Deus enxugará dos olhos toda lágrima

Prédica

05/01/2003

Deus enxugará dos olhos toda lágrima
 

Pregação feita no culto da CECLBH, em 05.01.03

Leitura: Isaías 61.10-11 + 62.1-3

Caras irmãs, caros irmãos na fé!

Mais uma vez temos um texto do profeta Isaías hoje. Para mim é um prazer e uma grande alegria, porque eu gosto muito desses textos que nos animam e nos impulsionam. Será um prazer pra vocês também? Espero que sim.

E há muita razão para esperar uma grande alegria para vocês também. Primeiro, o texto fala de alegria, segundo, o texto convida para experiências boas e, terceiro, cada um de nós gostaria muito de viver feliz, alegre, contente e satisfeito - num mundo de paz, justiça e salvação.

Todos esses desejos e essas esperanças são abordados no texto do profeta e ele convida explicitamente a participar do movimento que o nosso Deus mesmo iniciou e mantém.
Já a alegria anunciada tem força para mudar a vida toda. Pois não é só um alegrinho que se expressa num sorriso ou numa palavra amável, num Oi amigável junto com um acenar com a mão.

A alegria anunciada pelo profeta em nome de Deus mexe com a pessoa toda e torna cada um de nós um ser mais feliz, mais alegre, mais contente, mais satisfeito - sim, um pouco mais leve em vista do dia-a-dia - pois a vida vale a pena.
Essa alegria anunciada em nome de Deus é chamada entusiasmo e exultação, e são emoções grandes, emoções muito veementes, com flama, ardor, com um grande júbilo sem fim.

Um pouco estranho, não? Uma vida alegre, pessoas entusiasmadas, exultadas e exaltadas.

Dentro da nossa igreja isso não é muito apreciado e normalmente, quando ouvimos falar de entusiasmo e exultação, pensamos imediatamente nas igrejas pentecostais e em suas celebrações. Não pensamos em nossa fé e nossa vida comunitária ou particular com a mesma intensidade.

Entusiasmo e exultação às vezes trazem receio ou, pelo menos, sensações desagradáveis; ambos parecem ser emoções misteriosas e, quando alguém quer nos motivar para sermos mais emotivos, nós preferimos nos retirar e não nos envolver.

Entusiasmo e exultação muitas vezes são considerados superficiais em relação à importância da fé e da vivência cristã. Mas entusiasmo e exultação não estão contra a nossa fé, a nossa religião, a nossa confissão. Ao contrário, podem e precisam ser partes e elementos integrantes da vida comunitária e particular, pois ser entusiasta é algo interior; entusiasmo vem de Deus, como lemos no livro do profeta Isaías, capitulo 61, versículo 10.

Palavras bonitas, palavras muito emotivas, palavras que tocam o nosso coração, que trazem força e alegria - emoções vivas, emoções por Deus.

Por isso podemos nos aproximar de todas as explicações e emoções de entusiasmo e exultação. Podemos descobrir a alegria anunciada junto com todas as expressões que fazem parte da alegria e da vida.

Isso, na verdade, não vem de fora de nós e de nossa vida. Conhecemos a alegria e como ela se mostra. Traz um sorriso ou até um grande rir no rosto, os lábios mais para cima, o corpo reto, os passos leves, uma pessoa muito amável com a cara afável e agradável - que coisa boa!

Às vezes, a alegria nos faz bater palmas, mover os braços, as pernas, sim, a alegria faz uma pessoa dançar, pular, se exultar por todos os sentimentos bons - e a gente vê e fica surpreso com esse grande movimento que toca uma pessoa alegre. Não é assim?

Outras vezes, a alegria se mostra mais tranqüila mas, mesmo assim, bem claramente. Ela vem bem do fundo, traz satisfação e contentamento, uma felicidade quase sem expressar fisicamente.

Ou, então, nós vemos uma pessoa muito bem vestida numa festa organizada por causa de um casamento, um aniversário, uma formatura, por causa do início de um ano novo ou uma outra experiência boa - há mil motivos para ser alegre e compartilhar esta alegria.

Sabemos isso tudo muito bem e festejamos muitas vezes com uma alegria aumentada constantemente.

Graças a Deus por essas expressões da nossa vida. Graças a Deus que ele dá essa alegria sempre de novo. Graças a Deus que também a nossa fé traz alegria por experiências boas de cada dia. Pois não são só os eventos particulares que nos fazem alegrar, são as festas da Igreja também - como Natal, Páscoa, Pentecostes, Ação de Graças e outras mais.

