Cristo Rei

Prédica

19/11/2021

Domingo Cristo Rei
João 18.28-38a
Prezada Comunidade, estimados radio ouvintes da radiowebluteranos.com

Hoje é o último domingo do ano litúrgico, do ano da Igreja e esse domingo tem como nome, Cristo Rei.
Para nós -luteranos e luteranos – soa algo estranho chamar Jesus de rei. Uma das novidades da Reforma Luterana foi a separação entre Igreja e Estado. Para Martim Lutero, cada uma delas é um instrumento de Deus, mas cada qual tem a sua função nesse mundo e que não cabe a igreja governar nem ao estado falar em nome de Deus.

Além disso, a monarquia sempre esteve associada a guerras, invasões, espólio, escravização, dominação. Comparar Jesus a um monarca, é algo totalmente contraditório.

Aliás, já no Antigo Testamento, Deus não queria que o povo de Israel tivesse um rei. Em Juizes 9.5ss, Jotão conta uma parábola em nome de Deus

“Uma vez as árvores resolveram procurar um rei para elas. Então disseram à oliveira: “Seja o nosso rei.” E a oliveira respondeu: “Para governar vocês, eu teria de parar de dar o meu azeite, usado para honrar os deuses e os seres humanos.” — Aí as árvores pediram à figueira: “Venha ser o nosso rei.” Mas a figueira respondeu: “Para governar vocês, eu teria de parar de dar os meus figos tão doces.” — Então as árvores disseram à parreira: “Venha ser o nosso rei.” Mas a parreira respondeu: “Para governar vocês, eu teria de parar de dar o meu vinho, que alegra os deuses e os seres humanos.” — Aí todas as árvores pediram ao espinheiro: “Venha ser o nosso rei.” E o espinheiro respondeu: “Se vocês querem mesmo me fazer o seu rei, venham e fiquem debaixo da minha sombra. Se vocês não fizerem isso, sairá fogo do espinheiro e queimará os cedros do Líbano.”

Em 1.Samuel 8 Deus continua dizendo: O rei os tratará assim: tomará os filhos de vocês para serem soldados; porá alguns para servirem nos seus carros de guerra, outros na cavalaria e outros para correrem diante dos carros. Os seus filhos terão que cultivar a terra dele, fazer as suas colheitas e fabricar suas armas e equipamentos de guerra. As filhas de vocês terão de preparar os perfumes do rei e trabalhar como suas cozinheiras e padeiras. Ele tomará os seus melhores campos, as melhores plantações de uvas, os bosques de oliveiras e dará tudo aos seus funcionários.

No entanto, apesar de todas as advertências, mesmo assim, o povo de Israel queria um rei.

Ao longo da história de Israel, foram poucos os reis que agradaram a Deus. A maioria deles fez o que Deus havia alertado: se desviaram dos mandamentos de Deus. Foram opressores, ditadores, gostavam do luxo e das riquezas e não se importavam com as viúvas e os pobres. Por isso, Deus chamou os profetas para denunciar os reis, que não governavam de acordo com as leis de Deus.
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Quando Jesus nasceu os magos seguiram uma estrela que anunciava o nascimento de um novo rei. Eles viajaram muitos dias até o Palácio do rei Herodes. Mas não havia nenhum novo rei ali.
Na semana da Páscoa, quando Jesus entra em Jerusalém, antes de sua crucificação, Jesus até se deixa chamar de rei, mas em tom de deboche. Um rei pobre, sem exércitos, sem súditos, sem riquezas, montado num jumento, cria de jumenta.
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Portanto, a figura do rei não era simpática nem no Antigo e nem no Novo Testamento. Mas, mesmo assim, um papa chamado Pio XI – a partir de 1922 - instituiu que Jesus deveria ser chamado de Rei e ser pintado com uma coroa sobre a cabeça e assim influenciar a toda a cristandade.

Mas, quais foram as razões para esse Papa fazer isso?

Esse Papa Pio XI (que hoje tem nome de ruas e de colégios católicos) era extremamente conservador e ele queria que a Igreja Católica Romana voltasse a ter uma importância política ao lado dos governos desse mundo.

Sua grande preocupação era com um movimento chamado Positivismo, de Augusto Comte, que questionava a influência da Igreja na sociedade, principalmente na educação oficial. Para o Positivismo, o progresso de um país se constrói com leis que deveriam valer para todas as pessoas, com disciplina e a valorização da razão e do conhecimento humano. O lema: “Ordem e Progresso” vem do positivismo. Para isso, deveria haver uma clara separação entre as funções da Igreja e do Estado, conforme ensinado por Martin Lutero. O Estado deveria ser laico. As pessoas podem ter uma religião, mas não o Estado. Por isso, o Positivismo pregava o fim do ensino religioso nas escolas.

Além disso, havia uma outra preocupação para o Papa Pio XI. As igrejas protestantes da Europa e dos Estados Unidos estavam enviando missionários pelo para a África e a Ásia. Muitas pessoas se converteram para Cristo e seguiram essas igrejas protestantes.

Tudo isso fez o Papa Pio XI criar uma campanha para recuperar seu poder da Igreja Católica e sua influência sobre os governos e a sociedade. Essa campanha tinha a imagem de Cristo como Rei. Ao aceitar o Cristo Rei, se aceitava também o poder da Igreja Católica Romana.

