Dia do Senhor - um dia para a solidariedade

Prédica

01/06/2018

Prezada Comunidade - estimados rádio-ouvintes:

Num sábado – isto é – num dia sagrado para os judeus – Jesus e os seus discípulos estavam atravessando uma plantação de trigo. Enquanto caminhavam, os discípulos iam colhendo espigas.

Uma das 613 leis da Torá dizia o seguinte:
Quando estiver atravessando o campo de trigo ou de cevada que pertence a outro israelita, você poderá comer todas as espigas que puder colher com as mãos; porém não use uma foice para colher as espigas (Dt. 23.25) Da mesma forma era possível comer uvas, frutas. O que não podia era carregar os frutos num cesto.

Portanto. Jesus e os seus discípulos não estavam roubando nos campos de trigo. Não havia nada de errado no que eles estavam fazendo. A crítica dos fariseus era colher espigas - isso era algo proibido no sábado.

Jesus lembra aos fariseus que o sábado foi feito para o ser humano. O sábado surgiu como lei lá no Antigo Testamento. Os israelitas escravos no Egito não tinham um dia de folga sequer. Eles tinham de trabalhar todos os dias em jornadas acimas de 12 horas diárias. Escravo não tinha descanso. O sábado foi reivindicado pelos escravos como um dia em que não se precisasse trabalhar como escravo. Um dia de liberdade. Um dia em que não se precisasse servir a nenhum senhor. Foi uma reivindicação trabalhista. E o fundamento era teológico: Deus também descansou. Depois de trabalhar duramente todos os dias na Criação do mundo, Deus descansou. Eu me imagino que o descanso de Deus era mais ou menos como ficar de pernas pro ar.

Mas, logo veio a lei, que determinou que no dia de descanso era preciso fazer alguma coisa. Não podia ser um dia de preguiça. No dia de descanso era preciso santificar a Deus. E com o tempo, esse dia de descanso virou um dia de catecismo, um dia de oração, um dia de estudo da Palavra de Deus. O sábado era dia de ler, de ouvir, de estudar a Palavra de Deus. Portanto, já não era mais um dia de descanso. E logo surgiram outras leis complementares em relação ao sábado: Quantos passos era permitido dar no sábado, quanto peso se podia carregar, que atividades era proibido fazer, etc.... Desta forma, as diversas leis transformaram o dia de descanso num dia cheio de proibições.

Assim era o sábado no tempo de Jesus. Um dia cheio de proibições. Por isso, os fariseus criticam a Jesus. Por que é que os seus discípulos estão fazendo uma coisa – colher espigas - que a nossa lei proíbe fazer no sábado?

A resposta de Jesus nos leva a refletir o que é santificar a Deus dia de descanso. Para Jesus, Deus é santificado quando quem tem fome encontra alimento. Deus é santificado quando quem está doente encontra cuidado e assistência. Para Jesus, nós santificamos a Deus quando praticamos a solidariedade, a misericórdia, a compaixão. Isso é santificar a Deus.

Mas então não precisamos ir ao culto?
Sim, precisamos ir ao culto porque o ser humano gosta de se santificar a si mesmo com suas boas obras. Existem pessoas muito solidárias, e mesmo assim não agradam a Deus. Pessoas que gostam de contabilizar suas boas obras dizendo que “eu fiz isso, eu ajudei naquilo, eu doei aquilo outro”. Essa não é a maneira correta de ser uma pessoa solidaria, de servir a Deus. Quem quer ser solidário deve ajudar por gratidão a Deus. A solidariedade, a compaixão deve ser uma forma de expressar nossa gratidão a Deus pelas bênçãos, pelo cuidado que Deus teve conosco. Isso se refere também a nossa contribuição financeira para a igreja. Não é Deus que deve estar agradecido conosco por causa de nossa contribuição à igreja. Somos nós que devemos expressar nossa gratidão a Deus pelo que ele já nos deu. A partir disso, o valor de nossa contribuição expressa o tamanho de nossa gratidão. Jesus disse que a viúva pobre – que pôde dar somente algumas moedas – deu muito mais do que outros que deram uma maior quantidade de dinheiro. As poucas moedas daquela viúva representaram tudo o que ela tinha, desta maneira sua gratidão a Deus foi maior do que outros que não deram tudo, deram apenas algo.

Portanto, Jesus traz aqui um novo ensinamento: o dia de descanso não deve ser um dia de proibições, mas um dia para promover a solidariedade e a compaixão. Um dia para demonstrar nossa gratidão a Deus. Um dia para praticar a generosidade. Um dia para fazer algo pelos outros.

Hoje em dia, por razões econômicas muita gente para sobreviver precisa trabalhar 7 dias por semana. Ou fazem biscates no fim de semana, ou fazem a arrumação da casa no fim de semana. Por razões econômicas, muitos membros da família trabalham de forma desencontrada na indústria de tal forma que nem fins de semana podem passar juntos.

Assim, o nosso dia de descanso – deixou de ser um dia de solidariedade e se transformou num dia a mais de trabalho. Nesse sentido, parece que voltamos ao tempo da escravidão no Egito, onde não havia dia de descanso. E diante da realidade de mais de 14milhões de desempregados e de outros 20milhoes de pessoas que trabalham por conta própria – quem ainda tem um emprego submete-se a qualquer coisa.
Será que a Igreja não deveria ter os olhos mais abertos para a realidade econômico-social que nos cerca? Que economia é essa em que as pessoas precisam abrir mão da lei de Deus para sobreviver? Que economia é essa onde os membros de uma família precisam trabalhar em dias e horas tão desencontradas que o todo da família não consegue reunir-se nunca?

Portanto, Jesus nos lembra hoje que santificar a Deus é praticar a solidariedade, a compaixão. Que o dia de descanso é um dia para compartilhar, para expressar nossa gratidão a Deus.

Hoje chamamos o dia de descanso de domingo – o Dia do Senhor. Portanto, Deus quer que nesse seu dia nós olhemos com mais gratidão para a nossa vida, que pratiquemos a solidariedade, o amor, o perdão, a compaixão. Através do culto e de sua palavra Deus nos quer ajudar e orientar a nossa vida. Santifiquemos também nós o dia de descanso – nessa direção que nos aponta Jesus.
Amém.
 


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Belo Horizonte (MG)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: Marcos / Capitulo: 2 / Versículo Inicial: 23 / Versículo Final: 28
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 47456
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