Então, há muita razão para sermos alegres por causa de Deus e por causa da vida cotidiana, mas também não é possível dar ordens para alguém se alegrar. Não podemos obrigar alguém a tornar-se alegre, mas podemos convidar para isso. Podemos proporcionar circunstâncias e situações nas quais é possível descobrir, experimentar e sentir a alegria. - Como o profeta disse:

... como o noivo que cinge o diadema; como a noiva que se enfeita com os seus adornos.

Podemos fazer isso nos eventos especiais, mas também no dia-a-dia e nos cultos normais como hoje.

Por isso - sabendo que eu não posso mandar vocês se sentirem alegres, sabendo também que, na verdade, alguns de nós hoje não estão felizes porque a normalidade da vida, às vezes, impede isso - quero convidar a experimentar um pouquinho de alegria dada por Deus.

(No culto nesse momento foi cantado o hino Seu nome é maravilhoso)

Exultação e entusiasmo não acontecem facilmente, mas a alegria e o júbilo não conhecem limite, pois a alegria, o júbilo, o entusiasmo e a exultação são parte da nossa vida e da nossa fé também, porque todas essas emoções vêm finalmente de Deus.

A nossa atribuição de cada dia é só dar oportunidades e maneiras para a alegria se expressar. Há muitas formas em que a alegria se mostra e nós precisamos só descobrir as nossas formas - sem a necessidade de copiar outras pessoas, outras Igrejas ou outros cultos.

As nossas maneiras de celebrar são nossas, e as nossas maneiras de viver e de expressar a nossa alegria devem ser as nossas também - e nós devemos aceitar e não criticar modos diferentes de expressar a fé.

O texto do profeta fala sobre essas maneiras de se alegrar e fala também sobre os motivos e os acontecimentos iniciados por Deus que fazem pessoas se exaltar e exultar.

Para nós esses motivos provavelmente trazem mais de uma surpresa, pois justiça e salvação normalmente não são conhecidas como assuntos que trazem e fazem alegria. Ora, justiça e salvação são chamadas coisas ponderáveis, graves, sérias; ora, justiça e salvação faltam muitas vezes no nosso mundo.

Pensamos mais ou menos imediatamente que justiça e salvação precisam ser desenvolvidas mais; que justiça e salvação precisam ser respeitadas mais; que justiça e salvação são coisas importantes que não permitem gentileza ou risos.

Mas, embora os jornais, a TV e muitas situações do dia-a-dia falem da miséria do nosso mundo, a justiça e a salvação são coisas para se alegrar, pois o nosso Deus mesmo nos convida para vivê-las e vivenciá-las.

Não só o tema da nossa Igreja para esse ano novo - Nosso mundo tem salvação - fala disso, também no dia-a-dia descobrimos sinais de justiça e de salvação.

Por exemplo, o trabalho da nossa comunidade e da IBML e também essas pequenas situações de reconciliação entre uma família, entre amigos ou vizinhos; um sorriso de algum motorista na rua; uma doação ou um presente - há milhões de ocasiões que alegram os nossos corações e as nossas almas.

Deus enxugará dos olhos toda lágrima - isso, na verdade, não é só uma promessa para a vida eterna. Isso acontece na vida cotidiana também. E sempre podemos nos alegrar por esses pequenos sinais de Deus na vida das pessoas.

O profeta não ficou tranqüilo ou inativo, ele expressou a vontade de viver a justiça e a salvação. E ele convida a todos nós a participar dessa alegria com todas as possibilidades que temos.

Apesar desse cuidado de Deus, a justiça e a salvação permanecem tarefas grandes para serem realizadas - por nós também.

Pois sem justiça e sem salvação, na verdade, não é possível viver. Precisamos delas como precisamos do ar, da água, da alimentação, da roupa, da casa, dos amigos e de todas as coisas conhecidas como vida cotidiana.

Mas não devemos expressar só a nossa preocupação, devemos articular e viver a nossa alegria também.
Pois essa é a mensagem do profeta: O nosso Deus mesmo vai cuidar para recebermos a justiça e a salvação. Mais um motivo para nos alegrarmos.

O profeta - como sempre - olha e fala do fim da história para o tempo presente. E ele proclama o mundo como ele é sob os olhos de Deus - para que o mundo inteiro fique sem medo, mas com uma alegria sem fim.

O nosso mundo tem salvação.

Amém.

 

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* Gert Müller
é Pastor na Comunidade Evangélica de
Confissão Luterana em Belo Horizonte
 


Autor(a): Gert Müller
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Belo Horizonte (MG)
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 21022
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