Discípulos - Mateus 10.7-15

Prédica

18/07/1971

DISCÍPULOS

Mateus 10.7-15

Juiz de Fora, 18-7-1971 


Através daquilo que Jesus realiza — e através daquilo que seus discípulos realizam — acontece o Reino de Deus. 

Quer dizer: os discípulos de ontem e de hoje nada mais fazem do que participar do trabalho do próprio Jesus. Os discípulos de ontem e de hoje repetem, imitam, refletem todos aqueles gestos do Senhor — que edificam e concretizam o Reino de Deus neste nosso mundo. Assim como Jesus não se limitava a transferir para o futuro (ou para o céu!) a verdadeira solução de problemas concretos da vida humana — também seus discípulos não podem se atrever a só consolar e iludir as pessoas — com vagas promessas de que. no além, tudo vai melhorar. Não! (Aliás, essa é a atitude mais fácil.) 

Presença de Jesus é a presença do Reino de Deus. E a atividade dos cristãos, no mundo, é uma atividade típica do Reino de Deus. E é por isso, — só por isso! — que o mundo não pode continuar a ser o vale de lágrimas, o mar de sangue, o poço de injustiças que é! E o mundo certamente não continuará a ser só isso. A presença do Reino de Deus no mundo, se traduz, se expressa através de uma série de acontecimentos bem palpáveis e visíveis: os enfermos são curados, mortos são ressuscitados, uma boa e nova mensagem é levada aos pobres. É como se os discípulos tomassem o pincel e fossem colorindo os palavrões escritos num muro, num mictório público. É como se tornassem a borracha para apagar todas as crueldades e mentiras escritas numa carta maldosa.

No entanto, a borracha nem sempre apaga tudo. Com o que chegamos ao problema central dessas palavras de Jesus: Onde estão sendo curados os doentes — hoje? É verdade que os pobres estão ouvindo uma novidade agradável — ou só resta a demagogia do Pró-terra? E quando é que acontecem, afinal, as ressurreições de mortos — hoje? Onde acontecem? 

São Perguntas incômodas. Porque. de fato, o Evangelho não faz e não admite divisões diferenciações entre prédica, diaconia, evangelização e missão. É tudo uma coisa só, no fundo: dar testemunho e — curar um leproso. Assim como a salvação trazida ao mundo inteiro — o que o mundo tem ,a receber é salvação toda! Não existe, nunca existiu uma separação entre corpo e alma, uma distinção entre sagrado e profano, uma diferença absoluta entre material e espiritual. Isso só existe para pagãos. Para cristãos, Evangelho quer dizer: salvação inteira para o homem todo. 

Assim sendo, as palavras de Jesus não resolvem necessariamente nossos problemas. Podem até torná-los mais urgentes, mais agudos. 

Onde e quando acontecem os sinais da presença do Reine de Deus? Dizer que tudo isso não acontece mais porque a fé se tornou morna — ou porque, a Igreja ficou gelada — ou porque a confiança morreu — é a resposta mais fácil e mais mentirosa. Os que falam assim também não conseguem ressuscitar os mortos — mas aproveitam para baixar o cacete em cima de todos os outros (descontados amigos do peito, claro!). 

E por que isso é mentira? Porque não poucas pessoas dedicaram uma vida inteira para que tivéssemos os atuais progressos na medicina e na farmacologia, as bênçãos da técnica, as facilidades dos meios de comunicação. Quem não consegue acreditar que Deus seja capaz de realizar milagres através de um médico, de um cientista, de um técnico, de uma mãe — também não acredita em Deus. Essa é que é a verdade! 

Mas ainda há outra observação mais importante a fazer: Os discípulos são enviados para todos aqueles lugares críticos — onde seres humanos são desenganados — onde as situações parecem sem saída — onde não há mais esperanças. Em outras palavras: os discípulos de ontem e de hoje são enviados por Jesus, para realizar aquilo que não podem — aquilo que é grande e difícil demais. 

Para quê? Para ficarem desanimados? Para ficarem na fossa? Não! Jesus não é bobalhão. O que os discípulos de ontem e de hoje precisavam aprender é que o Senhor — só o Senhor! — nos dá — nos dá! — a capacidade de realizar — impossível. Ali, onde o homem — onde o mundo está mais ameaçado do que nunca — é posso lugar! Toda vez que nós dizemos: Oh! isso foi sempre assim — não muda mesmo! — nesse momento estamos confessando que as piores porcarias são — todo-poderosas e eternas. Bom, e essa confissão de fé — também é uma porcaria! 

* * *

Jesus nos convida a uma coisa diferente: a não aceitarmos as circunstâncias, as situações, assim como se apresentam. Jesus nos convida a lutar por todas as modificações necessárias. Por isso, a verdadeira oração, o verdadeiro testemunho, a verdadeira esperança só podem existir exatamente no lugar do sofrimento, da desgraça, da maldade e da infelicidade. 

Tudo isso exige mobilidade. Por isso o discípulo vai de um lugar a outro. Por isso o discípulo não se preocupa demais com a quantidade de ouro, roupas e calçados, que possui. A preocupação do discípulo é bem outra: como dar dinheiro, roupa e calçado a quem não os tem? 

Mobilidade, por outro lado, quer dizer: liberdade, Discípulo é aquele que se tornou capaz de tornar distância de si mesmo. E verificar que é que ainda o prende, o compromete. Claro, seria muito mais fácil proibir isso e aquilo. E bom número de gente que se diz cristã e evangélica, fica proibindo isso e aquilo. Serão realmente livres, esses apóstolos e discípulos das proibições? Terão, realmente, paz? 

***

Com isso chegamos às conhecidas sacudidas do pó das sandálias (vv. 14 e 15). 

Honestamente, não posso informar a ninguém quando será a hora de sacudir o pó dos pés. Porque aquele que não aceitar hoje a palavra de Jesus, talvez a ouça e aceite daqui a vinte anos! Quem poderá saber isso, de antemão? 

Mais ainda: quem de nós pode ter certeza absoluta de que já ouviu, já aceitou e já está vendo o Evangelho?

Sejamos modestos: deixemos Sodoma e Gomorra para o juízo — que pertence a Deus. 

Deixemos de lado a fácil tarefa da condenação. E fiquemos com a tarefa menos fácil — mas muito mais bela! — de dar de graça aquilo que Jesus nos deu de graça. 

Amém.

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Autor(a): Breno Arno Schumann
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Juiz de Fora (MG)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 10 / Versículo Inicial: 7 / Versículo Final: 15
Título da publicação: Ressurreição - Centro Ecumênico de Informações / Editora: Tempo e Presença Editora Ltda. / Ano: 1973 / Volume: Suplemento Número 4
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 22272
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Ele, Deus, é a minha rocha e a minha fortaleza, o meu abrigo e o meu libertador. Ele me defende como um escudo, e eu confio na sua proteção.
Salmo 144.2
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