Coríntios 10.1-13 - Falsa segurança e verdadeira certeza

Prédica

12/01/1958

FALSA SEGURANÇA E VERDADEIRA CERTEZA
Coríntios 10.1-13 

Reunidos aqui na igreja compreendemo-nos como comunidade cristã e confessamos que Jesus Cristo é o nosso Senhor. A palavra que aqui ouvimos, porém, fala do que somos lá fora, fala de nossa atitude dentro do ambiente em que temos o nosso trabalho e a nossa vida. O ambiente, o mundo em que vivia o apóstolo Paulo e os cristãos aos quais dirigiu estas palavras era um mundo pagão, um mundo que tinha uma infinidade de ídolos, e a vida toda dos homens estava relacionada com a idolatria. Não havia, p. ex., almoço, banquete ou qualquer festividade, sem que se fizesse uma oferta aos deuses. E neste mundo viviam os cristãos. Mas, também o nosso mundo tem os seus ídolos. Se Deus é aquele ao qual pertence o primeiro lugar em nosso coração e na nossa vida, então é evidente, que este lugar para um número muito grande de homens em nossos dias já está ocupado por outras coisas e valores. Tudo o que há no mundo, como cristãos podemos ter e usá-lo como boa dádiva de Deus. Mas, toda a boa dádiva de Deus, sob as mãos do homem, pode transformar-se em ídolo, ao qual adora, ao qual serve, para o qual vive. A dança em redor do bezerro de ouro, a preocupação pelos bens terrestres, a ambição do poder e da glória, o orgulho próprio — tudo isso são poderes contra os quais também o cristão não está imunizado. Ele vive em meio do mundo, e sem que talvez o perceba, pode suceder que ele se deixa assimilar ao mundo, aceitando para si as regras e as leis que valem no mundo, mas não valem no reino de Cristo. E é diante desta constante tentação que ouvimos aqui a palavra de alerta do apóstolo Paulo: Quem julga estar de pé, tome cuidado que não venha a cair. 

Paulo dirige-se a um grupo na comunidade da grande cidade de Corinto, cristãos que se consideravam fortes na fé, que viviam pelo lema: Tudo me é permitido (1 Co 10.23), como se não houvesse mais tentação para eles; julgavam estar de pé, seguros e firmes, como se nada lhes pudesse acontecer. 

Há homens cristãos que dão esta impressão de se considerarem infalíveis, e para os quais aparentemente não existe a prece: Não nos deixes cair em tentação. Mas é uma falsa segurança. A fé cristã não é um hábito que uma vez adquirido nunca mais poderíamos perder. Ao contrário, é diariamente que temos que lutar pela fé; é diariamente que temos que pedir e suplicar que ela nos seja dada e fortalecida, a fé que Cristo é o meu Senhor e que em suas mãos unicamente está o meu destino. O fato de pertencermos à comunidade cristã, de termos sido batizados, de participarmos na Santa Ceia não nos leve a esquecer que estamos em caminho ainda e não no fim de nossa jornada. E enquanto estamos em caminho, temos todo o motivo de sermos vigilantes e não nos entregarmos a uma falsa segurança, porque também hoje há forças e poderes que tudo fazem para separar-nos de Cristo. Por isso : Quem julga estar de pé, tome cuidado que não venha a cair. Sim, pode cair também o cristão, se em lugar da certeza, que provém da confiança em Deus, confia em si mesmo, na sua própria força e segurança. 

Paulo lembra um fato ocorrido com o povo de Israel quando fora libertado do jugo do Egito. Todos eles participaram da ação salvadora de Deus; o povo inteiro saira do Egito, con-duzido por Moisés; todos eles passaram pelo Mar Vermelho; todos eles, de um modo maravilhoso, foram mantidos durante a peregrinação pelo deserto. Mas, nem todos chegaram ao fim da jornada, nem todos alcançaram a terra da promissão, mas perderam-se no caminho, devido à sua desobediência, devido à sua troca de Deus por um ídolo. Apesar de serem filhos de Abraão, apesar de pertencerem a Israel, o povo eleito, apesar de tudo o que Deus havia feito, eles caíram no caminho. Deus é o Senhor que não se deixa desprezar. 

E esse fato o apóstolo lembra aos cristãos. Também nós estamos em caminho ainda. Que não nos sintamos seguros, infalíveis, neste caminho; que não confiemos em nós mesmos, em nossa força, nossa fé, nossa fidelidade! Não conhecemos o futuro e as situações que ainda teremos de enfrentar. Seria ousadia querermos garantir: Eu manterei fé e fidelidade até o fim, em todas as situações, no perigo e na perseguição. Seria uma falsa e perigosa segurança, que se baseia em nós mesmos, no que nós somos e podemos, longe da verdadeira certeza da fé que está sempre ligada à humildade perante Deus. Quem julga estar de pé tome cuidado que não venha a cair — esta palavra dirige-se contra toda esta falsa segurança. Mas ela não significa que nós tivéssemos motivo de viver em dúvida e incerteza. O mesmo apóstolo Paulo que aqui tão seriamente nos adverte contra a falsa segurança, deu-nos também o hino de júbilo pela certeza da fé: Eu estou certo de que nem a morte nem a vida, nem anjos nem autoridades, nem coisas do presente nem do porvir, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor. (Rm 8.38 s.) Em lugar da falsa segurança é nos oferecida esta verdadeira certeza da fé, na qual não olhamos para nós mesmos, para o que somos e podemos, mas olhamos para Deus e para o que Ele tem feito por nós, confiando em sua palavra e em suas promissões. E Deus é fiel. Em Jesus Cristo Ele nos mostra a sua fidelidade, e unicamente esta sua fidelidade a nós todos, que nos acompanha do começo até o fim, que está conosco todos os dias, só ela pode ser a nossa confiança, a nossa certeza. Cristo é maior do que todos os poderes, e Ele já venceu todos os inimigos. Por isso não precisamos ter medo algum no nosso caminho. Mas tudo então importa que com Ele fiquemos, que não escolhamos os nossos próprios caminhos, mas nos deixemos guiar por Ele, por sua palavra. Então também na escuridão não nos entregaremos ao desespero, mas teremos a certeza da fé que no fim em todo o caso estará a vitória — não a nossa, mas a vitória de Cristo, da qual Ele nos faz participar. 

Que nos seja dado vivermos também nós nesta certeza: Nada pode separar-nos do amor de Deus em Jesus Cristo, porque Deus é fiel, e eu posso confiar em sua fidelidade.

Pastor Ernesto Schlieper

12 de Janeiro de 1958 (1o Domingo após Epifania), Rio de Janeiro 

Veja:

Testemunho Evangélico na América Latina

 Editora Sinodal

 São Leopoldo - RS

 


Autor(a): Ernesto Theophilo Schlieper
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Epifania
Perfil do Domingo: 1º Domingo após Epifania
Testamento: Novo / Livro: Coríntios I / Capitulo: 10 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 13
Título da publicação: Testemunho Evangélico na América Latina / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1974
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 19721
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