Amados irmãos, amadas irmãs,
(A pregação inicia com recortes de jornais com notícias das últimas semanas).
A grande verdade é que nós vivemos no mundo das más notícias. Basta abrirmos um jornal para percebermos que, de fato, a queda do ser humano em Gênesis 3 é mais real do que se possa imaginar. Aliás, bastou os laços entre Deus e os seres humanos serem quebrados em Gênesis 3 para que, em Gênesis 4, Caim tirasse a vida de Abel, o seu próprio irmão. As manchetes surgem da queda. Vivemos em um mundo caído no pecado e afastado da presença de Deus. Há quem diga que o ser humano nasce bom, mas é corrompido pela sociedade. Mentira! Do ponto de vista bíblico, por causa da queda em Gênesis 3, todos já nascemos afastado de Deus e inclinados a fazer o mal. Tudo o que fazemos está debaixo do sinal do pecado, até mesmo as coisas boas, diria Lutero. Agostinho de Hipona, um importante teólogo do início da era cristã, diz: “eu não posso não pecar”. Mesmo que a sociedade veja a realidade do pecado como algo que não existe, basta abrirmos um jornal para descobrirmos que há algo bem errado com o ser humano.
Mesmo que pratiquemos uma boa moralidade e nos achemos superiores por fazermos “tudo certo”, diante de Deus isso não vale absolutamente nada para a salvação. Desde Gênesis 3 nós estamos completamente afastados de Deus. Isaías 59.2 nos diz: “Mas as iniquidades de vocês fazem separação entre vocês e o seu Deus;”. Paulo também nos diz em Romanos 3.23: “Todos pecaram e carecem da glória de Deus.” Paulo diz também em Romanos 3.10-12: “Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus. Todos se desviaram e juntamente se tornaram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer.” Poderíamos pensar: “Mas há quem faça o bem”. Sim. Porém, debaixo do sinal do pecado, mesmo o bem que praticamos é mal se o fazemos para conquistarmos a salvação, já que o nosso próprio esforço não consegue superar a separação que há entre Deus e os seres humanos. O bem que fazemos também está debaixo do sinal do pecado. O ser humano é alguém rebelde e que naturalmente se inclina a virar suas costas para Deus ao invés de viver diante de Deus.
Estas são péssimas notícias. As notícias, porém, não são o problema original. Elas são apenas os sintomas de algo muito mais profundo e trágico: o afastamento do ser humano de Deus a partir de Gênesis 3. O problema original leva a existirem problemas cotidianos. Nosso relacionamento com Deus foi quebrado. A partir disso, o ser humano quer ser o seu próprio deus, encurvado em si mesmo e voltado apenas para os seus próprios desejos e vontades. O ser humano quer realizar sua vontade de potência e ser seu próprio deus, não permitindo em sua vida nenhum outro deus a não ser ele mesmo.
A mensagem do profeta de Malaquias também surge em um contexto complicado. Na verdade, não sabemos o nome do autor do livro. Seu nome não é Malaquias. A palavra Malaquias no hebraico do Antigo Testamento significa o mensageiro do Senhor. Portanto, o livro foi escrito por alguém que está trazendo uma mensagem tão importante que nem o seu próprio nome foi mencionado. Ele escondeu o seu nome para que nada chamasse mais atenção ou fosse mais importante que a mensagem que ele trazia. Sim! Para o profeta do livro Malaquias, a mensagem é mais importante que o mensageiro.
Este profeta – de nome desconhecido – viveu em um período complicado da história do seu povo. Judá já havia retornado do exílio babilônico. Havia, inclusive, reconstruído o grandioso Templo de Jerusalém. Porém, os tempos de glória vividos com Esdras e Neemias eram coisa do passado. O profeta de Malaquias vive em um tempo de bastante frieza espiritual e ceticismo; um tempo em que as pessoas tinham dificuldades em acreditar verdadeiramente em Deus. O povo estava cumprindo seus rituais de maneira automática e sem reflexão. Havia muitos rituais, mas pouca adoração verdadeira ao Deus vivo. Seja quem for o autor desse livro, certamente o nome dado ao livro faz jus ao seu conteúdo: ele foi um verdadeiro mensageiro do Senhor.
O livro Malaquias pode ser dividido em duas partes: nos caps. 1-2 nós encontramos a denúncia do profeta ao pecado do povo; nos caps. 3-4 nós lemos sobre o julgamento de Deus para a purificação do seu povo dos seus pecados. O profeta de Malaquias faz um apelo poderoso, apaixonado e suplicante. A mensagem do profeta é que o povo se arrependa dos seus pecados e volte a Deus. O Dia do Senhor virá. É preciso estar preparado, antes que seja tarde.
Malaquias está colocado como último livro do Antigo Testamento para que ao lermos seu conteúdo, nos preparemos para a boa-nova do Novo Testamento.
