Finalmente chegou a sua vez. Foram mais de quatro horas esperando naquela fila para preencher uma ficha de candidato a vaga de trabalho. Cada palavra escrita naquele formulário vinha carregada de esperança: deixar de viver de "bicos"; ter uma carteira assinada; um salário no final do mês para pagar as contas. É a esperança de garantir o pão de cada dia com maior tranqüilidade e dignidade.
Como falar de paz quando se constrói a esperança na fila do desemprego?
Vivemos tempos de medo e insegurança. A violência urbana nos acompanha diariamente. O desemprego assusta trabalhadores e coloca um futuro sombrio diante dos jovens. Sonhar com o futuro se torna cada vez mais difícil, assim como se torna cada vez mais um imperativo ter esperança para não sucumbir diante uma realidade competitiva e excludente.
A busca por um lugar ao sol acontece em meio a um nevoeiro que esconde os caminhos de esperança. Como falar de esperança quando ela desaparece do horizonte para ser construída na fila do desemprego?
Trabalhadores tem a sua esperança reduzida às necessidades imediatas. Falar de esperança é falar do pão nosso de cada dia. Um dia após o outro... Não é uma grande esperança, mas quando se está com fome, quando as panelas estão vazias e as contas atrasadas, esta esperança é tudo.
Esperança cristã é esperança para vida, e vida em abundância. É uma esperança que passa pela garantia do pão de cada dia, mas não pára na refeição seguinte. Vai além. Ela é carregada pela força do Espírito Santo que vem como o vento e dissipa o nevoeiro que escondia os caminhos de esperança.
Jesus promete a vinda do Espírito Santo. Quando Jesus vai para junto de Deus, ele deixa entre nós o consolador. Será que teremos que entrar numa fila para recebê-lo? Vamos preencher uma ficha e aguardar uma entrevista para sermos escolhidos para receber esta bênção?
Receber o Espírito Santo não é uma conquista pessoal. Nem precisamos passar por um processo de seleção para sermos abençoados. Deus aboliu as filas. Esta é a esperança que vem de Deus. Não há filas. O Espírito Santo não faz processo de seleção. Ele não escolhe alguns deixando muitos sem perspectiva de trabalho, de vida. Ele não escolhe alguns, deixando muitos na procura de uma nova fila, na busca contínua pelo pão de cada dia sem a certeza de que irão consegui-lo.
O Espírito Santo traz esperança construindo a paz que só é possível quando se vence as desigualdades. Ele valoriza a diversidade, mas é intolerante com a desigualdade. Deus derrama o Espírito Santo sobre todos, conforme o livro de Joel 2.28 a 31. Os velhos sonharão. Os moços terão visões. O Espírito Santo ultrapassa as divisões sociais e é derramado sobre os escravos e escravas. Ele supera as desigualdades valorizando os dons de cada um. Ele aposta no mutirão.
A esperança não está na fila, na seleção, na escolha de alguns. A esperança é um caminho, não uma fila. A esperança vem com o Espírito Santo que fortalece os nossos passos, anima o nosso coração e abre os nossos olhos para enxergamos o caminho além do nevoeiro.
P. Eduardo Paulo Stauder