Amados irmãos, amadas irmãs,
quem era o apóstolo Pedro? Quais lembranças nós temos do apóstolo Pedro? Ao ouvirmos o nome Pedro, que imagens vêm à nossa mente? Se fôssemos contar a história de Pedro, quais cenas nós lembraríamos? E o que Deus fez na vida de Pedro?
Pedro é um personagem importante do Novo Testamento. Era pescador de profissão e vivia na cidade de Betsaida, na Galileia (cf. João 1.44). André, irmão de Pedro, foi quem o apresentou a Jesus (cf. João 1.40-42). Pedro foi chamado a Jesus a uma outra pescaria: a ser pescador de homens (cf. Mateus 4.18-19; Lucas 5.10). Assim, Pedro e Tiago formaram o grupo mais próximo de Jesus, sendo importantes testemunhas dos eventos de seu ministério de três anos – tanto a Transfiguração (cf. Mateus 17.1-9) quanto da sua agonia no Getsêmani (cf. Mateus 26.36-46).
Pedro não foi chamado porque era digno, justo ou bom. Na verdade, o chamado de Pedro se deu puramente pela graça de Deus. Pedro era um homem corajoso, mas também impulsivo, orgulhoso e arrogante. Quando Jesus caminhou sobre as águas, Pedro quis fazer o mesmo, mas começou a afundar, sendo socorrido pelo Senhor Jesus (cf. Mateus 14.22-23). Quando os soldados chegaram para prender Jesus, Pedro, o orgulhoso, sacou a espada e cortou a orelha do servo do sumo sacerdote (cf. João 18.10). Jesus o repreendeu e curou a orelha do homem, dizendo a Pedro: “ – Guarde a espada na bainha” (João 18.11). Em sua impulsividade, Pedro chegou a prometer que se Jesus fosse crucificado, ele também iria para a cruz (cf. Lucas 22.33). No mesmo momento, Pedro foi advertido por Jesus, que lhe disse: “Mas Jesus lhe disse: – Eu lhe digo, Pedro, que hoje, antes que o galo cante, você negará três vezes que me conhece.” E assim aconteceu: “Pedro estava sentado fora no pátio. Uma empregada se aproximou e lhe disse: – Você também estava com Jesus, o galileu. Mas ele negou diante de todos e disse: – Não sei o que você está dizendo. Quando se dirigia para a porta, Pedro foi visto por outra empregada, que disse aos que estavam ali: – Este também estava com Jesus, o Nazareno. E ele negou outra vez, com juramento: – Não conheço esse homem. Pouco depois, aproximando-se os que estavam ali, disseram a Pedro: – Com certeza você também é um deles, porque o seu modo de falar o denuncia. Então ele começou a praguejar e a jurar: – Não conheço esse homem! E no mesmo instante o galo cantou. Então Pedro se lembrou da palavra que Jesus lhe tinha dito: ‘”Antes que o galo cante, você me negará três vezes.” E Pedro, saindo dali, chorou amargamente.”. (Mateus 26.69-75). Este é Pedro: um homem impulsivo, arrogante, que fala bastante, mas cumpre pouco.
Então, aconteceu a crucificação de Jesus. Pedro foi abalado pelo evento da crucificação. Havia investido três anos da sua vida para seguir a Jesus na esperança do estabelecimento de um novo reino terreno. Pedro abandonou os barcos, abandonou seus parentes, enfim, abandonou tudo. E agora, seu mestre foi pregado em uma cruz e estava sepultado. Como assimilar tudo o que havia acontecido? Como entender o propósito de Deus quando todos os nossos sonhos e planos parecem ter sido fracassados?
Então vem a maravilhosa notícia da ressurreição. Jesus apareceu aos discípulos várias vezes. E Jesus descartou Pedro por causa de seus pecados? Claro que não! Pedro é convidado ao arrependimento, a uma mudança de vida em que a arrogância, o orgulho e a prepotência fossem trocados pelo amor. Amor que tolera, inclui e acolhe ao invés de apontar o dedo, julgar ou descartar. Por três vezes, Jesus perguntou a Pedro se o amava, instruindo-o a apascentar suas ovelhas (cf. João 21.15-19). De um homem sem empatia, sem amor ao próximo e sem compaixão, Pedro é transformado em um calmo e sereno pastor de ovelhas – fato que se comprova na leitura das suas duas cartas presentes no final do Novo Testamento. É outro Pedro: o Pedro pastor.
