Corais - uma tradição secular no Vale do Taquari

01/12/1999

Corais - uma tradição secular no Vale do Taquari

• Rui Bender •

O canto coral é uma terapia para mim, admite Werno Lohrnann, regente de um coro misto e assessor cultural do prefeito de Teutônia (RS). Para mim também é importante por causa do encontro com pessoas que isso proporciona, acrescenta Waltraud Wartschow, regente de um coro da Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas (OASE) de Teutônia e professora de canto numa escola municipal. Waltraud orgulha-se de ser autora do hino de Teutônia. Tanto Werno quanto Waltraud são elos de uma tradição que remonta aos tempos da imigração alemã no século passado: o canto coral. Entre as inúmeras tradições que os descendentes de imigrantes alemães herdaram de seus antepassados destaca-se sobremodo o canto coral.

Nas primeiras décadas da colonização alemã no Rio Grande do Sul, o canto já era um hábito nas famílias. Os pais ensinavam a seus filhos os cantos da sua terra natal. O canto coral a quatro vozes surgiu nas décadas de 1850 e 1860. Naquela época, nasceram vários coros nas diferentes linhas e pecadas de todo o vale do rio Taquari, muitos dos quais sobreviveram a duas guerras mundiais, atesta Werno. Existem hoje em Teutônia coros com quase 120 anos de vida.

Vozes

No início, os coros eram constituídos apenas por vozes masculinas, os chamados coros masculinos ou coros de homens. Impediam a participação das mulheres naqueles tempos as enormes distâncias que os cantores tinham que percorrer a cavalo para se reunir. Somente no início do século XX surgiram, em número reduzido, os primeiros coros mistos e, mais tarde, os coros de senhoras. Estes coincidem com a fundação dos primeiros grupos de OASE.

Para preservar e fortalecer o canto coral, as sociedades de cantores promoviam anualmente um ou dois bailes, para os quais convidavam três ou quatro coros das redondezas. Os coros visitantes vinham ao baile com suas bandeiras, que eram conduzidas por porta-bandeiras, lembra Werno. Na entrada do salão, os visitantes eram recebidos pelo grupo local com sua respectiva bandeira. As duas bandeiras saudavam-se então simbolicamente. Ao iniciar a hora cultural, cada coro apresentava dois ou três cantos, geralmente em língua alemã. Esses bailes tinham um cunho puramente cultural. Por volta da meia-noite, os coros apresentavam-se novamente.

Regentes

Antigamente, os regentes eram quase sempre os professores das localidades, pois estes tinham formação musical. Além de regentes, também eram organistas nas comunidades. Atendiam coros em localidades distantes, para onde se locomoviam a cava-lo. Depois da Segunda Guerra Mundial, eles foram substituídos por professores sem formação musical. Isso significou a paralisação do canto nas escolas e, consequentemente, a falta de renovação entre os cantores. Por sua vez, os regentes exerciam sua função até onde a idade ou a saúde permitissem. Houve regentes que permaneceram ativos durante mais de 60 anos, como por exemplo Osvino Heinrich e Leo Winkel. Este último regeu o coro de Fazenda Lohmann durante 65 anos, conta Wemo.

Werno reconhece que é preciso preocupar-se hoje sempre mais com a participação dos jovens no canto coral. A maioria dos cantores atuais tem acima de 40 anos de idade. Waltraud constata que não se canta mais nas escolas de 12 Grau, porque o canto foi excluído do currículo. Precisa acontecer uma renovação também entre os regentes. A falta de regentes nas últimas décadas obrigou os poucos em atividade a assumirem vários coros. Isto contribuiu para a queda na qualidade do canto. Wemo afirma que o nível dos coros hoje pode ser considerado médio. Felizmente, novos regentes estão despontando e assumindo o posto daqueles que, por razões de idade ou saúde, estão entregando a batuta.

Aperfeiçoamento

Tanto Werno quanto Waltraud asseguram que o aprimoramento técnico dos cantores e regentes é muito acanhado. Há interesse para o aperfeiçoamento, mas a situação financeira atrapalha. Os interessados nem sempre têm condições para bancar um curso de aprimoramento. Werno e Waltraud atestam que a prefeitura de Teutônia felizmente investe no canto coral. Mantém até uma escola de música para cantores e instrumentistas. Mas não somente o aprimoramento é importante, também a renovação do repertório, colocam Werno e Waltraud. Nos últimos anos, os coros afastaram-se do folclore alemão e passaram a ensaiar, cada vez mais, arranjos de autores brasileiros.

Existem hoje em todo o vale do Taquari 100 coros mistos, 33 femininos e 11 masculinos. Werno afirma que nem todos os coros em atividade estão cadastrados, de forma que pode haver mais de 150 grupos em todo o vale. Só no município de Teutônia há 45. Não há registro de uma densidade tão alta de coros em outras regiões do Rio Grande do Sul. A maior parte tem vínculos com a IECLB; são coros de OASE ou de sociedades de cantores ligadas às comunidades luteranas. Também existem alguns coros de famílias; por exemplo, da família Osterkamp.

Alguns desses coros estão filiados à Liga de Cantores do Alto Taquari, que foi fundada em 12 de maio de 1951. Esta Liga promove encontros a cada dois anos (anos ímpares). Com sede em Teutônia, ela registra atualmente duas dezenas de coros afiliados. Já foram bem mais no passado.


O autor, jornalista, é assistente editorial na Editora Sinodal


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Autor(a): Rui Bender
Âmbito: IECLB
Área: Celebração / Nível: Celebração - Música
Título da publicação: Anuário Evangélico - 2000 / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1999
Natureza do Texto: Artigo
ID: 33059
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