Correndo sem ver

12/03/2004


 

Acabou o gás! - Eis, o grito que ecoou pela casa. Nossos ouvidos nos fizeram paralisar. Era como se os olhos se fechassem. O que tomara conta dos ouvidos, impôs-se como cortina aos olhos.

Ah, mas justamente hoje! Tinha que ser agora! É que a visita estava por chegar. O almoço se atrasara.

Levantei com o pé esquerdo... Num dia desses, só mesmo ficando de cama.

Há dias em que nada dá certo. E, quando o gás acaba, justamente na horinha em que nada pode falhar, a gente fica sem rumo, nem caminho, sem olhos para ver. Foi o que aconteceu conosco. A visita esperada se aproximava. A comida meio cozida - esfriando sobre o fogão. Eis aí, a fatalidade: acabou o gás. A confusão estava armada!

Mudar o cardápio? Nem pensar! Emprestar botijão na vizinha? Ela saiu! Soluções e impasses guardavam o equilíbrio. E a visita, chegando.

Correndo, falando, se desencontrando, um esbarrando noutro - estávamos a busca de alguma solução, rápida, repentina, como que apocalíptica.

Gás - oh, meu Deus! Preciso de gás!

Uma das visitas assistia a tudo. (Belo espetáculo há de ter sido.) Deve ter olhado para nós. Aberto seus olhos. E, ele, fortão que é, foi-se adonando do botijão. Com passo certeiro, foi à porta e definiu a situação: Vamos à padaria da esquina, vi que lá há gás! Ah, é mesmo..., dissemos envergonhados. Esquecêramos o que sabíamos do diário caminho à padaria. Lá há gás.

E lá foi, às pressas, atrás de 'meu' carregador, meio que querendo ajudar, meio que atrapalhando. Meus olhos estavam fitos na solução: ir de carro até a esquina para ver o milagre: gás!

E haveria? Naquele domingo àquela hora haveria gás, na padaria da esquina. A angustia continuava a martelar no ouvido.

De olho fixo no botijão, com a atenção vidrada na solução lá na esquina, sabendo que tudo atrasaria, que estava tudo atrapalhado naquele dia, que... e que...

Já fui correndo para o carro, às pressas. Até não era nada perto. As portas do carro voaram. O gás, ah, pelo amor de Deus, rápido, o gás, no porta-malas...

De olho vidrado, de ouvido tapado - o mundo se resumia a este um problema: ver o gás, obter o gás.

Enquanto isso, meu visitante me dizia algo. Nem lhe dei olhos. Seria perda de tempo. Ele repetiu. Nem quis ver.

Aí ele me tocou: Oh, olha lá! - O que? Vamos! E já ia empurrando o botijão para dentro do porta-malas. Pressa. Vamos!

Ele sorria, maneiro: Olha lá. Lá, o caminhão de gás. Olha.

Não é que ao nosso lado, pertinho, com música e tudo: um caminhãozão de gás. Foi demais! de não acreditar. Mas, enfim, vi!
 

Conto isso por causa das coisas de Deus. A gente não as vê, nas pressas que se vive. Corre-se. Fica-se estonteado. Olho fixo. Vidrado até. E as coisas de Deus, as pequeninas-grandes soluções passam estão ao lado. E a gente não as vê. Não as entende. Ó Deus, dá-me bons amigos que me ajudem a ver. Dá-me bons olhos, para ver tua as maravilhas. Abre minha vista para tuas doces mensagens que à vista. Dá-me olho de profeta, de profetisa.


Deus amigo de meus olhos. Desculpa essa minha cegueira. Cura-me de minha distraída visão. É como se nada visse. Abre, bem grandes, meus olhos. Estão vidrados, fixos, agarrados em coisas que não têm solução. Que eu veja, ó Deus, as suaves belezas. Em Jesus, amém.

P. Milton Schwantes
 


Autor(a): P. Milton Schwantes
Âmbito: IECLB
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 8116
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