No cap. 3, verso 1, o profeta de Malaquias fala do Mensageiro do Senhor que irá preparar o caminho. Intérpretes da Bíblia atribuem essa função a João Batista. Importante é destacar as funções: João Batista é o mensageiro da Aliança, mas não é quem efetua a Aliança. O que é uma aliança? É um laço que não pode ser desfeito. Estávamos afastados da presença de Deus por causa do pecado. Porém, o profeta de Malaquias está anunciando que virá aquele que será o mensageiro da Aliança. Contudo, não é o mensageiro da Aliança quem morre em uma cruz para conceder salvação ao ser humano perdido.
A profecia se cumpriu. João Batista é aquele que veio para preparar o caminho do Senhor. Inclusive, a mensagem de João Batista era muito parecida com a mensagem do profeta de Malaquias: ambos enfatizam a necessidade do arrependimento e conversão. Assim nos diz João 1.6-8: “Houve um homem enviado por Deus, e o nome dele era João. Ele veio para testificar a respeito da luz, para que todos viessem a crer por meio dele. Ele não era a luz, mas veio dar testemunho da luz, a verdadeira luz, que, vinda ao mundo, ilumina toda a humanidade.” João não era a luz, mas veio dar testemunho da luz. Da mesma forma, João não é o realizador da Aliança, mas apenas o mensageiro da Aliança, pois a realização da Aliança acontece com a morte do Messias na cruz.
É preciso destacar que – ao contrário do que se vê hoje – João Batista não coloca glória nenhuma sobre si. Assim como o profeta de Malaquias – cujo nome até desconhecemos –, também João Batista esconde a si mesmo para que apenas Jesus apareça. Ele diminui para que Jesus cresça. Hoje nós vemos humanos que em nome de Deus querem fazer grandes os seus próprios nomes. São capazes de tudo para isso. Usam o nome de Deus para qualquer coisa, seja em igrejas, na política, no futebol, assim por diante. Usam o nome de Deus em nome de uma glória própria, enquanto João Batista se escondia para que em sua vida todos vissem apenas a Jesus.
A profecia do profeta de Malaquias se cumpriu. João Batista veio a ser o mensageiro da Aliança, aquele que preparou o caminho para a vinda de Jesus. E isso lhe custou caro! Falar a verdade pode custar caro! No caso de João Batista, falar a verdade lhe custou a própria cabeça, pois foi decapitado. Importante é não calar a verdade sobre o Reino de Deus mesmo que os ouvidos doam e os corações se fechem como pedras ou mesmo que os comentários nas redes sociais sejam os mais ofensivos possíveis! É preciso ter a mesma coragem de João Batista, mesmo que isso custe a nossa própria cabeça. A verdade não pode ser calada mesmo que grande parte das pessoas se neguem a vê-la face a face.
No cap. 3, verso 2, lemos: “Quem suportará a sua vinda? E quem poderá subsistir quando ele aparecer?” De fato, houve quem não suportou a vinda de João Batista, o mensageiro da Aliança. Menos suportável ainda foi a vinda do Realizador da Aliança: Jesus Cristo. Como o Messias e Deus poderia nascer dentro de um paiol sujo, fedido e cheio de coco e xixi? Queridos e queridas, assim como as pessoas daquela época, muitas vezes também nós procuramos a glória de Deus no lugar errado. Queremos a glória de Deus em grandes manifestações. Porém, a glória de Deus escolheu se revelar em um paiol sujo e fedido.
A boa notícia – em meio às tantas péssimas notícias – é que o Messias não veio para julgar e castigar o mundo, como esperava o profeta de Malaquias. Por isso, é sempre importante interpretar a Bíblia a partir dela mesma. Até mesmo os discípulos de Jesus esperavam o dia em que ele se assentaria no trono em Jerusalém para que, como Rei, governasse e julgasse o seu povo. Também os discípulos foram contaminados pela fome de poder. Da mesma forma, também hoje parece que tudo o que os evangélicos querem é o poder, enquanto, na verdade, o Reino de Deus não é deste mundo. Porém, Jesus não veio para assentar-se em um trono terreno, mas para morrer na cruz. Embora isso seja completamente inesperado aos seres humanos, nunca foi inesperado ao próprio Deus.
O menino que nasceu em Belém não veio para julgar o mundo, mas para morrer em nosso lugar na rude cruz. Esse é o claro objetivo da sua encarnação. A cruz não foi um erro de percurso, mas a realização do plano de salvação. Na cruz, o justo se torna o pecado para que os pecadores sejam tornados justos. Na cruz, o completo afastamento dos seres humanos de Deus é eliminado. Talvez nos perguntemos: “Mas Deus não poderia simplesmente perdoar os seres humanos, sem a morte de seu Filho na cruz?” Se isso acontecesse, Deus estaria corrompendo a sua própria justiça, pois não é justo simplesmente absolver quem tem dívidas a pagar. A justiça precisa ser feita. Outra solução seria então a eliminação de toda a humanidade, para sempre. Porém, isso iria contradizer o amor de Deus que não quer a aniquilação do ser humano, mas a sua salvação. Assim, o próprio Deus na pessoa e na obra do Filho morre em uma cruz, cumprindo, ao mesmo tempo, a justiça e o amor de Deus: a justiça porque alguém assumiu toda a culpa, como deve ser; o amor porque não estamos mais perdidos e condenados, mas fomos salvos através da obra de Cristo na cruz. Assim, Jesus veio de maneira completamente diferente da esperada pelo profeta de Malaquias. Graças a Deus! Glória a Deus!
