Tobias Mathies
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O início do século 21 mostra uma nova consciência perante alguns temas básicos. Todas as preocupações são direcionadas para problemas sociais, preservação do meio ambiente e construção de valores humanos.
A Igreja, como uma instituição preocupada com a vida, tem um papel fundamental quando estabelece temas para serem trabalhados. Todas as atividades que são realizadas na instituição religiosa são propostas de comunhão e inserção social. Como um agente transformador, a comunidade é responsável por propor um mundo ideal que se quer viver. “Os valores pregados por Jesus Cristo são o caminho da verdade, justiça e igualdade. Quando somos membros de uma comunidade estamos clamando por dignidade. As pessoas precisam ter a consciência de que fazem parte de uma proposta que promove a vida”, declara o pastor Nilson Hermes Mathies.
Para entender o que é fazer parte de uma nova consciência, de responsabilidade com o próximo e de preocupação com o futuro, as paróquias buscam propostas modernas e cheias de reflexão espiritual. A contribuição voluntária, como um dos debates, é uma proposta de engajamento a partir de um olhar crítico da sociedade. “A contribuição é uma oferta de gratidão. É voluntária e espontânea. A finalidade é agradecer a Deus por tudo que temos e somos. Com isso, preparamo-nos para sair do egoísmo e passamos a nos co-responsabilizar com o que está a nossa volta”, explica o pastor Raul Wagner, presidente da Comissão de Estudo e Implantação da Contribuição Voluntária no Sínodo Vale do Itajaí.
A Paróquia São Marcos, em Pomerode/SC, começou a discutir o tema em 2007. O presidente da paróquia, Ildo Hoeft, afirma que um ano depois já percebe uma mudança e um sentimento diferente nas comunidades. “O trabalho é difícil. Quando queremos mudar uma cultura precisamos ter paciência, cautela e muito entendimento. As pessoas não confiam facilmente. Mas para isto, como em qualquer outra causa, é preciso ter persistência e motivação. Ter um grupo unido e engajado que faz visitas e que chama para o compromisso”.
Em Itapema, uma paróquia com pouco mais de 500 membros, começou-se a trabalhar a questão em 1998. O pastor Geraldo Schach conta que a pregação da palavra, o engajamento das lideranças e a persistência são fundamentais. No início, os membros achavam que o método iria assustar as pessoas e provocar uma evasão. Hoje, 10 anos depois se constata o contrário. “Quando paramos de discutir quem paga ou não paga, sobrou-nos o dobro de tempo para discutir assuntos estratégicos de edificação de comunidade, trabalhos missionários e formação de lideranças”.
O Novo Testamento conta que a contribuição na Igreja tinha a tríplice finalidade de manter a instituição, sustentar os missionários e auxiliar os pobres. Para o pastor Raul Wagner, a contribuição voluntária não dá o direito de não contribuir. “Ela dá a liberdade de cada um contribuir conforme tiver proposto em seu coração”.
Os resultados são visíveis, declaram os entrevistados. Todo o perfil da comunidade muda. Com a contribuição voluntária, as pessoas se sentem compromissadas, não só com a causa da igreja, mas também com os problemas da rua, cidade ou planeta. “Quando se participa ativamente das atividades comunitárias, os valores de vida são claros e compreendidos. É aí, que também surgem a indignação e a preocupação com o mundo que vivemos”, observa o pastor Nilson Hermes Mathies.
Para Schach, o envolvimento com causas sociais e missionárias aumentou nos últimos anos. Primeiro começou com campanhas de despoluição do rio Itapema, depois participaram de protestos para a preservação da Mata Atlântica. Hoje, os membros assumiram um compromisso com um centro de dependentes químicos. “De alguma forma somos convidados a fazer a diferença do mundo”.
Contribuição voluntária é oferta de gratidão. É missão – é a fé em Deus – assumindo o compromisso com a vida digna e abundante para todos. É amor a Deus e ao próximo. “Quando a Igreja cativa os seus membros e consegue transmitir o seu conhecimento, há, sem dúvida, o início de uma nova consciência que vai ajudar a mudar o mundo em que vivemos. Simplesmente, porque percebemos que fazemos parte dele”, finaliza Mathies.