Correção de rumo!

Quando pessoas entram num caminho torto.

17/11/2019

NVI 6 Irmãos, em nome do nosso Senhor Jesus Cristo nós lhes ordenamos que se afastem de todo irmão que vive ociosamente e não conforme a tradição que vocês receberam de nós. 7 Pois vocês mesmos sabem como devem seguir o nosso exemplo, porque não vivemos ociosamente quando estivemos entre vocês, 8 nem comemos coisa alguma à custa de ninguém. Ao contrário, trabalhamos arduamente e com fadiga, dia e noite, para não sermos pesados a nenhum de vocês, 9 não porque não tivéssemos tal direito, mas para que nos tornássemos um modelo para ser imitado por vocês. 10 Quando ainda estávamos com vocês, nós lhes ordenamos isto: Se alguém não quiser trabalhar, também não coma. 11 Pois ouvimos que alguns de vocês estão ociosos; não trabalham, mas andam se intrometendo na vida alheia. 12 A tais pessoas ordenamos e exortamos no Senhor Jesus Cristo que trabalhem tranquilamente e comam o seu próprio pão. 13 Quanto a vocês, irmãos, nunca se cansem de fazer o bem. (2 Ts 3.6-13)


Introdução
O contexto histórico em que vivemos, a sociedade na qual estamos inseridos e a Igreja que nos instrui, são grandezas extremamente dinâmicas! Como as coisas mudam rapidamente! Usos, costumes, tradições e mesmo as “verdades” entram no turbilhão do tempo e são liquefeitos. Acredito que isto justifique o conceito de “sociedade líquida” em uso em nossos dias. Também acredito que seja por isso que não gostamos muito de seguir regras. São como areia na engrenagem estas regras. As igrejas estão cheias delas: não pode isso, não pode aquilo, deve ser assim, deve ser assado... Parece que na vida normal as pessoas nem estão interessadas em regras, mas basta entrar na igreja, ou falar com alguém que é da igreja, que o quadro muda. O fundamentalismo religioso passa a correr na veia das pessoas céticas à fé cristã equilibrada, e despejam o veneno da santificação pelo comportamento, e não pela fé.
Entre as tantas questões que se tornam regras ou deixam de serem regras observadas na esfera de influência do ensino cristão na sociedade, está a do trabalho. O Estado que gere a sociedade quer ser considerado laico, no entanto a tradição cristã mostra que sociedade e Estado igualmente necessitam se posicionar diante daquilo que é necessário para todas as pessoas: o trabalho.


Como devemos agir com pessoas cristãs que marcham fora do passo?
A carta à Igreja em Tessalônica é de autoria dos três missionários itinerantes sobre os quais ouvimos na semana passada: Silvano, Timóteo e Paulo. A comunidade cristã dos tessalonicenses foi fundada por Paulo na sua segunda viagem missionária, isso por volta do ano 50. Quando, alguns anos depois, recebem as duas cartas a eles destinadas, estes cristãos parecem estar vivendo uma severa perseguição.

De fato, nesta época a decadência do Império Romano em seu sistema sócio-político, favoreceu o crescimento da cristandade. O povo cristão, porém, batia de frente com o politeísmo romano que, com seus diversos deuses, procurava manter todas as pessoas com as mãos amarradas. Com isto o culto cristão foi proibido e censurado. Ocasionalmente cristãos eram perseguidos e mortos e, mais tarde, a perseguição com morte se tornou regra (incluindo a ação de Saulo, Atos 8.1-3).

Neste contexto, com a igreja cristã sendo dispersada com violência e covardia, surge um “efeito colateral” em relação ao trabalho. A argumentação era lógica e simples: diante dos sofrimentos, e entendo que Jesus voltará em breve, não há mais necessidade de trabalhar; na igreja cristã podemos viver da partilha do que temos.


Lidando com o desregramento destes dias em que nada dá certo.
O trio que escreve a carta começa esta perícope ordenando: “...afastem de todo irmão que vive ociosamente e não conforme a tradição...”. A palavra dura é consequência da não observação de uma orientação anterior, na primeira carta, quando se instruiu a respeito da vida na sociedade em relação à segunda vinda de Cristo (1Ts 4.13-5.11). E, segundo a carta, afastar-se destas pessoas ociosas, não é atitude de falta de amor, mas tem a função pedagógica de que modifiquem sua conduta.

Reiteradamente a comunidade cristã é motivada a trabalhar, a produzir, a se esforçar, a produzir frutos. Desta forma a comunidade expressa a fé. É uma fé ativa no amor. O trabalho árduo dos apóstolos está relacionado ao anúncio do Evangelho. O testemunho que Lucas dá de Paulo afirma: “...vocês sabem que eu trabalhei com as minhas próprias mãos e consegui tudo o que eu e os meus companheiros de trabalho precisávamos. Em tudo tenho mostrado a vocês que é trabalhando assim que podemos ajudar os necessitados. Lembrem das palavras do Senhor Jesus: “É mais feliz quem dá do que quem recebe.”” Atos‬ ‭20.34-35‬ ‭NTLH‬‬‬‬‬‬

Embora se leia no v.9 que as pessoas vocacionadas para o serviço cristão tenham o direito de receber o sustento por este trabalho exclusivo, não devem ser um peso. Isto da mesma forma como as pessoas ociosas não devem pesar sobre a comunidade esperando pelo sustento até o fim do mundo. Afinal, como se vê em Gênesis 3.19 e como isso foi assimilado na Talmude, só come que trabalha.


