterianas) e pela entidade Operação Amazônia Nativa (OPAN, na época ainda identificada como Operação Padre Anchieta), no ano de 1993, em Cuiabá/MT, juntamente com mais 2 estudantes da teologia e integrantes do grupo Marçal. Ainda no período de estudos em teologia, através do Setor de Intercâmbio, realizei um projeto de estudos na Bolívia, com enfoque no diálogo inter-religioso entre cristianismo e religiões andinas. Os dois momentos contribuíram na conclusão dos estudos em teologia e para o exercício do ministério no âmbito da IECLB, junto com os povos indígenas.

Em 2001, após aprovação ao ministério ao pastorado em Santa Cruz do Sul/RS (1998-1999) e a designação ao ministério pastoral na Paróquia Evangélica em Mondaí/SC (1999-2001), assumi o campo de trabalho do COMIN na região norte do Rio Grande do Sul e oeste de Santa Catarina. Região que atuei até 2020, assumindo a partir de 2017 também a atuação junto a região central, metropolitana e litoral norte do Rio Grande do Sul. A partir de 2020 assumo a coordenação geral do COMIN.

A motivação e vocação para atuação em todo esse período, sempre evocam a fala de uma liderança Kaingang, que participou de encontro no COMIN, nos anos 2000. A liderança afirmou, naquela oportunidade, que identificava dois tipos de igrejas ou missões religiosas nas comunidades indígenas: as que buscam ‘salvar’ almas; e as que buscam defender e ‘salvar’ vidas. Ao que concluiu, que a ação do COMIN era de defender e salvar vidas, sendo essa mais coerente com o Evangelho.

O respeito com os povos indígenas implica ouvi-los. Refletindo a partir do relato bíblico de Pentecostes (At 2.1ss), podemos nos perguntar ‘como os ouvimos’? Dar seguimento ao agir de Cristo, exige o ouvir respeitoso, estabelecer conjuntamente o entendimento, estar junto com os povos indígenas na busca da justiça e da paz, para defender e salvar vidas. Em João 10.10, Jesus anunciou: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”. O exercício do ministério pastoral no COMIN, buscar seguimento a este agir de Jesus, vida digna e respeitosa com os povos indígenas. Assim seja.

P. Sandro Luckmann
Coordenador do COMIN
 

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