Diálogo inter-religioso

18/01/2011

Durante este início de ano acompanhei através das correspondências de e-mail várias celebrações e diálogos inter-religiosos. Reconhecemos nisso a globalização que ocorre, rapidamente, entre as culturas e repercute nas civilizações e nas tradições religiosas. Na era da informatização, é possível, pelo computador de nossa casa, acompanhar diversas manifestações religiosas. A globalização impulsionou o cenário religioso e trouxe novas perspectivas.

As inúmeras expressões religiosas marcam o cenário global. O crescimento acelerado de alguns países orientais e suas culturas para outros locais do mundo trazem até nós um novo “cenário”. Países como China, anualmente, recebem milhares de pessoas para visitar e conhecer seus templos religiosos. Falar de religião é algo universal e necessário: um tema que alcança diversos meios como universidades, musicais, documentários, novelas, peças teatrais, livros e rodas de conversa entre amigos.

Constantemente somos abordados com questionamentos pelos membros de nossas comunidades. Existe sim, a possibilidade de não termos respostas para todas as perguntas, ou o risco de julgarmos aqueles que pensam diferente de nós ou de simplesmente ignorarmos as questões. Alguns ministros luteranos atuantes em Hong Kong relatam, por exemplo, que a sociedade oriental também se depara com os questionamentos trazidos pelo cristianismo. Nesse sentido, muitos são os convites para falarem de sua fé cristã, nos ambientes públicos e privados.

Não é nenhuma novidade que principalmente nossos jovens já conhecem um “pouco” de cada doutrina religiosa. O interesse deles é tão evidente que no período prático de habilitação ao ministério em um contexto metropolitano, alguns pais chegaram a perguntar por temas nessa área. Em um único bairro, muitas vezes, há várias religiões. Nas cidades menores, mesmo que em menor grau, não é diferente.

Na Austrália existe um grupo de UNIDADE que ressalta parte de um texto do Concílio Mundial de Igrejas e que nos concede algumas orientações: “Guidelines on Dialogue with People of Living Faiths” (Orientações no diálogo com pessoas de diferentes credos). Um dos tópicos destacados pelo Concílio de Igrejas, sugere: “a fé cristã no trino Deus, criador de toda a humanidade, redentor em Jesus Cristo, Espírito revelador e renovador, convida os cristãos no relacionamento com outras tradições religiosas, povos e culturas. Essa relação inclui o diálogo constante, testemunhando nossas convicções mais profundas e ouvindo as dos outros. É a fé cristã, que nos liberta para sermos abertos às crenças dos outros, ao risco, a confiança e, até mesmo, a vulnerabilidade. No diálogo, a convicção e a abertura são mantidas pelo equilíbrio. O diálogo é um jeito de viver, um relacionamento com o diferente, o que não substitui ou gera limites em nosso dever cristão de testemunhar nossa fé, pois somos companheiros nos compromissos que nos unem.” [1]

Há muitas questôes éticas, sociais e comunitárias que merecem seu espaço de reflexâo nas comunidades religiosas. Não cabe aqui citá-las, mas podemos pensar a partir do nosso próprio contexto. Sabe-se que apenas rejeitar o diferente não é a solução, principalmente em uma sociedade pós-moderna onde as pessoas, diáriamente, interagem com outras que pensam diferente, seja no trabalho, na escola ou até mesmo dentro de suas casas, no contexto familiar. Certamente, muitos são os que optam pelo isolamento, pelo distanciamento ao diálogo, limitam-se pelo medo ou receio daquilo que possa contrariar suas convições, em vez de afirmá-las ainda mais. A interação entre expressões religiosas distintas em nada deveria desistimular a crença de uma pessoa ou doutrina de uma religião.

Outro aspecto a ser considerado é uma “plataforma” no compromisso humanitário, distinto de outras épocas, abordando os fatores políticos, sociais e ambientais. Uma “plataforma” que nao se constrói isoladamente de outras raças, culturas e credos. Mais do que nunca, as religiões clamam e caminham juntas para o bem do bem da humanidade. Antes de julgarmos o que nos torna diferentes, necessitamos vivenciar aquilo que nos torna iguais e que nos motiva para sermos “sal e luz” no mundo de Deus. Ser sal na vida de tantas pessoas que perderam o sabor pelo viver e ser luz na vida de tantas pessoas que se sentem na escuridão.

Nos quatro Evangelhos, percebemos que Cristo não se limitou aos questionamentos particulares de cada grupo religioso de sua época, mas sim enfatizou o alvo maior, o reino de Deus. A acolhida que Jesus reserva aos pecadores no Evangelho e a oposição que isso causou por parte dos defensores da lei, que o acusavam de ser um comilão e um beberrão, amigo de publicanos e pecadores (Lc 7, 34).

A transformação do mundo não acontece através das disputas de convicções ou interesses, mas no amor e no respeito baseados e fundamentados na criação de Deus e nas relações humanas. Relações que geram tanto a injustiça quanto a justiça, tanto o mal, quanto o bem. “Amai uns aos outros assim como eu vos amei”, torna-se indispesnável e fonte de motivação para estabelecermos metas conjuntas (Mc 12,30 ; Jo 13,34). É o amor que nos reconhece como discípulos. Sem amor, afinal, que discípulos somos?

O diálogo inter-religioso não pretende minimizar nossas convicções particulares e nem pode, pois deixaria assim de ser entendido como diálogo. O diálogo inter-religioso quer nos convidar ao compromisso de amarmos mais e julgarmos menos, perdoarmos mais e condenarmos menos. Sabemos que ainda assim é dificil refletir essas questões no contexto comunitário de qualquer religião, pois onde há pessoas que, por falta de comprenssão, minimizam a beleza da “ação” conjunta ou pensam que perderão algo com isso. Lamentavelmente, atitudes de violência se fazem presentes em muitos países e, talvez, em cada um e cada uma de nós. Toda e qualquer atitude de violêcia só demonstra a falta de compromisso com a existência humana, com a criação de Deus.

Como pessoas chamadas por Deus, oremos pela unidade, pela força da vida entre nós, pela sabedoria, pelo amor que habita em nossos corações, pelas pessoas que sofrem intolerância, e, inclusive, pelas que praticam a intolerância. Deus, em tua graça, transforma o mundo!

Pastor Sidnei Budke
Tapejara, RS

[1] Interfaith Dialogues in Australia Guidelines and Resources for Interfaith Dialogue. Ver: http://assembly.uca.org.au/rof/interfaith-dialogue

 


Autor(a): Sidnei Budke
Âmbito: IECLB / Sinodo: Planalto Rio-Grandense
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 8659
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