Deus da Ressurreição! No caminho de Jonas.

21/04/2006


Jonas é aquele que prefere ficar no seu lugar, no mesmo lugar, prefere o lugar da passividade, prefere não ser convocado a nenhuma missão, a nenhuma anunciação. O chamado de Deus o incomoda e ele resiste. Ele não quer a provocação do chamado: “levanta-te e anda”. Ele prefere a fuga, o isolamento, a negação. Ele prefere ficar a levantar-se e ir. O deslocamento para outro lugar, para um outro modo de ser, para o encontro com um lugar diferente, estranho, “inimigo” (Nínive - a cidade inimiga), com outro ser humano deixa Jonas deslocado, inquieto, ansioso e com medo. Ele prefere fugir deste enfrentamento; prefere não saber se deste encontro pode resultar algo melhor. Não há confiança dele nem na sua capacidade, nem em Deus.

Jonas recebe um chamado. Este chamado implica em levantar-se e deslocar-se para outro lugar. Sair do lugar comum, do lugar conhecido, do lugar onde ele está. Trata-se de colocar-se de pé, numa postura de abertura e aceitação de algo novo. O colocar-se de pé é uma postura fundamental para a qual ser humano é chamado. No caso de Jonas, colocar-se de pé é uma postura interna de decisão em favor de si e do outro, e é uma forma de abertura à transcendência, à Palavra maior que coloca o ser humano no seu caminho verdadeiro.

Mas, Jonas foge daquilo que ele mesmo pode ser, daquilo que ele é chamado a ser. Ele foge para Társis, foge do confronto, foge do conflito que Nínive representa. Quando convocado, ele foge. Embarca no navio, dorme, enfrenta uma tempestade. Em meio à tempestade ele é interrogado: de onde vens? Qual é a tua ocupação? Qual é a tua terra? Qual é o teu povo? (Jn 1.8). Todas estas perguntas se dão no confronto e no encontro de Jonas com os marinheiros. Diante do desespero, diante do desconhecido, Jonas lança-se ao mar e é tragado pelo peixe, pelo monstro do mar.

Todo este processo não é à toa. Jonas é pressionado a amadurecer seu ser, sua pessoa. É neste barco, neste navio, no encontro com o outro ser humano, que ele enfrenta a tempestade mais forte e é lançado ao abismo, para a profundidade do mar, do peixe, de si. E é somente neste momento que Jonas consegue reencontrar-se com Deus, com a sua espiritualidade. O momento mais íntimo é o momento em que ele se reencontra com a sua fé, - quando é capaz de fazer uma oração. Esta oração é momento central da vida de Jonas. É o momento em que se dá o encontro de Jonas com Deus, o divino, - que está à sua espera. Neste momento de síntese, de encontro com Deus, Jonas é devolvido à terra. Então, “levantou-se, pois, Jonas, e foi a Nínive, segundo a palavra do Senhor”. (Jn 3.3)

A partir deste instante, Jonas assume a sua responsabilidade, já não tem medo, e vai a Nínive profetizar. Para surpresa de Jonas, o povo se arrependeu e se converteu; Deus se arrependeu do mal que se lhes havia anunciado, e teve compaixão do povo. Mas Jonas desgostou-se de Deus, pois esperava a destruição do povo e não a clemência, a misericórdia, a benignidade e o arrependimento de Deus.

Sair do mundo fechado do eu, sair de si mesmo e enfrentar o encontro com o mundo do outro ser humano, do desconhecido, do que é inimigo e descobrir neste processo arrependimento, perdão, bondade, o divino, o mistério do amor de Deus, este é o processo que se dá a partir de um chamado a sair de si, de ir ao encontro de outro povo, outro ser humano. É um processo de transformação de si mesmo, que para Jonas continua ainda depois da libertação do povo de Nínive. (LELOUP, Caminhos da realização)

O texto de Jonas é uma história de cura, de salvação, é uma parte de um processo que nos ajuda a ver como Deus cuida, como o encontro com outro ser humano pode ser transformador, e como Deus participa desta transformação, desta conversão, desta ressurreição. É neste encontro que Deus se realiza e se revela. É neste encontro de Jonas com Nínive que o povo se humilha, volta a si, volta a ser imagem de Deus.

Com Jonas acontece um processo que significa um caminho de ressurreição, um caminho para a cura. Trata-se de um caminho para a integridade do seu ser; um encontro e um conhecimento mais profundo de si, do próximo e de Deus.

Pastora Anete Roese



Autor(a): Pª Anete Roese
Âmbito: IECLB
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 7898
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Quisera não ter outro pensamento que este: a ressurreição aconteceu para mim!
Martim Lutero
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