Conviver ou apenas suportar?

15/05/2011

Na igreja cristã as indicações bíblicas previstas para leitura e mensagem giram em torno dos acontecimentos de páscoa, a morte e a ressurreição de Cristo e suas conseqüências para os primeiros cristãos. Uma destas palavras bíblicas indicadas para este fim de semana sugere a conhecida palavra do livro de Atos dos Apóstolos 2.42-47. Lá se descreve a convivência fraterna daquela gente que abraçou a nova fé. Os cristãos das primeiras comunidades não se reuniam tão somente para os cultos, mas também muitos outros momentos da vida, inclusive bens e propriedades eram partilhados.

Arthur Schopenhauer, crítico severo da sociedade e cultura de sua época conta uma história possivelmente conhecida de muitos. Ele fala de uma sociedade de porcos-espinhos, onde partiu a ordem de todos se aproximarem o máximo possível nas noites frias de inverno. Se não o fizessem havia o risco de morrerem de frio nas noites geladas. A proximidade dos corpos manteria o calor e afastaria o risco de morte. Assim o fizeram os porcos-espinhos, mas não demorou e começaram as reclamações. Nervosos os espinhos dos porcos ficavam ainda mais ouriçados e, consequentemente, feriam um ao outro. Chateados decidiram se afastar, mas as noites frias os obrigaram a ficar próximos, desde que respeitada uma determinada distância, o que manteria o calor dos corpos e eliminaria o perigo de morrerem congelados.

O autor desta história conclui que, a exemplo dos porcos-espinhos, a sociedade humana também aproxima as pessoas, mas peculiaridades próprias de cada um faz esta convivência apenas suportável. O que mantém os seres humanos próximos é a pura conveniência, nada mais do que isso. Esta visão bastante crítica e até negativa de Schopenhauer não deixa de revelar um aspecto real e verdadeiro. Quantas pessoas simplesmente se aproximam de outra, justamente para conseguir alguma vantagem para si, para arrumar o seu lado na vida?

Convivência saudável pressupõe mais do que apenas levar vantagem. É justamente nisso que a vida comunitária em Atos dos Apóstolos é um enorme desafio e questiona relações em que sobressaem interesses egoístas. A sociedade dos primeiros cristãos é fruto de um acontecimento extraordinário e comprometedor. A morte e ressurreição de Jesus Cristo, ou seja, a vitória da vida dá força à palavra e à ação de Jesus. Conviver é para os primeiros cristãos muito mais do que apenas estar junto por conveniência. Tem a ver com o profundo desejo de cuidar do próximo e, consequentemente, se deixar cuidar. E este cuidado não pressupõe estar próximo apenas para satisfazer interesses egoístas. Em sua palavra e em sua ação Jesus Cristo, o Filho de Deus compromete-se com a vida de sua criatura. Em vez de condenação Deus oferece salvação.

Será tudo isso que os primeiros cristãos experimentaram um sonho irrealizável? Pura ficção? Cada vez mais os relacionamentos humanos precisam ser comprometedores e não podem mais querer satisfazer interesses próprios e imediatistas. Cada vez mais o que fazemos ou deixamos de fazer tem conseqüências benéficas ou prejudiciais para o todo de nossa sociedade humana, inclusive para a sobrevivência de nosso planeta.

Dietmar Teske – Pastor Sinodal
 


Autor(a): Dietmar Teske
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sul-Rio-Grandense
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 8783
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