Mateus 17.1-8
Querida Comunidade:
A palavra de Deus nos quer falar hoje sobre insegurança. Os discípulos de Jesus tinham se encantado com os ensinamentos e os milagres de Jesus. Como muita gente, eles percebiam que “um grande profeta surgiu entre nós” e que “Deus visitou o seu povo” (Lc 7.16). Mas, eles também viam que principalmente os lideres judeus eram uma forte oposição a Jesus. E essa oposição ficava cada dia mais violenta e no caminho da vida de Jesus, a cruz começou a aparecer no horizonte. E a confusão e o medo se instalaram entre os discípulos.
Seguir a Jesus sempre foi algo exigente. Também hoje é assim. E sempre será. Seguir a Jesus significava confrontar-se com os poderes religiosos e políticos daquele tempo. Chamar a Jesus de Filho de Deus era confrontar-se com a religião judaica que não via em Jesus o Messias. Para eles o Messias seria como um líder militar, que atacaria o império romano e também expulsaria todos os impuros do povo de Israel. E Jesus não fazia nada disso. Os líderes judeus também afirmavam que Jesus estava ensinando uma nova religião, que ele não obedecia as leis do Antigo Testamento, e por isso Jesus deveria ser eliminado.
Chamar a Jesus de Senhor, era confrontar-se com os romanos, que diziam que somente o imperador romano poderia ser chamado de senhor. Chamar a outra pessoa de senhor era uma afronta política, uma provocação da oposição.
Por isso, Jesus teve que dizer várias vezes aos seus discípulos: Quem quiser ser meu discípulo deve tomar a sua cruz e siga-me (Lc9.23). Isso tudo deixava os seguidores de Jesus muito inseguros: Será que Jesus está certo? Será que os professores da Lei, que conhecem as Sagradas Escrituras, estão errados?
Além disso, os discípulos já enfrentam problemas familiares, problemas com seus amigos e são apontados na rua anti-sociais, gente maluca que vive na rua e que segue a esse lunático do Jesus. E aí cresceram as dúvidas e o medo no coração dos seguidores de Jesus: Será que os opositores a Jesus estão certos? Qual é o sentido de tudo isso?
Quem de nós não passou por momentos de dúvida, de insegurança diante das dificuldades que crescem a cada dia e que fazem a gente pensar se não está na hora de abandonar tudo, antes de fique pior e seja tarde demais?
Nesse contexto apresenta-se no Evangelho a Transfiguração do Senhor. Essa experiência eliminou as dúvidas do coração dos discípulos, reafirmou a certeza de que seguir a Jesus era a vontade de Deus. Eles afirmaram sua convicção de que continuar seguindo a Jesus, de ajudar e aliviar o sofrimento das pessoas – a pesar dos ataques da oposição e do risco de morte – era o caminho certo para fazer desse mundo um lugar melhor para as pessoas e era o caminho certo para encontra-se com Deus no céu.
Quando os discípulos vêem Jesus conversando com os dois personagens mais importantes da religião judaica: Moisés e Elias, eles ficam convencidos de que os professores da lei e os fariseus estavam errados ao atacar a Jesus. Ele era verdadeiramente o Messias, o enviado de Deus prometido no Antigo Testamento.
E quando os discípulos que Jesus é percebido com características divinas, isso é, o aspecto do seu rosto se altera, suas vestes tornaram-se de fulgurante brancura. Uma nuvem desce sobre a montanha e surge uma neblina espessa, isso para o mundo bíblico significava que Deus mesmo – junto com seus anjos – estava visitando a terra.
Portanto, a experiência da transfiguração de Jesus eliminou do coração e da mente dos discípulos de Jesus qualquer dúvida e devolveu a eles a certeza e a confiança de que – apesar do sofrimento e da ameaça de morte – seguir a Jesus era o que Deus espera deles e se fossem mortos por causa disso, Deus mesmo estaria esperando por eles no céu.
Uma tentação sempre presente na vida das pessoas e das comunidades é querer a “terra prometida” sem passar pelo êxodo do deserto ou da cruz. É querer uma religiosidade milagreira, triunfalista. É querer a vitória, sem luta. Essa pode ter sido também a tentação de Pedro, que quis fazer tendas, para perpetuar a experiência e não voltar ao árduo caminho da construção da sociedade na qual reine a vontade de Deus.
Mas como e onde podemos fazer esse tipo de experiência com as nossas dúvidas, nossas incertezas, nosso medo?
A Bíblia nos ensina que o culto é lugar de encontro entre Deus e a Comunidade. O culto é o lugar onde podemos nutrir nossa espiritualidade. Por isso, o domingo significa o Dia do Senhor, onde Deus quer nos reunir para reabastecer nossa fé para continuar a caminhada. No culto Deus vem ao encontro da comunidade, assim como disse Jesus: Onde duas ou três pessoas estiverem reunidas em meu nome, ali estarei no meio delas (Mt 18.20) e “façam isso em memória de mim”, ou seja, reúnam-se em culto e recebam a Santa Ceia (1Co11). Portanto, é no culto, que nós nos encontramos com Deus e onde Deus quer falar conosco e alimentar nossa confiança e nosso esperança. É no culto que Deus vai nos mostrar onde ele está hoje.
Gostaria de terminar contando a seguinte história que li algum tempo atrás:
Quando eu era pequeno, minha mãe costumava cozer muito. Eu me sentava perto dela e perguntava quê estava fazendo. Ela me respondia que estava bordando.
Sendo eu pequeno, observava desde abaixo o seu trabalho, por isso eu reclamava dizendo-lhe que só via uns fios feios. Ela sorria, olhava para baixo e dizia:
- “Filho, vai brincar lá fora um tempinho e quando eu tiver terminado o bordado te colocarei no meu colo e você o verá desde acima”.
Eu me questionava por quê ela usava alguns fios escuros e por quê me pareciam tão desordenados desde onde eu estava. Mais tarde escutava a sua voz dizendo-me:
- “Filho, vem, senta no meu colo”.
Eu o fazia imediatamente e me surpreendia ao ver a formosa flor ou o belo entardecer no bordado. Não podia acreditar; desde abaixo só via alguns fios enrolados. Então minha mãe me dizia:
- “Meu filho, desde abaixo se vê confuso e desordenado, porém você não percebia que por cima havia um plano. Eu tinha um desenho formoso.
Muitas vezes, olhamos para o céu no meio de nossas dúvidas de nossos medos e não entendemos nada. Só vemos fios soltos, que parecem não ter nenhum sentido.
Nesses momentos, devemos nos lembrar, que Deus está bordando a nossa vida.
Seja forte e corajoso! Não fique desanimado, nem tenha medo, porque eu, o Eterno, o seu Deus, estarei com você em qualquer lugar para onde você for! (Josué 1:9)
Amém.