Estimada comunidade, meus irmãos e irmãs em Jesus Cristo,
Fazem alguns dias que nossa filha Hadassah nasceu. No dia 10 de novembro, sua mãe Adriana e seu pai Alexander acolheram sua pequena filha. Depois do parto, Adriana permaneceu um bom tempo sendo cuidada pela equipe médica e eu, no berçário, fiquei responsável em cuidar da pequena Hadassah. Ela chorava muito e não é para menos. Antes segura no aconchego familiar do útero materno, agora rodeada por um mundo novo de sons, luzes e vozes estranhas. O seu mundo virou literalmente de cabeça para baixo. Ela precisava de consolo. E eu era a pessoa chamada para, naquele momento, trazer auxílio. E assim o fiz, conversando olho no olho, gentilmente acariciando com as mãos, trazendo lhe palavras de conforto que lhe acalmaram os ânimos e cessaram o choro. No seu rosto era visível o olhar de esperança de que tudo estaria bem. Neste novo mundo, Hadassah sentia o cuidado das mãos paternas que lhe acompanhavam na jornada.
Compartilho como vocês este momento pessoal entre pai e filha, porque o texto que nos acolhe neste culto é texto de consolo e esperança. O povo de Judá, antes seguro no aconchego familiar de sua terra, estava agora rodeado por um mundo novo de costumes, ambiente e deuses estranhos. A capital de Judá, Jerusalém, havia sido destruída pelo exército da Babilônia, e os sobreviventes do povo de Judá e seus descendentes viviam no exílio, em terra estrangeira. O seu mundo literalmente tinha virado de cabeça para baixo. É para este contexto, para este tempo e lugar que Deus chama seu profeta e mensageiro Isaías para anunciar consolo e esperança.
“Consolem, consolem o meu povo”, é a primeira ordem que o profeta recebe de Deus, “falem ao coração de Jerusalém e anunciem que o tempo da sua escravidão já acabou, que os seus pecados estão perdoados” (v 1-2). A ordem ao profeta é anunciar o consolo que vem de Deus, consolo para um povo que atravessou e ainda atravessava momentos de grande sofrimento. O consolo quer trazer alívio. O consolo não cessa necessariamente de forma instantânea e rápida o sofrimento, mas enxuga as lágrimas, acalma os ânimos, gera esperança. E a esperança é firmada no Deus pronto para restaurar com seu perdão, pronto para dar um novo começo para quem precisa. Deus não é surdo ao clamor do povo, especialmente das pessoas mais vulneráveis e fragilizadas dentro de uma situação de profunda crise pessoal e social.
Muitos séculos mais tarde, somos acolhidos, acolhidas por esta mesma palavra numa situação de profunda crise pessoal e social. Em nosso tempo e lugar, quem precisa de consolo? Nós, comunidade evangélica de Maripá? As pessoas ao nosso redor, do nosso município ou morando além das fronteiras do estado do Paraná? E que tipo de consolo é necessário? O que é consolar em nosso contexto? Palavras que geram esperança? Gestos de esperança? Ouvidos atentos e abertos ao choro da pessoa ao nosso lado? Um abraço acolhedor? Alimentos e outros itens básicos que faltam na casa da família em tempos de insegurança e preocupação? Comprometer-se em lutar contra os muitos muros de separação da nossa sociedade, buscando promover a paz de Jesus que constrói pontes de reconciliação? Ou talvez seja melhor deixar estas perguntas em aberto, e no caminho descobrir Deus nos chamando para receber seu consolo ou para dar seu consolo?
A segunda ordem que o profeta Isaías recebe de Deus é, “Preparem o caminho do Senhor, façam uma estrada reta para nosso Deus” (v 3). Em outras palavras, Deus está vindo. Deus vem caminhando pela estrada no deserto. E mesmo onde neste deserto não existe estrada, Deus constrói uma estrada reta, enchendo os vales de terra e transformando as montanhas em planícies. Deus vem. Esta é a mensagem a ser anunciada. A ambição dos poderosos, seja o rei da Babilônia e seu exército, seja o rei Herodes, que séculos mais tarde tentou matar o bebê Jesus, sejam as injustiças e falcatruas do tempo presente; estas não são impedimento para Deus. Deus vem. Não existe poder neste mundo e além capaz de se opor ao poder de Deus. Deus vem. Sua palavra permanece. Deus cumpre o que Deus promete. Deus vem. “Eis aí está o seu Deus”.
“Eis aí está o seu Deus” (v 9) é a boa nova que o profeta é ordenado a proclamar. A terceira e última ordem de Deus a Isaías é proclamar Deus presente no meio do povo em sofrimento. Deus presente para consolar, para gerar esperança, para cuidar e guiar no caminho de volta do exílio, rumo ao lar. O poder de Deus não vem na forma de um exército numeroso e tanques de guerra. Deus vem em poder como pastor de ovelhas, que mansamente recolhe em seus braços os cordeirinhos e os carrega no colo. Que guia o rebanho da terra estranho rumo ao aconchego e segurança do lar.
Em seu tempo, o povo de Judá retornou ao lar, para reconstruir Jerusalém e restaurar o país. Em nosso tempo, confessamos o Deus presente, “Eis aí está o seu Deus”. A promessa do Deus presente brilha na face de Jesus, cujo nascimento celebramos no natal. “Eis aí está o seu Deus”. A promessa do Deus presente acolhemos, quando, no batismo damos boas-vindas a um novo membro na comunidade de Cristo, e quando repartimos o pão e fruto da videira, corpo e sangue de Cristo, sinal da comunhão que temos uns com os outros e com Deus. “Eis aí está o seu Deus”. O Deus presente anunciamos ao reconhecer que caminhamos com Jesus em terra estranha, rumo ao lar. Ele nos ampara e consola. Com braços fortes, ele mansamente nos carrega em seu colo e nos chama para compartilhar a esperança com as pessoas ao nosso redor. Sua voz e palavra nos guiam pelo caminho. Vivemos da esperança que Jesus nos dá, a promessa de que o mundo e seu mal há de findar quando a plenitude do reino de Deus chegar. “Eis aí está o seu Deus”. Amém.
