Deus é inclusivo

19/09/2013

 

 “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem e semelhança, homem e mulher os criou. Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom. Houve tarde e manhã, o sexto dia.” (Gênesis 1.27)

Como, uma pessoa que tem “limites físicos ou mentais” pode ter sido criada à imagem de Deus?

Toda vida é uma dádiva de Deus, e sua criação é íntegra. Lemos em Gênesis 1.31 que, após Deus ter criado o céu e a terra e todas as formas de vida, viu que “... de fato, isto era muito bom.” Deus não disse que era “perfeito”. Acreditamos que a humanidade é “criada à imagem e semelhança de Deus” (Gênesis 1.26), e que cada ser humano contempla aspectos da natureza divina, embora nenhum de nós espelhe Deus na sua inteireza. Isto inclui todas as pessoas, sejam quais forem suas habilidades e impedimentos.

Estar em Cristo é estar no corpo de Cristo. Isso, em essência, é uma imagem corporativa. Um corpo possui muitos membros e cada qual, a sua maneira, contribui para o todo (1Co 12, Rm 12). De fato, as partes fracas (membros), e até mesmo aquelas das quais nos envergonhamos e tentamos esconder (1 Co 12.23), são indispensáveis e devem ser honradas, e suas contribuições, ser reconhecidas.

Hoje muitas pessoas correm atrás do milagre da cura total e poucos a encontram. E isso não é porque sua fé seja fraca. Hoje o milagre é outro: viver da melhor forma possível com a doença ou deficiência, tentar diminuir a dor ao máximo, adaptar tudo o que for possível e estimular ao máximo a independência das pessoas que têm alguma deficiência em todos os aspectos possíveis. A cura está na aceitação da deficiência, do limite. A cura está no entendimento da deficiência como uma condição humana, com a qual devemos viver. A cura está no sentir-se uma pessoa agraciada por Deus, mesmo com sua deficiência. Está no perceber que, em situação de vulnerabilidade, Deus também manifesta seu poder.

Seria muito doloroso se as pessoas com deficiência não pudessem sentir-se amadas e também participantes do plano que Deus tem para esse mundo, só porque têm algo diferente em seus corpos. Seria desprezível e humilhante descartar as pessoas com deficiência da salvação de Deus. “A salvação de Deus é também, sem a cura humana, a salvação completa de Deus” (Ulrich Bach, 1995). Por isso, também sem a cura milagrosa, de transformação de nossos corpos e desaparecimento de doenças, podemos viver “curados”, pois Deus nos aceitou e incluiu na sua vontade.

A pastora Iára Müller certa vez escreveu: “Ser curada, no sentido do desaparecimento da doença ou deficiência, não pode ser critério para se considerar uma pessoa integral e libertada. Também com a deficiência ou com a doença incurável e todas as limitações que vêm na sua esteira por causa do mundo incapacitante em que se vive, as pessoas devem considerar-se íntegras, capazes de ter uma vida satisfatória, em busca de mais vida. A cura, no sentido de se viver com a deficiência e se sentir integral com o corpo e mente que tem, é o ato de libertação. Curar-se significa restaurar as forças do corpo doente e com sequelas, para se incluir no ambiente familiar e da sua comunidade. A comunidade só é completa quando acolhe todas as diversidades. A comunidade vivida exemplarmente por Jesus entra em contato e acolhe todas as pessoas.”

Pessoas com deficiência e, especificamente, pessoas com deficiência de aprendizagem desafiam e colocam em cheque a ordem preestabelecida em muitas sociedades. Pessoas com deficiência confrontam as noções de perfeição, propósito, recompensa, sucesso e status; elas também desafiam a ideia de um Deus que recompensa a virtude com saúde e prosperidade.

Como pessoas cristãs, adoramos um Deus que se encarnou e tornou absolutamente incapacitado ao estar pendurado na cruz. Nosso Deus é um Deus da vulnerabilidade e da dor. No entanto, muitas vezes escolhemos deixar de lado e esquecer a crucificação, preferindo voltar-nos diretamente para a ressurreição. Cristo ressuscitou da morte com suas feridas. Também o encontramos em nossas feridas, e discernimos a sua presença em nossa vulnerabilidade e coragem de viver de acordo com a vida que nos foi dada.

Toda criança e toda pessoa adulta, com ou sem deficiência, trará dons e talentos específicos e especiais para a sociedade. Esse é o desafio lançado para nós. Que sejamos verdadeiramente uma Igreja de todas e para todas as pessoas, – uma Igreja que testemunhe e viva comunidade na sua diversidade – uma Igreja inclusiva!

Pastora Mestra Iára Müller
Coordena a Pastoral Universitária da Faculdades EST

Diácona Nádia Mara Dal Castel de Oliveira
Paróquia dos Apóstolos – Joinville/SC

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Autor(a): Iára Müller e Nádia Mara Dal Castel de Oliveira
Âmbito: IECLB
ID: 24837
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Mal tenho começado a crer. Em coisas de fé, vou ter que ser aprendiz até morrer.
Martim Lutero
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