Desde menino Saul escutava a história de que havia uma linda cidade noutro lado da fronteira onde viviam muitos sábios. Assim que alcançou a idade necessária para poder viajar sozinho, preparou sua mochila, seguindo rumo à cidade desconhecida. Atravessou o rio que separava os reinos. Caminhou por dois dias. Até que, por fim, viu ao longe seu destino sob uma colina. Apressou o passo, mas o caminho tornou-se muito pedregoso, difícil para seguir adiante. Já estava exaustou, quando avistou, à beira da estrada, um lindo bosque com muita sombra. Decidiu parar um instante para descansar. Os pássaros cantam. A brisa soprava levemente. Cochilou. Acordou com a cabeça sobre uma pedra gelada. Aliás, reparou bem... Era uma lápide, onde leu: Aqui descansa Abdul, que viveu 4 anos, 6 meses e dois dias. Ele estremeceu ao perceber que estava num cemitério e tinha dormido sobre uma sepultura de uma criança. Ao lado, viu outra lápide: Yasmin, 3 anos, 9 meses e um dia. Adiante: Islan, 6 anos, 10 meses e 20 dias. Curioso e comovido, passou a ler todas as placas. Assim descobriu que aquele que mais viveu alcançou apenas 11 anos, 1 mês e 15 dias. Tomado por uma dor terrível, sentou-se e chorou. Um velho, que passava pelo lugar, viu o jovem Saul. Aproximou-se e perguntou: Porque você chora? Há algum conhecido seu aqui? Saul respondeu: Não, senhor! Não sou daqui. Não conheço ninguém. Mas, estou indignado que, num mesmo local, estejam enterradas tantas crianças. Que terra amaldiçoada é essa onde morrem tantos pequenos? Meu filho! Continuou o idoso: Eu sou nascido aqui. Não há nenhuma maldição. Na infância, recebemos de nossos pais uma caderneta encapada em couro, como essa que tenho aqui comigo, pendurada no pescoço. Nela, somos desafiados a anotar, na primeira coluna a data, na segunda, o fato ocorrido, na terceira, o tempo que tal atividade nos trouxe intenso prazer, aquilo que podemos dizer: Valeu a pena! Uma descoberta, um beijo, um presente, um encontro, uma oração... Pode olhar aqui... Está tudinho anotado. Quando falecemos, os nossos familiares fazem a soma de nossas alegrias, as quais são colocadas num tempo exato. Por isso, essa menina sob a sepultura que você está assentado: Laís, que viveu “intensamente” 7 anos, 8 meses e 11 dias. Não chore... Dê graças pelas suas alegrias, pois esse é o único e verdadeiro TEMPO vivido. Leia Salmo 90.12.