Aqui no Brasil um grupo de católicos chamado Círculo Católico do Rio de Janeiro se entusiasmou com o projeto do Papa Pio XI e já em 1922 começaram a arrecadar dinheiro para a construção de uma “estátua do Cristo”, Depois de algumas ideias, essa estátua foi concluída em 1931 (oitenta anos atrás), que hoje conhecemos como a estátua do Cristo Redentor no Rio de Janeiro. Ela foi erguida no Rio de Janeiro porque era a capital do Brasil.

Mas, depois da morte desse papa, também esse projeto foi perdendo sua força e anos mais tarde o Papa Paulo VI determinou esvaziar o sentido político e determinou que o Cristo Rei fosse lembrado como senhor do Universo e celestial no último domingo do ano litúrgico.

E como podemos unir o texto do Evangelho de hoje com a proclamação de Cristo como Rei?

Podemos ver que nos dois casos se escondia a questão do poder. Para os líderes judeus, Jesus representava uma ameaça ao poder que eles tinham sobre os judeus daquele tempo, e por isso, Jesus precisava ser eliminado. Eles mesmos teriam executado a Jesus, se pudessem, mas as leis romanas permitiam que somente uma autoridade romana poderia condenar alguém a morte. Quando Pilatos pergunta aos lideres judeus: - Que acusação vcs tem contra esse homem?, eles dizem que o importante não é o que ele fez, mas que fosse condenado à morte.

Pilatos então interroga Jesus, pergunta o que ele fez e se ele é o rei dos judeus, e Jesus responde que o seu reino não é desse mundo. Que ele veio a esse mundo para falar da verdade. E a verdade era esse projeto que ele chamava de Reino de Deus, que quer transformar as pessoas a partir da fé em Deus em novas criaturas. O interesse do Reino de Deus não é assumir o poder político, mas transformar a vida das pessoas com a mensagem do amor de Deus. Quando Jesus fala em Reino de Deus ele não se refere a monarquia – como nós a conhecemos – mas a esse projeto de vida solidária, inspirada no amor de Deus.

Depois do interrogatório, Pilatos chega a conclusão que Jesus não representa nenhuma ameaça para o Império Romano e que cometeu nenhum crime. Mas mesmo assim ele não liberta a Jesus e assim ele também se torna culpado pela morte de Jesus.

Portanto, o que une o texto do Evangelho o com a Campanha do Papa Pio XI tem em comum a questão do poder. Os líderes judeus se sentiram ameaçados pelos ensinamentos e pela popularidade de Jesus, e o Papa Pio XI se sentiu ameaçado pelo movimento positivista na política e pelo avanço da evangelização dos missionários protestantes. E nos dois casos, a política e a religião foram usadas para assegurar o poder.

A mensagem de hoje é que o Reino de Deus não está associado aos poderes deste mundo. Jesus não está sentado ao lado de nenhum governante desse mundo. Jesus está sim, acima de todos eles para vigiar suas atitudes. Quem assume a função de governante ou de líder religioso tem uma grande responsabilidade diante de Jesus Cristo. Somente nesse sentido – como alguém a quem todos devem prestar contas – é que Jesus pode ser chamado de o Rei dos Reis.

Na leitura do profeta Daniel nós ouvimos que Deus se compara a um ancião assentado sobre um trono, ao qual se achega o Filho do homem. Foi-lhe dado domínio e glória e o reino [...] o seu domínio é eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído (v. 14). E no livro de Apocalipse (1.5) começa dizendo que Jesus Cristo é o soberano que governa os reis da terra. Ou seja, nem Deus e nem Jesus estão associado aos poderosos, mas os poderes deste mundo haverão de prestar-lhe contas, pois no dia do juízo, Deus vai abrir o livro da vida de cada pessoa e vai verificar quem seguiu os mandamentos de Deus. Isso diz respeito a todas as pessoas, inclusive aos poderosos.

Portanto, quem procura assegurar o seu poder e a sua autoridade usando o nome de Deus, vai ficar decepcionado. A Palavra de Deus não pode ser usada para justificar nenhum tipo de autoritarismo. O Reino de Deus não é assim. Jesus nos ensinou que a autoridade não se impõem, mas se conquista com humildade, com serviço, com compaixão. A mensagem do Reino quer transformar as pessoas e esse mundo, chamando a todas as pessoas para a prática do amor, da solidariedade, da compaixão.

Portanto, a mensagem de hoje não é de consolo mas de orientação para a nossa forma de crer em Jesus. Não devemos confundir Deus com os poderes constituídos deste mundo e nem pensar que Jesus Cristo é Rei e, por isso, está tranquilamente sentado ao lado dos poderosos desse mundo.

Cada um de nós, assim como também os governantes, devemos saber que Jesus é soberano a todos e que ele está atento as nossas atitudes diante do sofrimento dos injustiçados, do cuidado com as pessoas mais pobres e do bom uso da Criação de Deus.

Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus nosso Pai e a comunhão do Espírito Santo fiquem no meio de nós. Amém.
 


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Paranapanema / Paróquia: Curitiba - Igreja de Cristo
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 18 / Versículo Inicial: 28 / Versículo Final: 38
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 65254
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Foi assim que Deus mostrou o seu amor por nós: Ele mandou o seu único Filho ao mundo para que pudéssemos ter vida por meio dele.
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