Sempre optar pelo amor e pelo equilíbrio.
Se em todo este texto – e em tantos outros textos com regras para a vida cristã – há um ponto forte, há um tom dominante, então é este último: “...nunca se cansem de fazer o bem.” (v.13).

“Querida Catarina, depois de um longo dia de trabalho, estou aqui sentado diante do caneco de cerveja e chego à conclusão: nosso querido e bondoso Deus irá fazer todas as coisas”.

Longe de ser um álibi para a boemia e o ócio, Martin Luther, ao escrever este bilhete para sua esposa, aponta que o trabalho pode ser desgastante, entediante e até opressivo, mas merece ser festejado como uma dádiva. Momentos de lazer após o trabalho, já se ligar no feriado que está à frente, são sinais de confiança em Deus e em Sua providência para nossa vida.

Entre o pensamento malemolente do “se Deus quiser” e o arrogante “se eu não fizer, ninguém fará”, existe a liberdade de crer e confiar. Não somos destinados a escravos do trabalho e sim pessoas libertas para “fazer”. Podemos fazer tudo aquilo que nossas forças permitem, com gosto, sem “empurrar com a barriga e com capricho. Além do mais, podemos confiar que Deus faz também tudo o que está ao seu alcance. Enfim, é Ele quem restaura nossas forças. Nos dá ânimo e nisso estamos tão próximos de sua proteção e cuidado quanto quando estamos trabalhando. Certamente isto traz a perspectiva de realização pessoal. Acredito que é por isso que na Bíblia temos este ensino: “Quem não trabalha, não come!” O trabalho justo, honesto e que sustenta é resposta de gratidão aos cuidados que Deus proporciona às suas filhas e aos seus filhos.

Crer em Jesus, liberta. Ele não nos permite a “preguiça religiosa”, mas a confiança; não a estafa, mas a motivação; não a inércia, mas a resistência; não o medo de enfrentar os desafios, mas o engajamento; não a desculpa, mas pró-atividade.

“Se o Senhor Deus não edificar a casa, não adianta nada trabalhar para construí-la. (…) Não adianta trabalhar demais para ganhar o pão, se levantando cedo e deitando-se tarde, pois é Deus quem dá o sustento aos que ele ama, mesmo quando estão dormindo.” Salmo 127.1-2 NTLH


Conclusão
Provavelmente temos hoje uma situação até mais grave que a vivida nos tempos paulinos, ou seja, de gente se deitando nas cordas dos irmãos da Igreja porque pensavam que Jesus voltaria em breve. Ele virá em breve! Esta é a notícia do tempo de Advento que se avizinha. Mais grave é procurar emprego, e não encontrar. Quantas pessoas procuram por trabalho, e não sabem mais o que inventar para sobreviver.

Tomo emprestado as palavras da minha colega Pastora Engelhardt: A situação de não trabalhar não é motivo para excluir nenhuma pessoa. Quem vive situação de desemprego [ou sub-emprego] precisa, sim, de suporte da comunidade, pois quer trabalhar e comer seu pão com o fruto do seu trabalho. Mas o ensino se dirige a pessoas que se baseiam numa compreensão equivocada da vinda do Senhor e querem viver sem trabalhar. (Cf. PL 43, 2018, p. 344)

Outros movimentos hoje assumem o centro do palco da vida. Muito menos pessoas se ocupam com a questão da vinda do Senhor enquanto muito mais pessoas passaram a confiar no tamanho do Estado, dos órgãos governamentais e em partidos políticos que, ao seu ver, poderiam lhes sustentar a vida até o seu fim. É necessário perseguir uma correção de rumo, evitando que mais pessoas entrem no caminho torto de querer comer sem trabalhar.

Nossa vida é dignificada pelo trabalho e sustentada pela graça divina. Por isso, e por fim, “recomendo que tomem cuidado com aqueles que causam divisões e colocam obstáculos ao ensino que vocês têm recebido. Afastem-se deles. Pois essas pessoas não estão servindo a Cristo, nosso Senhor, mas a seus próprios apetites. Mediante palavras suaves e bajulação, enganam o coração dos ingênuos.” Podemos nos alegrar com o número de pessoas que, entre nós, seguem os ensinos da Palavra; “mas quero que sejam sábios em relação ao que é bom, e sem malícia em relação ao que é mau. Em breve o Deus da paz esmagará Satanás debaixo dos pés de vocês. A graça de nosso Senhor Jesus seja com vocês”. (Rm 16.17-20).

Amém!
 


Autor(a): Pr. Rolf Rieck
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Rio de Janeiro - Martin Luther (Centro-RJ)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: Tessalonicenses II / Capitulo: 3 / Versículo Inicial: 6 / Versículo Final: 13
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 54148
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Tu és o meu Senhor. Outro bem não possuo, senão a ti somente.
Salmo 16.2
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