Assim, Pedro se tornou uma figura importante na Igreja Primitiva. Ele, de pescador, agora é chamado a ser um pregador da cruz e ressurreição. E, agora sim, sua coragem será mais necessária que nunca, pois pregar a ressurreição significava colocar a própria vida em risco, visto que falar de Jesus como Senhor era crime!
E assim chegamos ao texto de Atos 2 onde temos o registro da primeira pregação de Pedro. Ele faz um discurso. Pedro quer que seus ouvintes creiam no Cristo ressuscitado. Sua pregação parte da Páscoa para as consequências da Páscoa. Sim. A ressurreição de Jesus – obviamente – tem consequências para a vida cristã. Para compreendermos o conteúdo e a mensagem de Pedro, vamos aos seguintes pontos onde perceberemos o quanto Jesus está no centro da mensagem de Pedro:
1 JESUS: APROVADO PELO PAI (vs. 22-23)
Na teologia há uma área que chamamos de “cristologia” que são estudos sobre a Pessoa e Obra de Jesus Cristo. O discurso de Pedro é profundamente cristológico. Ele inicia falando sobre a Pessoa e Obra de Jesus. Jesus foi aprovado por Deus, o Pai, através dos milagres e sinais que realizou. Jesus não era apenas um homem, mas verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem. Em tudo igual a nós, exceto no pecado.
Esse é o conteúdo central da qual depende toda a proclamação da Palavra de Deus. Se Jesus for considerado apenas um homem, ele será apenas um sábio, um filósofo, um revolucionário; de outro lado, se Jesus for considerado apenas Deus, quem o segue estará alienado da realidade de sofrimento no mundo. Por isso, Pedro proclama a Jesus como Deus-homem que, mesmo sendo quem era, foi crucificado por homens maus (v. 23). Sim. Não mataram apenas ao homem Jesus; mataram o Deus-homem Jesus Cristo. Deus-homem foi pendurado no madeiro da cruz.
2 JESUS: RESSUSCITADO PELO PAI (v. 24)
O ser humano é hábil em produzir a morte, possuindo grande criatividade para trazê-la de maneiras novas e inovadoras. Quanta criatividade para a destruição, aniquilação e morte há no ser humano. A vida é banalizada e vale cada vez menos.
Deus, porém, é mais criativo que a morte. Quando aqueles que mataram a Jesus acreditavam que haviam vencido, Deus mostrou que, na verdade, eles haviam fracassado. Deus, o Pai, ressuscitou a Jesus. Ele foi livrado da agonia da morte. Não podia ser segurado por ela. Jesus foi desamarrado das amarras da morte. A vida foi mais criativa que a morte.
Eis a nossa esperança de salvação. Onde o ser humano gera a morte, Deus quer a vida – e vida digna e em abundância. Deus não está do lado das forças exploratórias e predatórias que trazem a morte; não! Deus quer a vida! Em Cristo, temos a renovação da esperança!
3 JESUS: CUMPRIMENTO DA PROFECIA (vs. 25-28)
Na sequência, em sua pregação, Pedro cita o Salmo 16.8-11. Ele está na Judeia. Seus ouvintes são conhecedores do Antigo Testamento. Por isso, foi importante Pedro lembrar as Escrituras para mostrar que aquilo que havia acontecido com Jesus correspondia ao que estava escrito na Palavra de Deus.
O salmo citado fala da esperança e da alegria que provêm da presença de Deus. É um salmo cheio de esperança e cheio de vida: “porque não deixarás a minha alma na morte, nem permitirás que teu Santo veja a corrupção. Fizeste-me conhecer os caminhos da vida, e me encherás de alegria na tua presença” (Salmo 16.10-11; Atos 2.27-28).
