Dança e graça: simbolos da leveza

Artigo

29/07/2005


Julho é o mês do Festival de Dança em Joinville. Durante dez dias, milhares de dançarinas e dançarinos se apresentam no palco do Centreventos Cau Hansen. Os passos e a ginga de corpo impressionam face a leveza dos movimentos e são acompanhados por coreografias que espelham originalidade e criatividade..

O espetáculo da dança atrai porque os movimentos leves e equilibrados deixam uma sensação agradável, motivo de entusiasmo e de aplauso. Ao som da música e da cadência rítmica, os corpos dançantes dão a impressão de serem como corpos transformados.

Os passos soltos e a beleza das silhuetas contrastam com a rigidez das posturas humanas, contradizem com as leis pesadas que determinam o sistema de vida e de trabalho. A arte da dança, assim como as belas coreografias no palco, estão a serviço da liberdade de expressão. Pessoas livres ajudam na transformação do mundo. Já nos acostumamos a conviver com os dominadores, os quais, para manter o controle, precisam de leis rígidas. A realidade humana não precisa ser exatamente assim como ela se apresenta, ou seja, pesada e cheia de mecanismos de controle. Existem outras saídas. As cargas pesadas da vida cotidiana são símbolos da opressão. Por causa da bondade de Deus, é possível sonhar e respirar um ar leve e diferente. O profeta Isaías expressa esta esperança e fala em acordo com o além que encoraja a resistência contra o pacto da morte (Is. 28, 15).

O mundo desenvolveu um jeito pesado de vida. Jesus criticava os seus adversários, os fariseus, porque queriam impor regras que eles mesmos não podiam cumprir. A postura e o discurso de Jesus foi bem diferente: Meu jugo é suave e o meu fardo é leve. Apesar dos códigos de leis duras e pesadas, a sociedade humana, através dos seus agentes poderosos, é muito rápida e decide de forma muito fácil sobre a aplicação da violência, da guerra, do terror e da morte de vidas alheias. O mundo não foi criado para ser um grande tribunal de cobrança e de depuração das consciências pesadas. O reformador Calvino via o mundo criado por Deus sendo o teatro da glória de Deus. Para os pensadores na Grécia Antiga, o corpo humano era considerado grandeza pesada; na realidade, o corpo era sinônimo de prisão para a alma, o interior humano leve e sublime.

A fé cristã não se alimenta da rigidez da lei. A espiritualidade luterana busca o seu alimento e fortalece a sua existência junto à fonte da leveza da graça e da misericórdia de Deus. A fé das pessoas cristãs rejuvenesce e é fortalecida junto à fonte da água da vida eterna. Diante da vinda do Reino de Deus, vivemos a alegria e a esperança. É alegria que nos dispõe a servir. A missão dos discípulos e das discípulas do Mestre é contrária a todo tipo de opressão. O apóstolo Paulo afirma: Não que tenhamos domínio sobre a vossa fé, mas porque somos cooperadores de vossa alegria (2º Co. 1.24).

As sementes da leveza, por causa da graça de Deus, brotam em toda parte e trazem frutos da libertação diante das pressões que o sistema de produção e de competitividade na sociedade moderna impõe. O testemunho cristão, assim como a confiança em Jesus Cristo tem um efeito de equilíbrio e de não conformidade neste mundo que exige competência e, em especial, lucro. Não deixa de ser uma marca interessante: O Festival de Dança, em Joinville, soma a serviço da leveza da vida e da postura social! Ao Deus da graça, cabe a nossa gratidão!

Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville - SC

Jornal A Notícia - 29/07/2005


Autor(a): Manfredo Siegle
Âmbito: IECLB / Sinodo: Norte Catarinense
Área: Publicações / Nível: Publicações - Artigoteca
Natureza do Texto: Artigo
ID: 7774
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