Deus e as pessoas são reconhecidas pelas suas ações.

11/03/2016

João 12.1-8 - Deus e as pessoas são reconhecidas pelas suas ações.
(com referência a Isaias 43.16-21)

Prezada Comunidade.

O profeta Isaías nos diz no capítulo 43.16-21, que Deus é reconhecido pelas suas ações. A memória (lembra!) é fundamental em Israel (Sl 78) e por isso a história é importante. Certamente porque o que vem “é novo” já não estamos ante um rio que se seca para que um povo passe, mas ante um deserto que se enche de água para que o povo beba. As ações de Deus não querem ficar no passado. Elas querem acontecer também hoje e no futuro. A ação de Deus deve provocar em nós a gratidão em nossos corações, assim como provoca gratidão nos chacais e avestruzes do deserto, que encontraram água e rios em terra seca. Saber agradecer é necessário para aprender a confiar. Quem não sabe agradecer pelas coisas boas, também não saberá confiar nos momentos de dificuldade. Deus é aquele que fez, faz e fará. A memória (e o tradicionalismo) pode ser perigosa, se não vai acompanhada da esperança, se não preparar para o futuro. Não podemos viver querendo repetir o passado. A vida caminha para frente. O passado nos deve ajudar a confiar na fidelidade desse Deus, para arriscar a vida daqui para frente.

O Evangelho de João 12.1-8 nos fala de um acontecimento na vida de Jesus em que Judas fica indignado. E será que Judas não tem razão? Ele reclama. Protesta contra um ato de desperdício sem igual, cometido frente a Jesus — um ato que até envolve a própria pessoa do Mestre. Judas é tesoureiro dos discípulos. Ele precisa ver, dia por dia, como ajunta o dinheiro necessário para comprar comida. Ele é que sabe calcular! Por isso, não admira que tenha logo reparado naquele vidro de perfume de nardo que Maria, irmã de Lázaro, levava nas mãos. Há uma fortuna naquele vidro. Vendido em casa especializada, esse vidro de perfume poderá render até trezentos denários. Trezentas moedas de prata! Era o que um trabalhador ganhava em um ano inteiro!...

Por isso, para Judas, o que esta mulher fez, é uma loucura! Quebrar aquele vidro caríssimo, derramar aquele bálsamo precioso, aquele perfume estrangeiro sobre os pés de Jesus, isso doía! São trezentos denários jogados fora. Judas se revolta. Ele resolve abrir a boca. Desta vez ele vai falar. É verdade, vai ser um escândalo, reclamar no meio do banquete que esta Maria, sua irmã Marta e seu irmão Lázaro estão dando para eles. Mas ele não pode ficar calado, E fala: «Por que não se vendeu este perfume por trezentos denários, e não se deu aos pobres?» Judas cometeu pecado dos mais graves: esqueceu-se de ser gentil, bondoso, afável, amável. Optou pelo discurso rancoroso, desrespeitoso, ofensivo e depreciativo.
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............Vamos parar um pouco aqui. Vamos ignorar que Judas é um discípulo que em seu coração já se afastou de Jesus. Vamos ignorar que ele não se preocupa pelos pobres, mas que se preocupa mais por sua caixinha particular. Vamos ouvir suas palavras como sendo uma pergunta séria, dirigida a nós, a nossa comunidade, a nossa igreja. Como é que nós lidamos com o nosso dinheiro, com o dinheiro da igreja, com as ofertas dadas a Jesus e a sua comunidade?
Onde é que estão os pobres e a igreja nos nossos orçamentos? Não foram levados em conta? Se isto for o caso, as palavras de Judas nos atingem. Porque os pobres realmente deverão ser uma preocupação para cada cristão e para a comunidade de Cristo. Assim, não vamos passar por cima daquilo que Judas diz, somente por ter sido Judas aquele que se lembrou dos pobres.

O engano de Judas foi supor que Jesus não lidava bem com os pobres. Judas considerava que ele era um advogado melhor dos necessitados. Achava que o que importava, era distribuir dinheiro entre os pobres. Que o principal problema do ser humano era mesmo o dinheiro. Que todo o mais se resolvia no mercado. Hoje poderíamos dizer que melhorar de vida é importante, mas junto com isso também deve haver consciência social e política. Porque sem essa consciência, sem saber de onde vem as coisas, as pessoas se tornam somente egoístas e consumistas.