Jesus cumpriu essa profecia. E isso demonstra também que Deus não abandona aqueles que lutam por vida digna e em abundância para todas as pessoas. Deus luta junto com quem promove a vida. Deus não está do lado dos que, em nome da ambição e do egoísmo, trazem a morte. Deus está do lado da promoção da vida humana e da vida de sua Criação.
4 JESUS: MAIOR QUE DAVI (vs. 29-32)
Davi escreveu belas poesias, músicas e salmos. Foi um rei que expandiu os territórios de Israel. Mesmo assim, Davi permanece morto. Davi não foi ressuscitado. Davi não está vivo. Quem está vivo é Jesus, o galileu, o nazareno. No Salmo 16.8-11, Davi até profetizou sobre a vinda do Messias; mas Davi não é o messias! O messias é Jesus!
Assim podemos imaginar também sobre outras personalidades: Cristóvão Colombo, Napoleão Bonaparte, Martinho Lutero, Pedro Alvarez Cabral, Dom Pedro I, Dom Pedro II, Princesa Isabel, Ludwig van Beethoven, Pablo Picasso, Immanuel Kant, Isaac Newton etc. Todos importantes – mas todos permanecem mortos! Cristo está vivo! “Deus ressuscitou este Jesus, e disto todos nós somos testemunhas” (Atos 2.32), diz Pedro. Eles viram a ressurreição! São testemunhas oculares da vitória da vida. E agora são testemunhas da vida e não da morte – mesmo arriscando, os discípulos, a própria vida.
Amados irmãos, amadas irmãs,
Pedro experimentou uma grande transformação em sua vida. Há um Pedro antes do Cristo ressuscitado e um Pedro depois do Cristo ressuscitado. Antes, Pedro era um, marcado pela limitação do tempo e pela consciência da morte; agora, Pedro é outro, marcado pela eternidade e pela consciência da vida eterna. Nada poderia segurar Pedro! Ele mesmo foi morto por pregar a mensagem da vida.
De um pescador impulsivo e vacilante, Pedro foi transformado em um homem sábio e corajoso líder das primeiras comunidades cristãs. Em seu arrependimento, houve a possibilidade de renovação e recomeço – a partir da ressurreição de Jesus.
Da mesma forma, Deus quer transformar as nossas vidas. O desejo de Deus é que abandonemos tudo aquilo que gera e produz a morte. O desejo de Deus é que não estejamos do lado dos que violentam, mas do que sofrem a violência – seja ela feita por quem for; o desejo de Deus é que estejamos do lado dos que sofrem e não do lado dos que fazem sofrer; o desejo de Deus é que estejamos do lado dos oprimidos e não do lado dos opressores. Deus quer a vida e não a morte! Estejamos do lado daquilo que traz vida!
Cristo está vivo! Ele não está acima de tudo! Ele está entre nós! Em Cristo, Deus-homem, temos a esperança da vida eterna. Se nem a morte pode nos aniquilar, por que temos tanto medo de falar de Jesus? Por que somos tão resistentes ao anúncio da sua mensagem ao mundo todo? Porque somos fracos e “medrosos” em nosso testemunho?
Aprendamos com essa característica de Pedro: coragem! É preciso coragem! Vamos ao mundo testemunhar que Jesus está vivo! Vamos começar dentro da nossa própria casa – que geralmente é o ambiente de missão mais difícil! Vamos falar da vitória de Jesus sobre a morte! Vamos transmitir isso não como uma imposição, mas como um alegre convite à participação da Igreja – seu próprio corpo na terra. Vamos convidar mais pessoas à comunhão conosco! Convide! Chame! Não desista!
E assim, experimentemos em nossas próprias vidas a transformação causada pela ressurreição. Cristo está vivo não como um vigia a fiscalizar tudo o que estamos fazendo; ele está vivo como esperança a todos aqueles que sofrem nas ruas, casas, escolas, creches, hospitais e outros lugares deste mundo. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os nossos corações e as nossas mentes em Cristo Jesus, amém.
2º DOMINGO DA PÁSCOA | BRANCO | CICLO DA PÁSCOA | ANO A
16 de Abril de 2023
P. William Felipe Zacarias