Amados irmãos, amadas irmãs,
em meio às tantas notícias ruins do mundo presente, o profeta de Malaquias nos traz a maravilhosa boa-nova da Aliança de Deus com o ser humano. A Aliança, no Antigo Testamento, sempre era realizada com o derramamento do sangue de animais; agora, a Nova Aliança (Novo Testamento) é feita através do derramamento do sangue do próprio Filho de Deus.
Esta é uma excelente notícia: o Messias não vai nascer novamente no dia 25 de Dezembro. Ao contrário, ele já veio. Como Emanuel, está conosco enquanto vivemos o Tempo da Igreja com tantas manchetes ruins e até indignantes. Ele não vai nascer novamente, mas já está entre nós. O Natal não é a espera de um novo nascimento de Jesus, mas a comemoração daquilo que já aconteceu. Ele veio não como um juiz implacável, mas como um “amigo mais chegado que um irmão”, amável e querido. Essa é uma boa notícia!
Porém, o advento possui uma outra dimensão por vezes esquecida: a esperança na volta de Jesus. Sim! Um dia ele voltará! Ele virá novamente! Desta vez, em poder e glória. Desta vez, para salvar os arrependidos e julgar os perdidos. Portanto, o tempo de preparação é agora, antes que a última trombeta ressoe sua nota de aviso. A volta de Jesus será um evento tão impactante e grandioso que até mesmo os mortos serão despertados para contemplarem a vinda do Messias (cf. 1 Tessalonicenses 4.13-18). Aqueles que agora descansam na sepultura – em corpo e alma – e que criam verdadeiramente em Jesus Cristo como Senhor e Salvador serão despertados para se mudarem para o lar permanente e eterno, enquanto o que não criam e nem confessavam Jesus Cristo como Senhor e Salvador serão ressuscitados para a perdição e condenação eterna.
Portanto, estejamos a todo tempo preparados, pois não sabemos em que dia o Salvador virá. Nos diz Mateus 24.36: “Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão o Pai.” Portanto, esteja preparado! Cuidado com as tentações deste mundo perdido. Como Jesus nos encontraria se a sua volta fosse exatamente neste momento? Estamos levando a vida de fé à sério? Ou estamos brincando de igrejinha? A própria Escritura demonstra que suas promessas se cumprem quando, ao seu tempo, Jesus nasceu entre nós. Da mesma forma, podemos crer e esperar pelo dia em que ele virá novamente. Para os que creem, a volta de Jesus será uma boa notícia. Que seja também a todos nós que ouvimos a Palavra de Deus neste dia.
Sejamos também como o profeta de Malaquias. Não queiramos fazer o nosso nome maior que o nome de Jesus, afinal de contas, o nome de Jesus é o nome sobre todo nome (cf. Filipenses 2.5-11). Em nosso dia a dia, também nós sejamos Malaquias, ou seja, mensageiros do Senhor. Às vezes compartilhamos tantas besteiras nas redes sociais. Vamos compartilhar da boa notícia da lembrança da primeira vinda de Jesus e da esperança da volta de Jesus para que mais pessoas creiam e sejam salvas no último dia.
Em meio às notícias do dia a dia, lembremos da melhor notícia que o mundo já recebeu: “É que hoje, na cidade de Davi, lhes nasceu o Salvador, que é Cristo, o Senhor”. (Lucas 2.11). Se essa não for a principal notícia do natal, então não há natal! O natal tem se resumido a presentes e Papai Noel. Porém, sem Jesus, não há natal! Com Jesus, mesmo sem presentes, pinheirinho ou Papai Noel, há natal. Vamos cuidar com aquilo que estamos ensinando aos nossos filhos em casa. Não foi Papai Noel quem morreu na cruz! Aliás, o próprio Nicolau de Mirra em quem o Papai Noel é inspirado estaria horrorizado com o imaginário criado em torno dele nos dias de hoje.
Hoje é o Domingo da Notícia e a notícia é esta: O Salvador já veio e voltará novamente. Recebamos essa notícia com alegria e gratidão. Ele nos uniu a Deus novamente. Os méritos são dele, não nossos. Isso é graça.
Amém.
2º DOMINGO DE ADVENTO | VIOLETA | CICLO DO NATAL | ANO C
05 de Dezembro de 2021
P. William Felipe Zacarias
Outras pregações da série Advento é tempo de preparação:
#1: Domingo da Esperança
Link: https://luteranos.com.br/textos/domingodaesperanca
#3: Domingo da Justiça
Link: https://luteranos.com.br/textos/domingodajustica
#4: Domingo da Paz