Jesus diz: «Os pobres, sempre os tendes convosco.» -- Essas palavras não significam que Jesus não se importava com os pobres, ou com as necessidades materiais das pessoas. Ele quer dizer que os pobres sempre precisarão de nós, que sempre haverá necessidades materiais. Esse deve ser nosso compromisso permanente.

Por isso, prestemos um pouco mais de atenção no gesto de Maria. Gastar aquela fortuna num instante, em um gesto tão estranho, tão fora do comum! Derramar aquele perfume precioso, ungir os pés de Jesus, e depois enxugá-los com os próprios cabelos! Será que é um capricho momentâneo? Será que Maria encontra-se tão comovida, ou tão perturbada, queo seu raciocínio ficou desligado? Será que ela não sabe o que faz?

O nosso texto não fala dos motivos que levaram Maria a ungir os pés de Jesus e a usar os próprios cabelos como toalha. É bem possível que ela tenha sido uma pessoa angustiada. Talvez a única pessoa abalada bem por dentro, entre todos os que cercavam Jesus nesta hora. Mas nós sentimos que esta comoção interna não era nenhuma loucura leviana. Certamente foi uma loucura do coração, a loucura de um amor santo, de alguém que quer ser agradecida a Jesus pela importância que ele representou na vida de Maria e de sua família.

O rapaz que ganha o salário mínimo e que compra um buquê de rosas caras para sua noiva — ele entende um pouco deste segredo, O casal que faz um empréstimo acima de suas capacidades para poder levar o filho doente, de táxi, para o especialista em Belo Horizonte ou em São Paulo — esse casal entende também. E quem coloca flores preciosas no altar da igreja — em gratidão a Deus — ele sabe do segredo também.
Maria nos mostra que ela tem os olhos abertos pelo amor. Ela quer ser agradecida a Jesus, enquanto Jesus ainda está fisicamente com eles. Ela antevê a morte de Jesus. É por isso que não pode reservar o perfume precioso para depois. Depois só poderia servir para embalsamar um corpo morto. Ela precisa derramar o perfume agora, enquanto o seu Senhor está com vida. É como se nos quisesse lembrar: Não guardem as flores só para os túmulos das pessoas. Os vivos é que precisam delas. E precisam muito! Até Jesus precisou de sinais de amor, antes de enfrentar sua última luta, no caminho da obediência a Deus! 

Veja, Maria, com seu gesto fora do comum, agiu assim como Deus age. Deus é «mão aberta», ele é magnânimo. Deixa o sol brilhar e deixa a chuva cair sobre bons e maus, sobre justos e injustos. Deus nunca foi mesquinho. Ele «desperdiçou» o pão e os peixes, deu mais do que as pessoas podiam comer, desperdiçou seu perdão, gastou sua vida aceitando as pessoas que a sociedade e a religião não queriam.

Assim entendemos, porque Jesus diz a Judas: «Deixa-a. Entendei o que ela faz. E Jesus aceita, com brandura, a oferta de Maria, porque prefere ter uma casa perfumada por gestos gratuitos de amor do que empesteada de ódio e rancor. Jesus escolhe o aroma da delicadeza dos que amam e abstém-se do ruído grosseiro dos que se remoem desalmadamente.

Portanto, os dois textos bíblicos que ouvimos hoje nos querem dizer como cristãos e como igreja não devemos viver somente de lembranças sobre a ação de Deus no passado. Não devemos viver somente de memórias. A igreja é chamada por Jesus a viver em solidariedade, em serviço ainda hoje. E cada um de nós é chamado a viver e expressar sua gratidão a Deus em gestos concretos. O livro de Eclesiastes nos diz que «Há tempo de buscar e tempo de perder, tempo de guardar e tempo de deitar fora» (Eclesiastes 3.6). Mas junto a Jesus, sempre há tempo de amar. E é isto que importa.

Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus nosso Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam no meio de nós. Amém.

(Com a ajuda de prédicas dos pastores Ernesto Schlieper (1947), Lindolfo Weingärtner(1974)
 


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Belo Horizonte (MG)
Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 12 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 8
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 37076
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