Nos dias de hoje há uma tendência das pessoas - solteiras, casadas ou descasadas -, independente de sua faixa etária, de buscarem em suas relações afetivas um permanente enamoramento. O namoro assume um caráter inovador. Vai além de um aspecto meramente formal como fase anterior ao noivado e ao casamento. As pessoas expressam nos seus relacionamentos um cuidado constante e procuram nutrir-se mutuamente. Na sinceridade, na cumplicidade e na fidelidade partilham sentimentos e respeitam a individualidade do outro.
O dia 12 de junho foi convencionado como Dia dos Namorados. Por ocasião desta data a publicidade sugere que a troca de presentes é sinônimo de amor. Os balcões das lojas podem se transformar em altares de consagração de elementos litúrgicos colocados a serviço do fortalecimento das relações afetivas dos casais (e também da economia nacional!).
Segundo Flávio Gikovate: “O romantismo do século XXI não será mais essa idéia da fusão de duas metades, e sim a aproximação de dois inteiros. Uma coisa mais parecida com a amizade, com mais afinidade intelectual do que física.”
Isso quer dizer que as pessoas procuram caminhar juntas, reconhecem as suas diferenças e preservam a autonomia mútua. Elas são mais independentes em suas relações. Isso se torna evidente no século XX em que houve o ingresso significativo das mulheres no mercado de trabalho e, portanto, menos carentes de um provedor. Os homens, por sua vez, começaram a descobrir que o seu papel dominador e machista sinalizava uma relação desigual e, muitas vezes, autoritária.
O processo de descoberta dos novos papéis modifica as relações afetivas e amorosas. Assumir uma relação emocional amadurecida significa quebrar, ao mesmo tempo, a dependência dos pais (“deixa o homem pai e mãe”- Gêneses 2.24) e também a dependência emocional total do outro. Duas pessoas formam uma unidade ( “uma só carne” – Gêneses 2.24) na alteridade e não na complementaridade. Alteridade significa reconhecer o outro na sua diferença, interagir e crescer numa relação de reciprocidade. Permanece o princípio bíblico do respeito e da partilha, mas o dito bíblico, marcado por uma cultura patriarcal, recebe um sentido contemporâneo. O amor e a afetividade tornam-se tônicos de crescimento pessoal e relacional. As pessoas enamoradas vivenciam cotidianamente a doação mútua e troca afetiva.
P. Rolf Schünemann
Publicado na edição 73 do Informativo dos Luteranos - junho/2008